Gabito Nunes
Se você não quer saber a verdade, faça como eu, não pergunte. Apenas abra caminho, sorria e aguente o tranco.
(Não pode ser verdade)
Ela sempre foi assim, a minha garota. Pró-ativa e descrente na força do acaso. Quando sentia algo mudando, se antecipava e mudava tudo ela mesma.
(Não pode ser verdade)
Na hora, eu quis perguntar se tinha algo a ver com outra pessoa, mas quando estão nos abandonando ninguém nunca menciona nome de terceiros, sempre dizem nada ter a ver com outras pessoas, como se não existisse mais ninguém na cidade. E três semanas depois já estão num relacionamento sério, segundo alguma rede social que você precisará suicidar seu perfil se quiser passar os dias como um cidadão com os batimentos cardíacos moderados e operacionais.
(Não pode ser verdade)
Quando há sol e você tem um monte de gente pra conversar, fica fácil de suportar. O brabo é pelas dezoito horas, quando a noite vem.
(Não pode ser verdade)
Talvez eu seja algum tipo de oficina de homens que sofreram maus tratos de algum momento do relacionamento anterior. Quem sabe eu compre um espaço no jornal e coloque um anúncio com a descrição dos serviços oferecidos, pois claramente meu negócio está indo bem. Deveria existir uma parte no meu cérebro, um órgão qualquer, que regule as propagandas enganosas que chegam à tela do meu córtex, que selecione melhor o que vai me tirar o ar, já que que auto-censura nunca foi meu forte.
(Eu já sabia)
Acho que é por esta razão que as pessoas tanto associam o amor à mágica. Às vezes alguém me mostra um pouco dele, e depois o faz desaparecer numa cartola. E eu me pergunto: ei, como você consegue fazer isso?
(Eu já sabia)
Desculpa por agir feito uma diabinha sempre espetando com um tridente nossos ocasionais dias de sossego.
(Eu já sabia)
A favorita do meu MP3 Player para longos percursos é “You Can’t Always Get What You Want”, dos rapazes dos Stones. Você não precisa de análises, conselhos ou guias, quando tudo se resume naquele refrão te dizendo Você não pode ter tudo aquilo que você quer. Mas você pode tentar, às vezes.
(Tudo um dia pode acabar)
Nem sempre, por vezes quase nunca, você conseguirá as tralhas materiais que cobiça, o patamar social, ou as pessoas que te fazem bem por perto. Elas podem morrer, afogar-se na inconsciência de um Alzheimer, chafurdar em alguma droga, jogar-se de uma janela alta, ou simplesmente decidir que não querem mais ficar perto de você.
Tudo um dia acaba. Assim como o tênis velho que, de tempos em tempos, abre espaço para um com cheiro de novo. Que continuará ensinando – andar não significa perseguir.
(Tudo um dia acaba)
Embora não fosse muito afetivo, sempre tinha uma frase amena de carinho ou correção, e abraços silenciosos de sobra.
(O que falta aos jovens.)
Traga cigarros, um sorriso improvisado e um pano pra grama que caiba nada mais que nós dois.
(Campos de morango pra sempre)
Ficar comigo na teoria pode ser mais doce que na prática, mas você vai se acostumar. Eu vou me acostumar. A gente se acostuma com tudo. Você vai ver.
(Campos de morango pra sempre)
E o engraçado é que nunca choro na frente dele, ele deve me achar uma dinossaura insensível.
(Tempo + espaço = sinto sua falta)
Preciso de quem amo para compartilhar tudo aquilo que sonhei. Ou não faz sentido.
(Tempo + espaço = sinto sua falta)
A gente sonha sozinho pra depois realizar com alguém. Complicado isso.
(Tempo + espaço = sinto sua falta)
Do que eu tenho medo? Deixa eu ver. Sei lá, de repente de chegar um dia e ver que foi tudo em vão, que não valeu a pena, cada gesto ou cada ação, cada investimento e concessão.
(Tempo + espaço = sinto sua falta)
Acho que tenho medo mesmo é dela inteira, mais do que, sei lá, de assalto ou de avião. O que é estranho, porque ela é tão pequenina e delicada e inofensiva.
(Tempo + espaço = sinto sua falta)
Se eu bem te conheço, basta me despedir usando a tática do me-liga-qualquer-coisa. Foi assim, desse jeito, que até hoje nenhum dos seus adeus durou para sempre.
Eu não desisti dos meus sonhos, mas às vezes acho que eles desistiram de mim. Cansaram de me esperar.
(“Anabell” sobre seus sonhos, seu nome de batismo e a garota maravilhosa que você é)
Alguns dizem que o amor é contagioso, e se isso for verdade, o deles me pegou como um vírus mutante e letal.
(Contra o Mundo)
As coisas não andavam boas, no geral; eu estava de saco cheio de tudo, amargurado com os relacionamentos, logo, empenhado em provar que o amor perfeito não existia ou, ao menos, não era bem como estava sendo anunciado.
(Contra o mundo)
Se você deixasse tudo de lado, por cinco minutos, e escutasse tudo que meus olhos têm a dizer, eu diria tudo em silêncio, sem precisar falar.
É proibido. É um tabu social. É uma contravenção. É contra o mundo. Tudo, nossas afinidades, nossos passeios distraídos, nossos telefonemas escondidos, nossos pequenos encontros em ruas desertas, nossas canções dedicadas, nossos beijos no escuro do cinema depois de comprarmos os ingressos e enfrentarmos a fila estrategicamente separados, paranoicos e suarentos de nervoso. Putz, o que a gente vai fazer agora?
(Contra o mundo)