Gabriel Chalita
Cínico
Palavras profundas até dão medo.
Ignoro o que significam,
mas não digo.
Finjo saber.
Mexo a cabeça:
concordo
ou não.
Rio e vou-me embora.
Com jeito de sabido.
Ver o que se vê todos os dias e, ainda assim, ver.
E, ainda assim, não perder a capacidade de êxtase...
Nem de indignação.
Não entendo a tristeza como ausência de felicidade. Elas coexistem.
Talvez, a tristeza seja apenas ausência de alegria.
Sacrifícios por amor têm menos dor.
Há muito a construir todos os dias...
Sinceridade, coragem e amor fazem toda a diferença.
Cada um tem de experimentar o território sagrado do silêncio e da solidão.
E cada um, para existir - de fato -, tem de dar conta do próprio vazio.
A fidelidade se nutre do alimento do cuidado, da permanência, da reinvenção.
Os amigos ou amantes têm de reinventar os sentimentos, para que eles não se percam nas esquinas da mesmice.
Sem entender o que é o fracasso, olhamos lacrimosos ou invejosos os sem-número de sorrisos na aparente face da vitória que mora no outro quarteirão.
É triste como a frivolidade tomou conta das relações, sejam afetivas, sejam profissionais.
Fala-se o que se deve, não o que se sente.
Já fiz coisas que não quis por não saber dizer não.
Já fiz coisas que quis e das quais me arrependo.
Já deixei de fazer o que devia por medo de magoar e já fiz o que não devia apenas para agradar.
O que é maior: os que escalam a montanha ou a montanha? Os barcos que saem ou o oceano que os recebe?
Somos todos pequenos e, paradoxalmente, imensos.
Quem determina o belo e o feio?
A mais linda, o mais belo?
E em que idade?
A idade do entardecer é tão bela quanto a idade do amanhecer.
A beleza não é qualidade própria das coisas.
Ela existe no espírito que as contempla, e cada espírito percebe uma beleza diferente.
Se choramos os medos que nos atormentam, é porque as tormentas são mais fortes que nossa resistência.
O tempo é como o rio que, inexoravelmente, ruma ao mar.
E o rio, às vezes, frequenta cenários deslumbrantes e não pode parar, nem assim, para contemplá-los melhor.
Outras vezes, penetra em paragens desconcertantes, incomodativas, e tem de percorrê-las sem o tempo da pressa.
É o curso. É o tempo. Preciso e feliz. Desconhecido.
É preferível partir a conviver com a hipocrisia.
É preferível ver de longe a frequentar os bastidores da avareza humana.