Gabito Nunes
Mas quer saber a verdade? Amar sem nenhum ato insano não é amar. É outra coisa qualquer, normal. E o amor não é normal – a falta dele sim.
Não existe motivo para pânico. Você age como se eu quisesse descarregar um caminhão de mudança na sua sala de estar. Por enquanto eu só quero te chamar pra sair.
Qual a porção necessária de besteiras para uma pessoa se sentir verdadeiramente viva? Eu fiz todas e até agora, nada. Queria tanto que o tempo se apagasse nesses meus últimos meses, só até eu resolver planejar alguma coisa. Estou parado no vácuo, contando as horas e as besteiras que eu faço.
Aí você gasta um de seus preciosos sins e deixa pra depois mais um daqueles seus adeus, que, aliás, tem de sobra na sua bolsa de pano, sempre à mão, para casos de emergência. E eu me pergunto: você vai ficar porque está chovendo, ou está chovendo porque você vai ficar? Tanto faz. Se eu bem te conheço, basta me despedir usando a tática do me-liga-qualquer-coisa. Foi assim, desse jeito, que até hoje nenhum dos seus adeus durou para sempre.
Mas quando as coisas não rolam, quando não há qualquer sinal de correspondência, a sensação é mais ou menos um saco, como um resfriado mal curado. Você não consegue ir a lugar algum sem espirrar sua doença na cara dos outros. Não há antibióticos contra a paixão.
Sou cínico a respeito do amor. Já testei essa coisa algumas vezes e concluí em todas elas que o processo envolve muito mais sofrimento, mentiras e desilusão do que a poetização inicial consegue supor.
Não tenho tempo pra isso. Estou sentindo em mim um raro momento de maturidade e pretendo segurar essa sensação mais horas e dias e semanas possíveis. Não é como se nós dois estivéssemos tomados por uma paixão impossível de controlar. (…) E não é isso que eu pretendo fazer, tudo tem limite e eu já cruzei o meu há milênios, tanto que não consigo ver a demarcação ao olhar pra trás.
Se as pessoas hoje em dia tem mais vergonha de se olhar do que se chupar, então a sensualidade está toda nos olhos.
O que aconteceu depois? Nada. Por quê? Não sei, na verdade. Sabe como são esses contatos físicos. A coisa começa de um jeito, meio sem nome, como apenas uma brincadeira, e no fim acaba ficando meio sério porque esse tipo de coisa adulta não deveria ser praticada por duas crianças no quesito “romance”. Não nos apaixonamos, foi isso. Nos demos fantasticamente bem na parte física e mesmo assim decepcionamos nossas almas.
Ao criar tantas expectativas, viver a realidade não é decepção. É mero retrabalho.
(Porque o amor está fora de moda)
Não é uma luta justa, eu lá me esforçando pra ser mulher e você estrala os dedos, puxa meu queixo e me faz menina tudo outra vez.
E não venha chamar isso de escudo. Tornar-se uma pessoa sórdida pra se defender do mundo é como escapar de um assassino no topo de um prédio. E depois jogar-se de lá.
(Autopsia)
Parece exagero, mas é vc, só vc conseguiu pular o muro de dificuldades que eu levantei em volta de mim, quando as palavras, dores, saudades, ausencia, falta e despedida, fizeram de mim uma menina de luta. Vc vem a mim com seu abraço com cheiro de confiança, e com seu sorriso, que revelam nao querer nada de mim em troca do seu cuidado. Eu, menina de pés no chao e sem teto, decido todos os dias derrubar esse muro que eu mesma construo, para q vc desfrute o melhor q posso ser, o melhor q vc me faz ser... mas olha, nao se apavore se vc der de cara com esse muro de pe em volta de mim (as vezes acontece de eu nao conseguir destruí-lo) mas conto com a sua decisao de pular eesse muro, e nao desistir de mim!
Gosto do meu individualismo, só me encontro dentro dele, lá fora cansei das pessoas trocarem ideias, mentiras, vantagens, idiossincrasias. Não importa o quanto me fazem rir e sentir um pouco mais distante da morbidez. Vocês sempre terminam me magoando quando servem-se de metade, só um pedacinho de mim.
O que poderia ser uma nova história, não passou da continuação de algum capítulo enrolado e chato. Então quem sabe um dia. Vou continuar esperando alguma coisa dos meus dias, rezando contra essa minha inércia. Os dias vão passar, mas não vou me esquecer de ainda querer escutar aquele riso.
"E nada aconteceu. Eu meio que sabia onde as coisas iam dar – foi quase, mas não deram. Não deu. Não dei. Valeu a tentativa, o empenho, o interesse. Eu não estava prestando muita atenção, mas posso sentir em algum lugar aqui dentro de mim que foi bonito. A gente ainda vai se falar por aí, essa não é a conversa final, eu sei como você é."
Será que a gente consegue voltar a ser só amigos? Vamos encarar, nas entrelinhas tortas a gente nunca foi só isso.
(Eu sempre quis)