Fábio Murilo
Aprecio gente a flor da pele, tem uns que não fedem, nem cheiram, que vão tirar um dia pra fazer algo (tire não, que vai fazer falta no calendário, principalmente esse mês que é tão curtinho) - Vai quando? Um dia? - Que dia? Dia 23 desse mês? 30 do outro? Esse ano ainda? Nem conte que esse dia não chegará nunca, espere sentado. Gosto de gente saltitante, que faz gosto ver, dinâmica. Que tem susto, melindres, que ri alto, que vive rindo, que chora por qualquer motivo, uma manteiga derretida, impulsiva. Que se emociona e emociona a gente, passional, não um tronco plantado, um cofre hermeticamente fechado, extremamente comedido, metido a infalível, medido e embalado, previsível. Gente que surpreende, quando a gente pensou que foi embora, volta, feito naquele lance que acontece no final dos shows do cantor que a gente gosta, fechando com chave de ouro, nos surpreendendo com a nossa canção preferida. “15 Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! 16 Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.”, Apocalipse 3. (Fábio).
O que é a vida, senão uma concepção pessoal. Vive o operador da bolsa de valores, o jovem no vigor da juventude nas baladas, nos esportes radicais, e o manje tibetano que passa o dia inteiro meditando num mosteiro inacessível na cordilheira dos andes. Vive quem já se sentindo pleno, bastando a si mesmo, gostando da vida que tá levando.
A vida é essencialmente trágica, não se pode ter tudo, a morte nos avizinha feito uma intrusa que entra sem ser convidada, um calo no sapato da existência. Pra nos defender inventamos as festas, os carnavais fantasiosos, enganosos, de como a vida deveria ser, como queríamos que fosse, as festas de aniversario, a festejamos, inventamos motivos, alívios, válvulas de escapes, os jogos, passatempos para esquecermos, os fogos de artifícios contra o céu negro, o medo, a inventarmos risos, motivos. No final tudo cansa, o tédio é uma constância, salvo aqui, ali, o frágil lume de algum vaga-lume a contrariar a noite
Dizem que "a beleza é um acidente", no caso, se referindo a beleza física. Acho mais um dom, algo equivalente a um sacerdócio, podia até dizer, a enfeitar o mundo. A dar uma certa vantagem, fazer diferença na hora da conquista amorosa, ser o diferencial, o chamado "o amor a primeira vista". Dizem que um dia passa. Alias tudo. Mas, por enquanto, não, o usuário, detentor, e, sobremaneira, é beneficiado, invejado, com seus rostos, corpos bonitos, taí ai as academias que não deixam mentir, os produtos de beleza, as cirurgias plásticas, todos em busca de um ideal de beleza, de segurar o tempo, consequentemente melhorando a autoestima
Gosto de conversar contigo, sabe, me completa, fala minha língua, me entende como ninguém. Oh, suavidade do teu jeito, que acalma minha ansiedade. Tranquilidade dos eleitos que só uma perfeita afinidade permite. Conversar sobre coisas amenas, perguntar, "como foi seu dia?", "como é que está?", "tá bem?". Sobre coisas grandes, atualidades, assuntos sérios de todo mundo, coisas corriqueiras ditas no noticiário das 8. Vale a intenção, a consideração, a disponibilidade. O mundo é tão hostil, tudo tão brutal, um soco na boca do estômago da realidade, só tédio, tristeza, monotonia, cada um por si, na sua redoma de vidro, armadura de cavaleiro medieval, frieza glacial. Tua presença é qualquer coisa de luz, um farol no mar bravio ao marinheiro desesperado, a chama de uma vela na escuridão brutal, uma estrela na noite fria dos meus dias, uma musica não sei de onde, um som de flauta, tu não chega como qualquer um, surpreende, chega chegando, entende? Um dia sem você faz muita falta, fica um vazio, um oco nas horas, incompleto. A velha historia do bater o ponto, marcar presença, ser o diferencial, fazer a diferença.
Tem gente que tira o final dos tempos por aqui, "Tá vendo isso, aquilo, é o final, (sinal, sei lá como se diz) dos tempos", "Corrupção". Lá fora tem terremotos, enchentes, tsunamis... E eles reconstroem rapidinho e que foi destruído, pais serio e organizado é outra coisa, fosse aqui... A gente nem conserta um simples buraco, recapeia, rapidinho, um asfalto. E se depender da natureza aqui a gente tem de tudo. Tem lugar que é um verdadeiro paraíso na TV, Suíça, Canadá, Alemanha... Não se houve falar mal, ficam lá sem incomodar o resto do mundo, dar vexame.. O povo tem bons hospitais, inflação sob controle, gente mais honesta, educada, é outro nível, o povo sem importunar Deus, inclusive, com tantas lamentações, pedidos de ajuda.
Ter uma liderança é uma coisa natural. Os animais tem seus lideres. O lobo por exemplo, quando eles caçam o líder come primeiro, mas, o resto da matilha depois, mas, não há desacordo, revolta. Assim também funciona um formigueiro, uma colmeia, onde tem a abelha rainha, as operarias, os soldados, umas até que ficam soprando as asas só pra ventilar o ambiente, e ninguém reclama, ambiciona mais que os outros, e são animais irracionais, tem instintos apenas. O homem, diferentemente deles tem livre arbitrio, pensa, raciocina, e por causa disso mesmo, responsáveis pelo seus atos, passiveis de serem penalizados quando do seu mau uso ou abuso.
Ainda agora vi na TV a noticia de um avião que tinha caído, matando vários passageiros. Disse que foi por falta de gasolina, enfim, tudo é motivo quando chega a hora, se e que tem hora, como os outros projetos humanos, hora pra isso, aquilo, a vida não se submete, obedece. Muitos deveriam estar com sua saúde perfeita, taxas dentro do desejado, colesterol, triglicerídeos, glicose.. mas, ai.. E nessas horas me dá uma vontade danada de viver, de não perder tempo, cada vez mais e intensamente, de extravasar toda energia possível, até acabar a bateria totalmente por excesso de uso feito celular na mão de adolescente e recarregar pro outro dia. A vida não se programa, não obedece os nossos projetos, não se sujeita. Viver é agora, ela tá passando lá fora, se arrastando feito uma lesma preguiçosa nesse final de tarde chuvosa, tá passando, não se iluda, feito tartaruga, lesma com seu arrastar gosmento quase não parecendo sair do canto.
Não há mudança de mês, de ano, só na nossas cabeças, o tempo não muda, é um só, quem muda é a gente. Todo dia é igual ao outro, o sol nasce e se põe, gente chega e se vai. Nós que podemos fazer a diferença, "a vida se muda até num segundo". O que passou, não podemos mais mudar, mas podemos mudar o que vem adiante, no próximo minuto, segundo. o tempo é quando, é agora, é a hora. Como diz a antiga canção: "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer"
As prosas, moça, tinham qualquer coisa de rosas desabrochando instantâneas do chão, também água jorrando, brotando, alagando, descendo das encostas, transformando-se em cascatas, caindo, depois se infiltrando, virando rio subterrâneo, lençol freático, lembrança guardada, saudade acumulada, pro outro dia voltar ou virar nuvem ao sabor do vento, chovendo a qualquer momento sem anunciação. Falávamos de Pessoas, Fernando Pessoa, livros, novela das nove, política, pizza, bolo, dor de cabeça, dedo desmentido, unha encravada, as aves do paraíso, tigres de bengala, Deus, a via lacta... Tudo virava assunto, era motivação. Até na falta de assunto nos entendíamos. Textos, pretextos não faltavam razão. Era a perfeita adequação, como que combinado, roteiro escrito, mas não, era tudo improviso, criação. As horas se sucediam e o tempo nem percebia, ficava assistindo, quieto, se distraindo com a gente, participando e esquecendo-se de passar, não indo, fluindo. Dando um tempo, parando, de vez quanto, virando quase fotografia. Era um acontecimento! Tarde era sempre ainda muito cedo, nos despedíamos com vontade de não irmos.
Ontem eu me lembrei de uma ocasião referente a data de hoje, dia das mães. Minha mãe, agora falecida, costumava dar a ela, nesse periodo, um corte de tecido, pra fazer roupa ou um sapato, mais corte de tecido, roupa sempre se precisa. Um dia resolvi fazer diferente, em vez de dar o mesmo de todo ano dar o dinheiro para ela comprar o que quisesse, 300 reais, lembro bem, pode parecer pouco, mas, na época, valia mais. Quer dizer o ideal é dar o presente bonitinho, embrulhadinho num papel vistoso, com um laço de fita, fazer uma surpresa, essas coisas de praxe, mas... Tava muito repetitivo, como disse. Tempos depois, um belo dia, passando na casa dela, reparei num quadro grande, na segunda sala, representando a santa ceia, parecia diferente, curioso, passei os dedos e pra minha surpresa, era original. Oh!Original! Que chique! Que novidade é essa? Onde teria conseguindo, deve ter custado uma nota, afinal era original, não uma copia igual tantas outras, vendidas nas portas por prestanistas, era único. Perguntei quem tinha dado ou onde havia conseguido. Ela disse: " - Comprei no Shopping Recife, com aquele dinheiro que me deu. Já tinha visto antes numa ocasião, mas, não pedi a ninguém". Shopping Center Recife, um shopping daqui, da zona sul, bairro de rico. Poxa, nunca imaginei que minha mãe, pelo menos, nesse caso especifico, gostasse, apreciasse pinturas, arte. Pois é, gosto é uma coisa muito pessoal, surpreendente, por vezes.
Ah essa mania de falar sorrindo que eu adquiri de você, esse chiste, esse vicio lindo, esse grito, sem querer, de resistência, essa ciência sem saber que você tem de crer que tudo vai dar certo. Calejada das dores que tira de letra, embora doa, roa por dentro, mas, sempre encontra um alento, um momento pra respirar, pegar fôlego, feito um peixinho na imensidão do mar, um jogo de cintura tipo o do ratinho Jerry com o Tom, onde o ratinho sempre dá um jeito de se safar. Briga de formiguinha a cavar na parede entre os tijolos, uma saída, Igual Davi enfrentando o gigante Golias, apesar do tamanho desigual.
O amor comumente é, renuncia, é adequação, é assimilação, é resignação. Só na paixão o amor encontra sua maior amplitude, viço, cor, razão, ápice, amor com paixão. Um rio a fluir naturalmente, a cair espetacularmente, nas cachoeira sem entraves, sem represas, nem certezas.
Contigo peguei o costume de escrever sorrindo, mesmo se não estiver me referindo a coisas não tão legais. E usar bichinhos entremeando os diálogos, feito um menino grande.
Afinidade pode haver entre pais e filhos ou não, entre irmãos ou não, entre amigos, ou não. Não é questão de proximidade, mesmo de sangue, querer. Não obedece regras, de como deveria ter sido, assim que deve ser. Não tem logica, não se mensura, nem se mede, não obedece a vontade, é uma coisa de simpatia mesmo, empatia, de ir com a cara, combinar, sintonizar com o outro, ser sua continuação, extensão, onde um começa o outro termina. Afinidade é incondicional, é rima, é de quem se afina.
Nem todo mundo a gente tem encantamento, sente afeição, será único. Nem todo assunto vira debate, fluirá, virará discussão. Nem toda conversa interessa, nos eleva, inspira, prende, lembraremos depois. Nem tudo que chega se tornará permanente, criará raízes, irá além na superfície, passará do chão. Nem toda chuva é fértil a ponto de florescer um deserto, nem tudo que chega será mais que um instante, nem toda aproximação conquista, se torna afeição, cairá na mão feito uma luva. Nem qualquer uma será musa.
Não adianta forçar a barra, pessoas são destinadas ou não. Está escrito, prescrito, associado, combinado. O que tiver se ser, será. Ira acontecer ou desacontecer ou vir a acontecer mais tarde, se encontrar, permanecer ou passar.
E essa calma impressionante... Vai ver que é isso que chamam de fé na pratica, manter a calma, esperar, apesar de... E os entendidos, homens de ciência, que tentam explicar tudo e só repetem, reafirmam o que já foi dito, chamam modernamente de inteligência emocional, resiliência.
Há uma diferença em ter fé e acreditar no meu entender, senão seriam uma só palavra. Há quem acredite em signos, em disco-voador, na sua intuição, até em sorte. E não é necessariamente ter uma religião, quer dizer, que você terá mais fé que os outros. Pedro tinha menos fé que o centurião romano que crucificou Cristo, que foi pedir antes pela intersecção de um simples servo, que no entanto gostava feito um filho, e disse, constrangido, não ser merecedor que fosse a sua casa, mas, que bastasse uma só palavra e ele seria salvo. Salvou, sua fé o salvou. Ter fé é dar um tiro no escuro, pagar pra ver.
Pessoas sofridas são mais interessantes, tem antes, durante e depois. São sumarentas, tem um tudo, conteúdo, historias de superações. Pessoas sofridas tem sangue nas veias, tem fibra, garra, suas vidas sofridas encantam tanto, sensibilizam, nos identificamos, são nós mesmos repaginados, melhorados. Tem historias pra contar, somar, nós inspirar. Nunca motonas, terminadas, definitivas, tediosas, feito um quadro empoeirado, uma foto amarelada que nunca se modifica e por isso cansa.
Nesse mundo de desconfiados e "desconfiômetros", de irônicos, de descrentes de tudo e todos, da humanidade como um todo. Reconfortante é encontrar alguém em que acreditar, é ter um elo de confiança, sentir-se seguro, tranquilo, transparente. Quando há tantos relacionamentos superficiais, formais, padronizados, tipo atendente de loja, supermercado, sorrindo somente para agradar ao cliente, e por dentro tolerando-os, não vendo a hora que o expediente acabe, termine toda essa farsa, de fechar a cara, retirar a mascara, e voltar a usar a cara de sempre como se tivesse ninguém na sua frente. Bom é sentir-se a vontade com um igual, gente de verdade, não um estereotipo, um poço de egoísmo, indiferença e má vontade. Gente que fale a mesma língua, que esteja presente, que some, que faça a diferença, que mostre que nem todo mundo é igual, que nem tudo tá perdido, que em meio a cacos de vidros, pode-se encontrar, ainda, diamantes, exuberantes, raros, difíceis de encontra-los. Por uma joia de gente assim, que não tem preço, criamos apreço. - Fábio Murilo.