Ai como grita ao pisar o gato a velha aflita
Sobre o varal A cerejeira prepara O amanhecer
negro e revolto o mar de inverno pressagía desgosto
no céu de Alexandria as estrelas falam mitologia
Olhar felino perfil egípcio apanha sol
o rio ao lado da estrada corre ri à gargalhada
longe noite escura uma viola amor murmura
Um homem caminha cabisbaixo e só: perdeu o que não tinha
Abrindo uma fresta do carro de luxo ele atira a meleca
Na noite em silêncio o relógio presente marca o passado
palmo a palmo dedo a dedo inicio teu percurso
Praia deserta no rebentar da onda a moça espera
O gato tigreiro olha o sabiá que voa ligueiro
O gato no cio mia e remia canta ao desafio
O senhor narigudo tinha um olho torto e no pé um fungo
Na noite escura um mar de espuma chama pela lua
no parque vazio duas árvores abraçam-se em prantos de chuva
Olhando nos olhos que o lago reflete Narciso se esquece
meus dedos-olhos desvendam sem pressa doces mistérios
a chuva no charco traça círculos sem compasso
Um cão sonolento esticou as patas e soltou um vento
No prato com leite a língua rosada faz chap chap
seus olhos felinos horizontais oblíquos olham parados
Sentadas num fio estão cinco andorinhas fugidas do frio
na cama de nuvens o sol espreguiça-se oblongo
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.