Planta o que aprendeste
E multiplicarás
A seara dos teus conhecimentos
Quando caminhares
Na floresta brava
Aprende o nome das flores
As pérolas que buscas nas ostras
Talvez possam ser encontradas
No interior dos teus olhos
Sê duro como a pedra
Macio como a água
E flexível como o vento
Rastejando como camaleões
Jamais teremos cor fixa
Ou ausência de sombra
Como as lágrimas nas faces
Não são de água pura
Ficarão vestígios de sal na pele
Esperando os deuses ou a chuva
O homem vira-se para o céu
Esquecendo o seu lugar no chão
A metáfora é uma semente
Em que se desconhece o código
Da potencialidade da árvore cativa
Se consegues caminhar
Sem deixar rastos
Duvida da tua existência
A verdade é uma equação
De várias incógnitas conjugadas
Ignorando os algoritmos possíveis
Poeta é aquele que consegue
Dar a terceira dimensão
Ao limbo das palavras planas
Seguindo as sombras do corpo
Corro o risco de passar
A ser a própria sombra
Os grandes oceanos
São feitos de pequenas gotas
Insustentáveis nas clepsidras do céu
O escuro poderá
Encandear mais
Que a luz brilhante
A voz pode ser o cinzel
Esculpindo arestas na pedra dura
Ou apenas um bocejo efémero
O chão que pisámos na infância
Será sempre o mais seguro
Para construir as nossas paredes
Quando se acredita na meta
Os passos não se perdem
Nos atalhos dos caminhos
Poesia é saber sentir
O silêncio como se fosse
A pureza da música
No fulcro do corpo
Transformo em alavancas de fogo
As fantasias alquímicas dos olhos
Só o tempo pulsante
Fará a transparência do âmbar
Esquecendo a turva resina
Os versos são palavras escritas
Com as tintas dos ventos
Sobre os instantes da pele
Apenas pelas rotas da poesia
Poderemos perceber
Que a alma é transformável em matéria
A primavera floresceu os ramos
Para que as raparigas possam mostrar
A cor das suas pétalas
O dinheiro é uma hóstia metálica
Que se usa para pagar
Aos vendilhões do templo
A idade faz nublar a vista
Mas ensina a definir
Para além dos olhos