Os olhos sempre serão traidores Quando se trata de guardar Segredos do coração
Os morcegos na noite Imitam os pássaros Mas não enganam as corujas
No jogo de xadrez O cheque-mate poderá ser do peão Mas a vitória será sempre do seu rei
O bronze que molda um herói Poderá voltar a ser fundido Para fazer novo herói
As escadarias das torres São sempre mais íngremes Nos degraus do topo
A beleza e a arte Definem-se intuitivamente No mosto da mente
Para que a bússola Indique outro azimute Eu terei que mover-me
Qualquer bola de sabão Servirá para jogar andebol Até que o ar destrua o sonho
Sempre que se deita sal Na ferida aberta O sal morre e a dor aviva
A rocha bruta na pedreira É da mesma matéria Que a pedra depois de polida
Os obstáculos nos caminhos Não deixam Que o caminhante adormeça
Palavras que não reproduzem ecos Na montanha em frente Não servem para fazer os poemas
No jogo de xadrez Os peões e os reis São feitos da mesma madeira
A mente é uma roldana Por onde passam Os fios do pensamento
Os poetas são todos diferentes Como as cores na paleta Mas todos são filhos do arco-íris
Escrevo na areia da praia Mas a libertinagem das ondas Rouba-me as palavras dos poemas
O jornal imitando as aves Cria asas e voo Mas é apenas avião de papel
Até que o caruncho as faça em pó As estátuas de madeira Poderão vestir-se de santos
Talvez o calor das mãos Possa moldar o metal duro Ignorando a bigorna
Desenho um sol pela manhã E fico seguindo a magia Da sua mutação em lua
Quimicamente os sonhos São feitos de gases Mais leves que o ar
Caminho lentamente recolhendo Os restos da minha sombra Até que ela se esgote
Numa pedrada no charco As olas divergentes Diluem a pedra antes das margens
Os olhos só são olhares Quando são capazes De abrir caminhos no escuro
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.