Flávia Brito
"Vida: como você é linda. E embora me assuste um pouco quando me olha assim, com esse desejo tanto, confesso: prefiro sua doce loucura a toda e qualquer apatia."
Se essa é a hora certa ou errada eu não sei, e não me interessa. É o tempo que tenho. É o que me importa.
E esse cheiro. O cheiro das minhas lembranças. Essa insistência em guardar comigo o que me estremece. Coisas tuas que o meu corpo aprende e, devotado, não esquece, e nem duvida.
Até minhas tentativas de dissimulação são confessionais. Quando penso não ser tão aparente é que sou mais óbvia.
Estou em uma fase de combinar tudo. Combino alegria com viço, desejo e prazer, combino corpo e alma, não necessariamente nessa ordem. Porque viver não é monocromático e tudo que nos faz feliz combina perfeitamente entre si. Essa é a tendência que o tempo não desgasta. O resto é modinha.
Vontade de escrever uma carta de amor. Escrever apenas: a gente se vê. Bem no meio do papel, vasto e branco todo o resto. Como toda essa vida interposta entre dois dias, o que não chegou e o que fez tudo mudar. A carta, o amor, a vastidão branca. A vontade interposta da vida. Mas a gente se vê, quem sabe.
Viver é delicado. A gente sempre pensa que já viu e fez e passou de tudo quando, na verdade, está apenas começando.
E se eu lhe pareço tão quieta não estranhe, não estou triste. Eu só estou um pouco mais aqui dentro.
E talvez essa existência dos olhos para fora seja apenas um álibi para tudo o que vivemos do coração para dentro.