Fabiano Carlos
Consigo ver pela janela aquela necessidade de escrever, o ímpeto de me perguntar constantemente quem sou. Parece-me que algo quer sair de mim e existir de verdade, como se minha própria vida não fosse digna para o propósito de algo já estabelecido.
E em cada desculpa alimento um sorriso, a satisfação em não lidar com verdades. Entretanto, não tenho certeza se tais verdades, de fato, as são. Algumas lições remetem-me mais a meros julgamentos de um ser curioso, que se perdeu em meio aos grandes questionamentos da simples existência e procura respostas para tudo, a fim de apaziguar a constante busca de sentido
O que andas fazendo da tua vida? Virastes um colecionador, um colecionador de objetos. Não precisamos de coisas, precisamos de momentos. Se tua vida virasse um filme, onde se passaria? Nas redes sociais? Neste mundo virtual onde a falsa sensação de
“ouvir e ser ouvido” se propaga?
Aonde vais com tanta pressa se já estais preso a um mundo imaginário onde o superficial governa e as mais apaixonantes nuances da vida se escondem. Deixastes teus sonhos na soleira da resignação, enquanto o trabalho que odeias priva-te os sentidos.
Do que adianta essas inúteis palavras se contínuas a alimentar o cão que te morde todos os dias, e deixas aberta a mente para que o mesmo ladrão, todas as noites, te roube sempre a razão. De mim para mim é só isso que tenho a dizer-me.
Usando um dos fragmentos de sabedoria deixados por Heráclito, afirmo : somos um constante vir a ser. Eternamente inacabados, finalizados com a morte. Como haveríamos de estar prontos para o não ser, vulgo presente? Desprenda-te deste medo do por vir, não há mais nada além daquilo que já é.
Um dia me perguntaram “qual o sentido da vida?”. Eu respondi: - duas coisas deixam de existir com a morte - a vida e a liberdade. A segunda é a sua resposta.
No meio da noite essa confusão de pensamentos se aglomera. Desejos reprimidos, verdades contestadas, pureza do passado, vontades de um futuro. O sono é a porta, a porta por onde o peso da vida não entra. A chance do eu, onde não se é nada.
Às vezes me vem uma solidão, um temor do futuro, uma antecipação de convictas dores. É como se o mundo parasse e apenas o meu “eu” ousasse a andar. Por mais que tente ocultar-lhes sempre me perco a revirar os mesmos escombros, lembranças do passado destruídas pelo tempo. Em pé, ergo meus olhos, não há nada de novo, mas continuo a observar com a esperança que certos fantasmas assim sejam e desapareçam. Talvez não exista outro modo sabe? Vivemos a olhar para o que um dia “foi”, com a ilusão que aprendemos a “ser”, sem ter, na verdade, ideia do que “será”.”
Em toda a minha vida, nunca presenciei algo tão patético quanto a inveja. Desejar a vida dos outros é almejar uma doença desconhecida. Não há ser humano imune ás mazelas de sua própria existência.
Olhou seu rosto marcado no espelho, analisando cada espaçamento criado pelo tempo. Questionou-se - “quando aquilo lhe aconteceu?” Sentiu a tristeza da velhice, o sentimento mórbido de quem conta os dias ao encontro da morte. Não lembrava como fora antigamente, mas nas fotografias sorria um jovem forte e saudável. “Eu queria tudo, queria que o futuro chegasse rápido, perdi a beleza do presente. Hoje nada mais existe do antes, as pessoas, os lugares. Tudo se foi, até mesmo eu.
Um dia a gente cansa de fazer ameaças. Entrega os pontos.Faz e pronto. Aí tudo muda, a indiferença entra em cena e o amor segue seu rumo.
E cada palavra deixada é um pedaço que cai. É um visão da verdade, é um passo pra trás. Somos como um desmoronamento contínuo. Como um rio sobre pedras amoladas, influenciados pelas circunstâncias. O “não posso viver sem” muda a todo instante, recebe um novo nome e assim se inicia a próxima jornada
Quem se conhece não se doa a qualquer um, não procura por algum, é nobreza em jejum, o que é raro é muito caro, e sua alma meu caro não a entregues a qualquer um.
“Quero ser o mundo , apaixonar-me todos os dias, ser de ninguém, mas ser totalmente meu, e sentir cada pedaço de alguém como se fosse todo eu”
Paixão és teu nome, teu sobrenome - angústia
Trazes para os desafortunados e desapercebidos partículas de acalento, a empolgação do novo o cheiro excitante da astúcia
Sempre me disseram que todos os meus sonhos poderiam ser realizados. Por muito tempo acreditei que seria capaz de qualquer coisa, bastava querer. Hoje, discordo completamente. Há sonhos que ficam pelo caminho, que esfriam como uma xícara de café ao vento perdendo seu sabor. Há outros que abandonamos e existem aqueles guardados, que estão em alguma parte da nossa alma e já faz parte da gente. Esses eu acredito que um dia surgirão com um ímpeto de vontade e que faram grandes coisas.Já os outros sei que são do calor do momento, ou a simples visão otimista de tudo
Queria ser a bagagem do planeta, circulando, bolando entre os comuns, absorvendo todos os tipos de almas, torna-me um cão sarnento que vagueia sem destino e se apaixona por qualquer sombra ou mão estendida. Mas sou covarde demais para ser louco, racional demais para ser livre.
Prefiro o sorriso tímido, a inteligência escondida nos detalhes dos lábios, quem chega sem querer chegar, os que entendem que o mundo é grande demais e é bom ser pequeno. Prefiro aqueles que bebem sem arrependimentos, que fumam seu cigarro enquanto tocam uma canção triste no violão.
Se a vida fosse uma sala eu estaria no fundo, observando e me divertindo com meus julgamentos, sem perceber que sou tão tolo quanto aquele que julgo bobo. Perdido em verdades absolutas que são só minhas, tão questionáveis quanto a existência da religião. Quando não acreditamos em um deus nos fazemos um.
Prefiro os pés descalços, os que aprendem observando as ondas, os intensos, os imprevisíveis, os improváveis e os impossíveis; e que assim como eu, não se importam se o mundo acabar hoje. Talvez por isso tenho poucos heróis, poucos amigos, poucos olhares compreensíveis. Na verdade não faço questão de ser leitura fácil, sou um livro velho, gasto, rabiscado, coisa para intelectual. Pinto o mundo da minha maneira e ele é sempre cinza com tons de amarelo. Do jeito que eu quero, de maneira alguma politicamente correto.
E não há nada mais lindo que aquele barulho de sono. A respiração lenta que se ergue em harmonia homenageando cada parte de se estar vivo