Fernando Guifer
Para ser considerado um cadáver, o cidadão não precisa ter sido declarado clinicamente morto, afinal, é bem possível sentir o coração bater, o cérebro operar, e, mesmo assim, ter a incógnita e angustiante sensação de ser um alguém sem vida ou sem valor para o mundo e, principalmente, para si mesmo.
O tal ‘nascer-trabalhar-consumir-morrer’ acaba com nossa saúde emocional/física – na unha –, e faz com que tudo ao redor que disponha considerável relevância, passe a flutuar despercebidamente e sem a menor importância bem diante dos nossos olhos.
Trabalho, estudos, ou qualquer projeto que seja, nos insere em um vicioso e maléfico círculo de zumbis, daquele que nos torna marionetes guiadas por sonhos que acreditamos ter, mas que, por falta de tempo (e de tesão), mal lembramos quais são de fato.
Criamos o costume de nos autossabotar com cabrestos invisíveis e dedicar toda a vida em torno algo que imaginamos ter relevância para nossa felicidade, quando, no acerto de contas, pufff… não conseguimos realizar absolutamente nada do que foi planejado assim que a cabeça encostou no travesseiro.
Vencer é gostoso, mas não agrega valor. Na verdade, é o balde de água fria que nos torna pessoas e/ou profissionais melhores dia após dia.
Qualquer preguiça que criamos em pensar ou agir nos destreina para o raciocínio lógico, nos desperta para a ignorância, e, no fim das contas, desemboca pra valer naquela parada de ser manipulado, manja?
Geralmente não fazemos o que temos vontade, e sim, prosseguimos conforme o andar da carruagem e nos entregamos ao dançar conforme a música. Sempre, como bons e velhos piolhos censurados pelo próprio vulto.
Prefira sempre morrer a perder a vida.
Se for para morrer, que morra logo e deixe de fazer peso na terra;
Se for para viver, que seja intensamente feliz e agregador aos que lhe cercam e, principalmente, para o próprio sapato.
O fanatismo religioso parece ter como função única matar ou apedrejar - mesmo com palavras - os que pensam diferente e/ou não seguem as escrituras que determinadas seitas consideram sagradas.
Depende de nós termos a "sorte" em escolher uma religião que demore a nos matar (na bomba, no bolso ou na mente, porém, sempre na unha).
O que estamos ensinando aos nossos filhos é condizente com o futuro que desejamos para os nossos netos?
Por que saímos de casa todos os dias para fazer algo que (geralmente) não sabemos o motivo pelo qual estamos fazendo?
É natural que apreciemos com mais afinco o nu físico ao nu da alma, afinal, somos bichos (escrotos) condicionados ao julgamento de livros pela capa.
Será que fazer planos é realmente necessário e tem efeito real sobre nossas vidas, ou essa mania que nutrimos em projetar escolhas não passa de uma simples ilusão criada por nossa mente para nos dar a falsa impressão de que estamos no comando – e então nos permitir ser mentirosamente felizes?
Busque sabedoria, e, se der tempo, corra atrás do conhecimento.
Lembre-se: os dois são essenciais. Mas, entre um e outro, fique sempre com o primeiro.
A sabedoria sem conhecimento sobrevive; já o conhecimento sem sabedoria, tsc tsc tsc... não vale de absolutamente nada.
Reconhecer a própria fraqueza ou rir de si mesmo é, indiscutivelmente, uma característica da grandiosidade dos (i)mortais, estes que, lá atrás, foram chamados de loucos, e que, anos mais tarde, foram merecidamente premiados com a nomenclatura de gênios.
Tornar-se um alguém melhor está quase sempre relacionado à marola ruim mesmo, já que criamos uma casca imunizadora somente na tempestade, e não quando o barco navega em águas calmas.
Na vida empreendemos como nunca a todo instante, seja negociando (vendendo, comprando, trocando), arriscando, aprendendo, ensinando, transformando, gerundiando, compartilhando, nos relacionando, faturando ou, simplesmente, levando brabos prejuízos.
Somos um organograma cheio de tentáculos subdivididos por sócios minoritários, cuja hierarquia é definida de um jeito não premeditado e de acordo com o grau de afinidade para com os que nos rodeiam de luz e afeto, estes que são responsáveis diretos pelo sorriso ou pela cara feia que distribuímos diariamente aos quatro ventos.