Fabíola Simões

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Mas então o mundo mudou, tudo foi ficando mais rápido, fácil, dinâmico, moderno, fugaz. E no lugar daquela câmera com rolo 24 poses e flash acoplado, temos celulares que fotografam e imediatamente postam fotos cheias de filtros e efeitos nas redes sociais. Tudo muito luxuoso, prático e indolor. E não percebemos o quanto mudamos também. Porque esquecemos o tempo em que tínhamos que esperar as 36 poses serem gastas _ com dignidade, parcimônia e comedimento_ para depois saber se saímos bem ou não na foto. Esquecemos como tudo era mais lento, simples, arcaico e até romântico...
Então é de se esperar que a gente acredite que a vida tenha adquirido esse molejo também. E passamos a exigir da vida _ coitada!_ o swing das câmeras digitais. E começamos a cobrar do amor_ esse culpado!_ a eficácia dos flashes embutidos. E ficamos indignados com a vida e emburrados com o amor quando eles não têm essa rapidez, categoria, design e evolução. Como se tudo fosse descartável, substituível, soft e clean. Esquecemos que os tempos mudaram, mas aqui dentro continuamos precários. Muito precários...

Em meados dos anos 80, lá em Minas, o costume era comprar leite na porta de casa, trazido pela carroça do leiteiro, que vinha gritando "Ó o lêeeeeite!!!".

Minha mãe corria porta afora e o leite _ fresquinho, gorduroso e integral_ era despejado na leiteira para nosso consumo. Porém, era um leite impuro, não pasteurizado, e necessitava ser fervido antes de consumir.


No início, minha mãe tinha um ritual no mínimo interessante para esse evento: Colocava o leite na fervura e saía de perto.
Literalmente esquecia.
Simplesmente I.g.n.o.r.a.v.a.

É claro que o leite fervia, subia canecão acima e despencava fogão abaixo. Eu era criança, e quando via a conclusão do projeto, gritava: "Mãe!!! O leite ferveu!!! Tá secaaaannndo..." e ela vinha correndo, apavorada, soltando frases do tipo "Seja tudo pelo amor de Deus..." e desandava a limpar o fogão, o canecão, e ver o que sobrou do leite_ pra tudo se repetir no dia seguinte, tradicionalmente.

Até hoje não entendo o porquê dessa técnica. Parecia combinado, tamanha precisão com que ocorria.
Mais tarde, ela mudou de estratégia. Eu já era maiorzinha e podia ficar perto do fogo. Assim, ficava ao lado do fogão, de olho no leite esquentando_ pra desligar assim que a espuma subisse, impedindo que transbordasse. Foi assim que aprendi uma grande lição:

O leite só ferve quando você sai de perto.

Não adianta ficar sentada ao lado do fogão, fingir que não está ligando; até pegar um livro pra se distrair. É batata: ele não ferve. Parece existir um radar sinalizador capaz de dotar o leite de perspicácia e estratégia. Porque também não basta se afastar fingindo que não está nem aí. O leite percebe que é só uma estratégia. E só vai ferver ( e transbordar) se você esquecer DE FATO.

A vida gosta de surpresas e obedece à "lei do leite que transborda": Aquilo que você espera acontecer não vai acontecer enquanto você continuar esperando.

Antigamente o sofrimento era ficar em casa aguardando o telefone tocar. Não tocava. Então, pra disfarçar, a gente saía, fingia que não estava nem aí (no fundo estava), até deixava alguém de plantão. Também não tocava. Porém, quando realmente nos desligávamos, a coisa fluía, o leite fervia, a vida caminhava.

Hoje, ninguém fica em casa por um telefonema, mas piorou. Tem email, msn, facebook, sms, e por aí vai. O celular com internet sempre à mão, a neurose andando com você pra todo canto. E o leite não ferve...

Acontece também de você se esmerar na aparência com esperança de esbarrar no grande amor, na fulana que te desprezou, no canalha que te quer como amiga. Então ajeita o cabelo, dá um jeito pra maquiagem parecer "linda e casual", capricha no perfume... e com isso faz as chances de encontrá-lo(a) na esquina despencarem. Esqueça baby. O grande amor, a fulaninha ou o canalha estão predestinados a cruzarem seu caminho nos dias de cabelo ruim, roupa esquisita e couve no cantinho do sorriso.

Do mesmo modo, se quiser engravidar, pare de desejar. Não contabilize seu período fértil e desista de armar estratégias pro destino. Continue praticando esportes radicais, indo à balada, correndo maratonas. Na hora que ignorar de verdade, dará positivo.

A vida _como o leite_ não está nem aí pra sua pressa, pro seu momento, pra sua decisão. Por isso você tem que aprender a confiar. A relaxar. A tolerar as demoras. A não criar expectativas. A fazer como minha mãe: I.g.n.o.r.a.r...

E lembre-se: Tem gente que prefere ser lagarta do que borboleta. Sem paciência com os ciclos, destrói seu casulo antes do tempo e não aprende a voar.

Inserida por fabiolasimoes

A vida gosta de surpresas e obedece à "lei do leite que transborda": Aquilo que você espera acontecer não vai acontecer enquanto você continuar esperando.

O leite só ferve quando você sai de perto.

Crianças, quando ouvidas, entendidas e valorizadas, carregam uma sabedoria ímpar, uma sensibilidade única e uma poesia desconcertante. São capazes de tirar sorrisos de onde aparentemente só existem cansaço e dor. Não desconfiam do tempo, das tristezas, do caos diário. Vivem num mundo à parte e por isso nos iluminam com sua espontaneidade surpreendente e habilidosa.
A poesia escorrerá através do tempo, indo embora na velocidade com que chegará o amadurecimento.
Vamos comemorar a independência, o sucesso e o fim das desobediências, mas nada substituirá a alegria latente de ter um garotinho em casa, um ser movido a sonhos e fantasias, que povoava nossos dias de alegria _ feito vestido laranja com bolinhas vermelhas...

E eu constato surpresa que, quando achava que nenhuma rosa poderia me falar mais, a imagem do menino que se entretém com a flor e pensa coisas que eu não sei contar, me comove de um jeito novo, inimaginável. Porque virão outras rosas e outros espinhos em sua jornada, mas talvez pra mim _ e só pra mim_ essa rosa será o símbolo de um momento assim_ perfeito.
Então encontro na rosa do menino a metáfora que me reconecta à minha sabedoria interior, aquela que todos nós temos mas deixamos esquecida diante da imperfeição diária e do barulho interno. Mesmo correndo o risco de soar clichê _pois ainda assim, pra mim e para o menino, a experiência é primeira_ esses novos horizontes que se descortinam me fazem entender que existem e existirão espinhos, mas nem a aparência ou o medo de ser espetado podem afastar o que de belo existe; e não conseguem esconder a beleza, e o fascínio, e a alegria do todo, que é simplesmente O viver.

Inserida por fabiolasimoes

Acho que foi em 1993. Numa entrevista _ histórica_ pra MTV, Renato Russo disse a Zeca Camargo que achava lealdade mais importante que fidelidade. Eu era menina, mas lembro que gravei a entrevista numa fita VHS e revi inúmeras vezes, me intrigando sempre nessa parte.
Eu entendia pouco acerca do amor, dos afetos, da durabilidade das relações. Mas Renato Russo me influenciava _ numa época em que meu pensamento ainda estava sendo moldado_ e eu tentava, imaturamente, entender aquela declaração.

Isso foi há vinte anos. De lá pra cá, relações se construíram e desconstruíram na minha frente. E vivendo minha própria experiência, finalmente consigo entender, e de certa forma concordar, com Renato Russo.

A fidelidade é permeada por regras, obrigações, compromisso. É conexão com fio, em que te dou uma ponta e fico com a outra. Assim, ficamos ligados mas temos que manter a vigília para o fio não escapar e nosso aparelho não desligar. Já a lealdade_ permeada pelo vínculo, vontade e emoção_ é o pacto que se firma não por valores morais, e sim emocionais. É conexão "wi-fi: fidelidade sem fio", que faz com que eu permaneça unida a você independente da existência de condutores ou contratos. Permaneço em pleno funcionamento por convicções permanentes e duradouras, invisíveis aos olhos.

Amor nenhum se atualiza sozinho. O tempo passa, a gente muda, o amor modifica. E nessa evolução toda, a única tecla capaz de atualizar e permitir a duração do amor, é a tecla da lealdade. É ela que conta ao outro que estou mudando, que não gosto mais daquele apelido, ou que aquela mania de encostar os pés gelados em mim embaixo do cobertor ficou chata. É ela que diz que eu gosto tanto do seu cabelo jogado na testa, por que é que não deixa sempre assim? Ou que traduz que tenho medo de te perder, mas ainda assim preciso lhe contar que na época da faculdade usei drogas, pratiquei magia ou fiz um aborto. É ela que permite que coisas ruins ou não tão bonitas encontrem um refúgio, um lugar seguro onde possam descansar em paz.
É ela que faz o amor se atualizar e durar...

Lealdade é não precisar solicitar conexão. É conectar-se sem demora, reservas ou desconfianças. É compartilhar a senha da própria vida, com tudo de bom e ruim que lhe coube até aqui.
Leal é quem conhece as fraquezas, revezes, tombos e dificuldades do outro e não usa isso como álibi na hora da desavença; ao contrário, suporta sua imperfeição e o ajuda a se levantar.
Leal é quem lhe defende na sua ausência.
É quem prepara seu terreno, se preocupa com sua dor, antecipa a cura;
Leal é aquele que é fiel por opção, atento ao amor que possui, zeloso com o próprio coração;
É quem não omite o próprio descontentamento, mas aponta o que pode ser feito pra não se perder...

Então sim, eu concordo com Renato Russo e acho que deslealdade separa mais que infidelidade. Pois não adianta não trair por fora, se traio o amor por dentro. Se tenho medo de arriscar e polpo meu afeto de se conhecer por inteiro; se não tolero meu caos e vivo uma mentira imaculada. Se não absolvo minha história nem perdoo meu enredo, desejando fazer dele uma fábula fantasiosa aos olhos de quem amo. Se contrario minha vontade e disposição e omito minhas intolerâncias pra não ferir _ me afastando silenciosa e gradativamente até a ruptura. Se me apresento por partes_ as melhores ficam aparentes, as nem tanto eu omito_ e não permito ser conhecido.

Finalmente, se não confio a ponto de compartilhar a poltrona do carona_ ao meu lado_ reservando apenas o banco de trás ( e olhe lá!) à minha companhia nessa viagem...

Carta para Coraline

Quando você fugiu pela porta secreta, fiquei assustada por perceber que aquilo não ia melhorar em nada as coisas pra você.
Sabe, de vez em quando é normal sentir que a vida que vivemos não é a vida que escolhemos... Quando isso acontecer, lembre-se da estrada de tijolos amarelos; aquela, que Dorothy seguiu quando o mundo amanheceu irreconhecível.
A estrada é longa e deixará seus pés doloridos, mas ao final, o encontro com o mágico será tão somente o encontro consigo mesma, descobrindo que tem aqueles dons escondidos pensamento, sentimento e vontade tão reais e materializados quanto as figuras do espantalho, homem de lata e leão.

Esses dons já existem em você, Coraline.
Mas talvez precise perceber que a liberdade também.
É tão difícil nos sentirmos livres! Atribuímos as razões de nossas frustrações fora de nós, encontramos bodes expiatórios pra nossa falta de sorte, e não percebemos que o caminho sempre esteve a nossa mercê e disposição, mas preferimos não arriscar.
Supomos que deixar nossas folhas em branco seja mais seguro do que simplesmente usar a borracha. Somos tão covardes, Coraline...

Tome cuidado pra não cair na armadilha da perfeição. Essa talvez seja a pior das prisões, e pode arrastar uma infinidade de consequências ruins derivadas dessa vontade de que tudo corra perfeitamente bem.

Nunca se esqueça: mesmo quando as coisas dão errado, a gente sobrevive.
Então desista dessa mania de levar o guarda-chuva dentro da mala para o caso de chover. Se chover, aproveite pra voltar a ser criança molhada, com o cabelo arrepiado e maquiagem escorrida.
Tolere os imprevistos, encontre neles sua oportunidade de crescimento.
Não encha a despensa com tantos mantimentos felizmente não vivemos em tempos de guerra e adaptar aquela receita vai estimular sua criatividade.
Corra mais riscos; deixe o protetor solar de lado por alguns instantes.
Não contabilize prós e contras de cada atitude de vez em quando a gente perde, de vez em quando a gente ganha; ouça mais seu coração do que a opinião de sites especializados, livros ou conversas de estranhos.
Não abasteça sua geladeira com tudo o que o Globo Repórter diz semana que vem a orientação é outra e você não descobriu o que é saudável e possível pra você, só você.
Aprenda a confiar no seu taco, a ouvir sua intuição, a acreditar que é capaz de fazer boas escolhas sem um guru de estilo ou receita farmacêutica carimbada.
Confie, você não imagina o quanto isso pode ser libertador e transformador.

Antes que eu me esqueça: prefira uma verdade feia a uma mentira bonita. De vez em quando somos tentados a disfarçar nossas miudezas, e criamos fantasias onde pensamos que podemos nos refugiar. Mas isso dura tão pouco, Coraline... E quando a verdade aparece, o estrago é tão devastador... Assuma sua vida do jeitinho que ela é, sem tirar nem pôr; e nunca se envergonhe daquilo que lhe aconteceu. Essa é sua história, e negá-la só fará com que se sinta mais presa, mais encarcerada, mais infeliz.

Aprenda a tolerar seu enredo.

Vou te contar: Se existe um lugar onde pode se refugiar em segurança, esse lugar é na verdade. Não negue seus afetos, suas alegrias, suas vitórias e desejos, mas principalmente, não negue sua dor. A gente só sai da tristeza quando se permite vivenciá-la. Pode ser que um dia você sinta que seus olhos enxergam melhor quando estão úmidos. Isso acontece porque a lágrima lubrifica a visão, enquanto a tristeza nos reconecta ao que de mais verdadeiro existe em nós. Então chore, chore, e não disfarce seu abandono, sua decepção, raiva e frustração. Mas depois dance, dance, dance... pois a dor também tem o seu feitiço, Coraline.

Aproveite a viagem sem tentar entender cada passo. Nem tudo tem explicação lógica e a vida, na maioria das vezes, é injusta mesmo mas quem somos nós para julgar aquilo que é realmente justo? Então não fiquei olhando pro lado e tomando conta do que não lhe pertence. Ame o que lhe cabe, e tolere as demoras, os percalços e falhas. Não exija demais de si mesma nem dos outros. Esqueça um pouco o relógio e se perdoe quando preferir dormir um pouquinho mais no domingo. Você não é o homem de lata e muito menos o de ferro!

Acima de tudo, seja autêntica. Não endureça com medo de ter sua sensibilidade revelada nem se alegre demasiadamente para que não lhe percebam as lágrimas. Seja autêntica nos desejos, no descontentamento, na necessidade de ficar sozinha ou dizer "não". Não se desdobre pra agradar todo mundo, isso é muito cansativo, desastroso e não lhe ensina o respeito por si mesma.

Por fim, mais uma palavra de bolso: Tenha coragem de amar e ser amada. Mas não se surpreenda quando o amor lhe parecer imperfeito, cheio de nós, pontas e contradições. Nenhum amor é igual ao outro, e tentar algum modelo é desconstruir a liberdade de ser quem você é.

Por isso, não tenha medo de romper a fronteira daquilo que lhe parece seguro. Siga pela estrada de tijolos amarelos e quem sabe, além do arco-íris, encontre a si mesma mais amadurecida e feliz, Coraline.

Crianças, quando ouvidas, entendidas e valorizadas, carregam uma sabedoria ímpar, uma sensibilidade única e uma poesia desconcertante. São capazes de tirar sorrisos de onde aparentemente só existem cansaço e dor. Não desconfiam do tempo, das tristezas, do caos diário. Vivem num mundo à parte e por isso nos iluminam com sua espontaneidade surpreendente e habilidosa.A poesia escorrerá através do tempo, indo embora na velocidade com que chegará o amadurecimento.Vamos comemorar a independência, o sucesso e o fim das desobediências, mas nada substituirá a alegria latente de ter um garotinho em casa, um ser movido a sonhos e fantasias, que povoava nossos dias de alegria _ feito vestido laranja com bolinhas vermelhas...

Inserida por katiacristinaamaro

Por que é tão difícil sairmos de nossas zonas de conforto, que podem nem ser tão confortáveis assim, mesmo sob o sol quente rachando a pele, mesmo sabendo que logo ali à frente há promessa de mais alegria e menos frio?
Porque ser livre é mérito dos que têm coragem. Uma conquista dos que rompem o vínculo com a culpa e experimentam suas próprias leis, já que a liberdade é almejada mas também complicada. Difícil como ter o oceano à frente e não saber o que fazer com ele. Acreditar no prazer que existe em estar submerso e ter medo de água fria. Enxergar a beleza, admirar a coragem dos que se arriscam e preferir ficar na areia observando com brandura e pouca bravura.
Esquecemos que somos livres. Preferimos culpar a água gelada, o vento que chega sem avisar, a sombra que surge do nada. Esquecemos que dentro de nós tem sempre um sol que aquece, uma água morninha convidando pra um mergulho, uma noite iluminada.
Optamos em ser apenas observadores, sentados em cangas esperando pela vida que acontece de verdade fora de nós. Enquanto isso, sempre haverão meninos de pele morena rindo ao sabor do mar, nos mostrando que perdemos tempo com previsões, limites, juízos e regras inúteis enquanto a vida escapava gentilmente como areia descendo pelos dedos.
Porém, liberdade não é para amadores, para quem não se conhece. Ao contrário, é coisa de gente séria, que se arrisca com responsabilidade e tem coragem de avançar e também recuar, de quem percebe a agitação do mar e não vacila com a própria vida. Pois ser livre não tem a ver com se atirar descontroladamente e sim se conhecer, aprofundar no mistério que habita e entender de si mesmo sem julgar, não apenas surfando na superfície da vida mas sim procurando
respostas, encontros, disposições...

Uma hora você vai descobrir que certas coisas acontecem sem a nossa permissão, mas ainda assim, nos ajudam a sair de nosso centro e finalmente abrir aquela gavetinha escondida que nunca fomos capazes de escancarar....

"Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida"...
Pois a vida é uma experiência dura, muitas vezes confusa, incompreensível e incerta; e reconhecer um abrigo no meio de tanta inquietude é acolher o tempo da clareza, em que tudo passa a ser suprido de sentido.
Alguns amores nos salvam da vida. Por resgatarem quem somos depois que partes de nós mesmos são deixadas pelo caminho. Por fazerem de nossas cicatrizes parte de suas estruturas também. Por acolherem nossa história com delicadeza, transformando o que era imperfeito numa nova possibilidade. Por permitirem o encontro com a esperança, o cortejo com a fé. Por dividirem as angústias do existir, permitindo que nossos fantasmas sejam lapidados, nunca enterrados.
O amor nos torna vulneráveis. Ainda assim, percebemos sua urgência quando compreendemos que a vida é uma faísca, um piscar de olhos entre o nascente e o poente de nós mesmos.
Como diz a canção, "a vida tem sons que pra gente ouvir precisa aprender a começar de novo..." E descobrimos que começar de novo não significa retroceder, mas entender que não haverá mais de nós em cada esquina ou aeroporto. Que não há outro tempo em que estaremos juntos além do tempo presente que se descortina diariamente. Que não seremos melhores ou maiores além do que podemos ser nessas horas em que vivemos e permanecemos lado a lado.
De vez em quando torna-se necessário fazer o caminho de volta para que o amor nos reconheça também. Desistir das corridas, dar trégua aos projetos 'imprescindíveis' , abandonar rotinas desgastadas pelo tempo, apaziguar o contrato com a pressa. Resgatar os laços, valorizar os momentos, perceber-se merecedor daquilo que não se toca nem se vê. Arriscar a travessia, suportar os desvios do percurso, desistir de antigas rotas, aplacar a saudade do que ainda está lá.
O tempo leva embora de diversas maneiras, enquanto a vida traz sem grande alarde.
Que haja lucidez. Lucidez para enxergar os presentes que recebemos e poucas vezes enxergamos. Lucidez para valorizar o que nos pertence de fato. Lucidez para aceitar o fim de um tempo e o começo de outro, diferente, mas nem por isso pior. Lucidez para acolher o que é verdadeiro, real e provido de sentido.
Lucidez para amar e ser amado. Lucidez para finalmente permitir que o amor nos salve da vida...

Ser um “mulherão” é ter charme para dizer não na hora certa e sim para se sentir plena. Ser independente de corpo e alma. Não são apenas o dinheiro e o trabalho que nos libertam, mas a autenticidade de sermos nós mesmas. Nenhuma mulher que se preze, vai permitir que “tem que ser assim ou assado”, porque ela tem personalidade própria, se ama antes de qualquer restrição e não se acata a ditaduras alheias.

"E de repente, num dia qualquer, acordamos e percebemos que já podemos lidar com aquilo que julgávamos maior que nós mesmos.
Não foram os abismos que diminuíram, mas nós que crescemos..."

Sou farinha do mesmo saco de quem me viu modificar com a idade, e transformou-se comigo, superando as dificuldades do caminho e prosseguindo lado a lado, compreendendo que ainda que os roteiros sejam distintos, permanece aquela linha invisível ligando os mundos...
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Inserida por berepasin

Cuide do interior. Erotize a alma. Enriqueça seu tempo com uma nova receita culinária, boas conversas, um curso de canto ou dança. Leia, medite, cultive um jardim. Sinta o sol no rosto e por um instante não se preocupe com o envelhecimento cutâneo. Alongue-se, experimente o prazer que seu corpo ainda pode lhe proporcionar. Não se ressinta das novas dores, da pouca agilidade, dos novos vincos. Descubra enfim que a alegria rejuvenesce mais que o botox.
E não se esqueça: em vez de se concentrar no lustre da maçã, trate de aproveitar o sabor que ela ainda é capaz de proporcionar...
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Já não importa mais a casa onde morei. Importa sim, a casa dentro de mim. Sabendo que vou me lapidando a partir do que existe, mas também daquilo que vivi e deixei partir. Entendendo que minha fachada não é somente o reboco visível, mas sim muitos outros alicerces imperceptíveis aos olhos. Descobrindo que também abrigo palavras não ditas, caminhos não escolhidos, sonhos não realizados. Aceitando a vida como ela é, cheia de acertos e imperfeições, percalços e contradições, desafios e realizações...
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Fabíola Simões

Casa de vó é um monte de coisas mas principalmente um recanto de saudades, de saber que ali o tempo é escasso e passa depressa, de entender que nesse refúgio os momentos devem ser sugados até a última gota, porque a lembrança do quintal, do alpendre florido de orquídeas e da TV sintonizada nos canais tradicionais é muito passageira, ainda que eterna...
(Fabíola Simões)

"Faça as malas se puder. Faça planos, trace rotas, decifre mapas. Vá a lugares que só conheceu em seus sonhos, pise firme no chão que escolheu e respire fundo na atmosfera que te acolheu. Abandone bagagens desnecessárias e despeça-se do que não faz mais sentido. Olhe-se nos olhos frente ao espelho e encontre uma pessoa renovada. Lave o rosto, penteie o cabelo e tome uma xícara de café. Sinta-se vivo, sinta-se outro, sinta-se pronto pra começar de novo."

Foi Domingos de Oliveira que disse: “Aqueles que se amaram muito um dia têm que permanecer amigos para sempre, senão o mundo fica cruel demais“. Pois eu penso da mesma forma. Não há crueldade maior que nunca mais trocar algumas palavras com aqueles que um dia amamos. Não há insensatez maior do que acreditar que não é possível olhar para trás com ternura e afeição, sem um pingo de má intenção. Não há incoerência maior que imaginar que o amor não possa se transformar numa amizade real e desprovida de recaídas.

Inserida por lubaffa

Foi Clarice Lispector que disse: “De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso bastasse”. E tenho que concordar com Clarice, pois ninguém consegue viver com saúde por muito tempo tentando só agradar aos outros. Ninguém é feliz por inteiro se submetendo ao julgamento alheio. Ninguém cresce completamente se não aprende a recusar aquele convite, a impor limites, a fugir do combinado e negar um favor. Ninguém amadurece sem aprender a dizer “não” e dormir em paz com isso.

Tem dias em que a gente tem que se pegar no colo. Ouvir mais o que nosso interior quer dizer e respeitar os desejos genuínos de nosso coração.

É preciso muita maturidade para aprendermos a valorizar nossas escolhas. Para entendermos que a vida que nos cabe é a melhor vida possível. Para acreditarmos que temos a noção exata daquilo que é melhor para nós.

Durante muito tempo temos mais confiança no olhar de fora sobre nossa própria vida do que em nós mesmos. Aceitamos mais os conselhos alheios do que nossa própria intuição. E ficamos reféns dessa condução, desse direcionamento, dessa autorização. E pouco a pouco nos afastamos de quem somos, de quem gostaríamos de ser, do caminho que pretendíamos seguir. Relevamos nossos anseios e modificamos nossa história para caber dentro das expectativas de alguém.

Crescer é aprender a seguir com os próprios pés, ouvindo a própria voz, dando sentido às próprias inquietações. É reconhecer-se apto a fazer boas escolhas, a se posicionar diante das situações difíceis ou constrangedoras, a não se culpar quando decide enlouquecer de vez em quando.


Foi Clarice Lispector que disse: “De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso bastasse”. E tenho que concordar com Clarice, pois ninguém consegue viver com saúde por muito tempo tentando só agradar aos outros. Ninguém é feliz por inteiro se submetendo ao julgamento alheio. Ninguém cresce completamente se não aprende a recusar aquele convite, a impor limites, a fugir do combinado e negar um favor. Ninguém amadurece sem aprender a dizer “não” e dormir em paz com isso.

Há momentos em que temos saudade de nós mesmos. Sentimos falta de quem éramos antes de nos misturarmos a todo mundo e de nos ausentarmos de nossa própria vida. Sentimos falta de nossa versão mais cheia de amor próprio que não se anulava tanto pra querer agradar. Talvez seja esse o preço a pagar por não sabermos nos posicionar. O gosto amargo que temos que engolir por nos distanciarmos de nossa essência, da necessidade de recolhimento, da vocação de seguirmos nosso coração.

O importante não é somente avançar, mas saber se resguardar. Aprender a sossegar, a ficar consigo mesmo, a silenciar. Descobrir o que lhe faz bem, o que é de seu feitio, o que lhe deixa em paz e é coerente com seu jeito único de ser. Só você sabe do que é capaz, só você entende os passos que pode dar. E não cabe a você dançar uma dança que não é sua só pelo desejo de agradar. Não cabe a você cortar as próprias asas só para se enquadrar.

De vez em quando a gente tem que pisar duro para sobreviver. Só dar satisfações a quem interessa e abandonar inseguranças desnecessárias. Não ter medo de voltar atrás, de desistir de um projeto, de arriscar uma versão autêntica _ e talvez espantosa_ de si mesmo. Ter coragem de recusar um convite, de dizer “não” a uma proposta, de se expor como é de fato. Descobrir, não sem uma ponta de satisfação, que unanimidade é muito chatinha; e que bom mesmo é assumir o que eu quero… e que isso baste.

“Gosto que me digam a verdade. Eu decido se ela dói ou não”. Nem sempre a verdade vai nos trazer alívio ou alegria, mas a vida precisa ser vivida com clareza, por mais que essa transparência traga dor. Ainda assim, é uma dor que nos localiza, nos situa, nos confronta com o amadurecimento e aprendizado. Pois tudo está em pratos limpos, às claras, sem manipulações, hipocrisias, omissões e mentiras.

A mentira “bonita” é muito mais devastadora que a verdade intragável. Por mais que a mentira tenha “boa intenção”: poupar alguém da realidade, proteger, resguardar… ela causa rupturas amargas na confiança, e pode diminuir a fé que essa pessoa tem na vida, nas circunstâncias e nas pessoas.

Os dias mais marcantes são aqueles em que a gente sai deles um pouco modificados. São os dias que nos lembraremos para sempre, não importa quanto tempo passe. São os dias em que, sem anestesia alguma, somos confrontados com as verdades que nos fazem crescer, e de alguma maneira, enrijecer.