Filipe Marinheiro

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Piso o creme
polar da estrela
com meus lábios
e encontro o manejo
das novas músicas à chuva
que me guiarão
ao significado
de ser-se maestro

Inserida por FilipeMarinheiro

Foste abatida por flocos de perfume branco porque
te deixaste ir à deriva das rupturas combatidas p’los lábios
de granizo no franzido céu. Não tive outra chance senão
aprender com torpor a fácil arte de estudar a luz de todos os cometas,
subterfúgio do meu vivo crime!
Ó, novíssimo crime!

Inserida por FilipeMarinheiro

Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Dor morta!...
Dor que faz de conta!...
Dor que anda morta!...
Dor que vira desnorte brasa de tanto praguejar!...
Dor que entre épocas canta ao bondoso ritmo!...
Ritmo que perdura nas docílimas plantas da nossa dor!
Dor que vive para procriar
o destino do ritmo por escorregar
como derretida cera
na consumada alma!
Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Admite,
já não sabes se é do ritmo ou se é da dor...

Inserida por FilipeMarinheiro

É-me inevitável!
Diariamente sou impelido
a dialogar lúcido com meus próprios medos,
esses medos têm medo de mim e eu deles
os medos têm aflitivamente medo de todos os medos,
dormem fraquejados na tosse de uns e de outros,
de todos...
Tomam-se, lassam-se, escorraçam-se!..
Quando os medos começam a respirar,
ralham-nos,
inflamam-nos,
dissolvem-nos,
impossibilitam-nos,
calcinam-nos...
Em contrafé falam-me num derradeiro
Adeus aos medos...
Adeus à tristeza que esses medos comportam...
Adeus à solidão que desses medos escorregam...
Adeus à obsessão que esses medos baptizam...
Sob a estúpida impotência não compreendo.
Sinto-me alcatrão calcado,
e na última vénia
murmuram-me a estremunhar
que a minha única imaculada saída
é escrever poesia até enlouquecer!

Inserida por FilipeMarinheiro

Olho a linha
que espia a retina do mar
espero, espero, espero
e de tanto esperar em vão
um dia tarde demais
descobri que na escrituras
dos rebentos das ondas
estava escrito
que à nascença tinha sido
condenado pois
alma alguma me irá amar

Inserida por FilipeMarinheiro

Ontem estava um sol
de partir o cérebro,
desassombradamente
tive tempo de brincar ardido
numa casca de noz
d’um tal decotado vento...
rompi-me encantado, descalço
no requinte desse ermo vento...
escrevi vento e ele fechou-me
os miraculosos olhos
fundando-me morníssimo delírio.

Inserida por FilipeMarinheiro

Uma vez
atei lençóis ferrugentos
aos membros lisos
da claridade daquele céu tatuado,
como deslizava lasso ao longo
da corrente sanguínea
de um qualquer envenenamento.
Após sobrepostas vibrações
retalharem a sombra da minha fechadura.
São terríveis os afectos.

Inserida por FilipeMarinheiro

A minha cabeça pensa em todas as cabeças é sombriamente
todas as outras cabeças, entranham-se, entram umas nas
outras, na minha! – inquieto-me, estremeço, esmago-me,
imortalizo-me tornando vidente tudo o que mexe...

Inserida por FilipeMarinheiro

houve uma ensinada tarde
em que a luz se esticava dentro de mim

agitava-se cruelmente longamente
e eu expandia sem parar

quando subi demasiado humano
por entre avenidas de escadas povoadas
vizualizava esquecidos sábios
quem seriam? quem serão? existirão?
depois da meditação sentado na última abóbada do planeta
descobri a diferença entre a palavra origem e proveniência

essas asas d’ouros em tudo bizarras
acorreram-me uma a uma amando o vento
retina de minha oriunda consciência

outros arrastaram o espaço do meu concreto corpo
e a profundeza do mar a avistar as feridas palavras

eis que me amarram de ponta a ponta
uma infinita espuma movida por rostos

meu coração recluso do impróprio choro doce
contempla o tempo desafinado por raros
perfumes deslizantes
dessas hirtas pétalas ligeiramente oblíquas
e noctívago danço a sinfonia em que morro loucamente

Inserida por FilipeMarinheiro

No pranto uma gota me faça
assombrado poeta para noutra
me tornar selvagem eremita
sorrindo proscrito.

Inserida por FilipeMarinheiro

Toco na harmonia do suspenso caminho
sei-me lamento pasmo rolado
em erupção paralisante.

Um passageiro muito só
que cai, desequilibra-se
no esquecimento indiferente.

É terrível não dar mesmo
encontro de mim.

Perco-me num denso escuro sombrio
onde as visões
que sublinho fatigado,
picam a esquecível memória
donde parto.

Inserida por FilipeMarinheiro

Dá-me os teus pés
dancemos abertos ao meio
no dorso da incrível lua estelar
até nos imaginarmos
ofegantes projécteis a derreter
de lábios entupidos
doidos e doidos de preguiçoso amor.

Inserida por FilipeMarinheiro

ainda quebras o cheiro
das plantas apaixonantes

desdobrei-as no martírio
como envenenamento da minha triste escrita

olhei-me sob o deserto silêncio azul-esmalte
à procura, resoluto, da selva espalhada no desprezo

em que meus olhos vergastados navegaram...

Inserida por FilipeMarinheiro

trouxe-te comigo
na lembrança
que tenho sempre
por abrir

Inserida por FilipeMarinheiro

Após chutar a dita estética frágil
descreio na cega literatura violentíssima
para mim inexistente
– destrutiva, desfigurada, falecida, mas precisa!
Nem tampouco me comovem as contradições
d’arte emaranhada em muitos contornos decalcados
– um recalcamento absurdo, improdutivo, um salto num
vazio absorto…
renego-me profundamente… renego-me, renego-me!
aller à Rimbaud… … …

Inserida por FilipeMarinheiro

Balanço-me feito túnica
de cortinas a cordas de violino a estalar,
marco o compasso entre véus a sopros de flauta
e nesses púdicos lugares eternizo-me dançarino.

A loucura é tão inexpugnável o quanto lhe depositamos de
delírio e da clareza ante o preconceito renascer insana.
Existem loucuras na introspecção doutras loucuras!
As pessoas imaginam a imprópria loucura doutras loucuras
dentro da loucura movediça, mas a loucura também pensa
das pessoas! Se estiver do seu lado esquerdo adormeço, do
lado direito acordo, de trás desmaio, de frente salto, por
cima ilumina-me, por baixo obscura-me, no seu ventre
musical, sou a sua clave!
É isso a loucura? Uma mera quimérica diferença em tropel?
Então deixem-me lá continuar louco, um louco
inabalavelmente feliz e lúcido. Lá Lá Lá... Hurra Hurra Hurra...

Inserida por FilipeMarinheiro

Jamais te deves importar com a tremenda acção, música,
textura, ritmo, cadência, métrica, desenho, estética, género,
química, física, massa, espaço, tempo, contexto, situação,
rima, estrofes, versos entre outros longínquos atributos
perfilados da poesia, isso é muito e muito antes, logo
depois... cá e lá a bater-te em toda a dimensão do ser
fremente aqui e acolá... É cirúrgico futuro por vir, mas já
veio ao pensamento intemporal!
Basta então antecipares-lhe suas partículas invisuais,
depois romperes as entrelinhas das camadas onde com a
mesma indiferença prevês o tal sentido relativo, exacto,
profanando consoante a sinfonia metamorfose da melodia.
É nesse instante momento sobrenatural que vais sentir e
escutá-la adivinhando-lhe a restante beleza porvir. A poesia
nunca mais será a mesma, um desregulamento torrencial
infinito metafísico, sendo-a apenas!

Inserida por FilipeMarinheiro