Fernando Reis Luís
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Os olhos sempre serão traidores
Quando se trata de guardar
Segredos do coração
Os morcegos na noite
Imitam os pássaros
Mas não enganam as corujas
No jogo de xadrez
O cheque-mate poderá ser do peão
Mas a vitória será sempre do seu rei
O bronze que molda um herói
Poderá voltar a ser fundido
Para fazer novo herói
As escadarias das torres
São sempre mais íngremes
Nos degraus do topo
A beleza e a arte
Definem-se intuitivamente
No mosto da mente
Para que a bússola
Indique outro azimute
Eu terei que mover-me
Qualquer bola de sabão
Servirá para jogar andebol
Até que o ar destrua o sonho
Sempre que se deita sal
Na ferida aberta
O sal morre e a dor aviva
A rocha bruta na pedreira
É da mesma matéria
Que a pedra depois de polida
Os obstáculos nos caminhos
Não deixam
Que o caminhante adormeça
Palavras que não reproduzem ecos
Na montanha em frente
Não servem para fazer os poemas
No jogo de xadrez
Os peões e os reis
São feitos da mesma madeira
A mente é uma roldana
Por onde passam
Os fios do pensamento
Os poetas são todos diferentes
Como as cores na paleta
Mas todos são filhos do arco-íris
Escrevo na areia da praia
Mas a libertinagem das ondas
Rouba-me as palavras dos poemas
O jornal imitando as aves
Cria asas e voo
Mas é apenas avião de papel
Até que o caruncho as faça em pó
As estátuas de madeira
Poderão vestir-se de santos
Talvez o calor das mãos
Possa moldar o metal duro
Ignorando a bigorna
Desenho um sol pela manhã
E fico seguindo a magia
Da sua mutação em lua
Quimicamente os sonhos
São feitos de gases
Mais leves que o ar
Caminho lentamente recolhendo
Os restos da minha sombra
Até que ela se esgote
Numa pedrada no charco
As olas divergentes
Diluem a pedra antes das margens
Os olhos só são olhares
Quando são capazes
De abrir caminhos no escuro
Os olhos só são olhares
Quando são capazes
De abrir caminhos no escuro