Erica Gaião
Permanecer por insistência é não desistir de tentar. Felicidade é terreno nosso. É um pedaço na terra da vida que a gente conquista… E eu lamento contrariar o desejo oculto daqueles que insistem em tocar no meu pedacinho de felicidade, mas vou sim permanecer por insistência. É esse o significado do meu sorriso! E as tristezas, também são bem vividas. Vou até o fundo delas para extrair sua essência e volto, porque eu não desisti de tentar.
É que às vezes os ouvidos disponíveis não ouvem o silêncio pacificador da nossa alma. Ou por falta de sintonia, ou por desmerecimento. Entender esse descompasso não é fácil, porque a gente sempre deseja “àquela” pessoa nos nossos braços. Mas, fazer o quê se eles preferem outros silêncios? Aguardar o tempo certo das coisas, trilhando outros caminhos.
E esse desejo sufocador de presença, eu também senti. Eu sinto; eu relevo e às vezes ignoro por defesa. Eu já pedi, implorei, fiz novena, quase sucumbi; chorei até me sentir seca por dentro. Mas compreendi que sentimento verdadeiro plantado na alma da gente quando não floresce cria raízes. Desse jeito! Remédio, cura ou algo parecido? Esqueça! Respire fundo e aguarde o tempo certo das coisas.
Às vezes o disfarce é o sonho de tornar a vida possível... Mas uma vida possível, uma vida plena, não se constrói a partir de verdades inventadas. Uma vida plena, se constrói a partir daquilo somos efetivamente e o que somos inclui o bom e o ruim dos sentimentos. Porque no fundo, no fundo, tudo precisa do seu contrario para existir plenamente.
No meio do caos a gente tenta resgatar os nossos sonhos inocentes; ou quem sabe plantamos os sonhos no caos apenas para sobrevivermos ao mundo.
Sempre acreditei que amor e cumplicidade andavam de mãos dadas em uma relação bem-sucedida. Depois, a vida, estranhamente, me mostrou o contrário: Às vezes você ama uma pessoa do fundo do seu coração, mas não encontra em parte alguma dela, vestígios de cumplicidade... Depois de tanto buscar o entendimento, encontrei sim uma explicação: O amor segue em outra via e a cumplicidade só se apresenta quando há um grande objetivo em comum...
Não deixe que as estações lhe façam esquecer aquele instante de amor que acontece de tempos em tempos. Porque são esses instantes que fazem sentido. São eles “o para sempre” na memória dos grandes acontecimentos. É exatamente aí que as coisas não mudam; que atravessam o oceano do tempo, mas permanecem eternamente no mesmo lugar.
Não desistir de amar o amor é acreditar. E acreditar significa que tudo pode ser de alguma forma; de algum modo em outro tempo; em outro espaço; em um novo contexto. Assim como a vida que se recolhe e se refaz… E se for; se acontecer de novo; o caminho escolhido é a trilha da felicidade. Se não for, sonhamos um sonho possível.
Quando o encontro é bom, o desejo de ficar permanece inalterado. E no intervalo desse encontro descobrimos que ser presença na vida de alguém é ter a alma tatuada dentro do coração do outro.
Sou feita de uma essência que tende à profundidade, embora ame a simplicidade das coisas e viva por elas.
Um novo começo traz a superfície dos sentimentos uma velha amiga, que muitas vezes, durante àqueles momentos de fraqueza, deixamos esquecida lá no fundo da nossa alma: A esperança. É ela quem movimenta a nossa vontade! Irriga o nosso íntimo desejo de ver tudo acontecer a partir de um contexto diferente; estimula as mudanças de percurso só para nos dar a chance de ter ao alcance das nossas mãos a tal da oportunidade. E a oportunidade é quem, verdadeiramente, nos lança à possibilidade de começar tudo de novo…
Às vezes é preciso se perder nas coisas para se encontrar: Se encontrar em algum lugar; em algum tempo; em alguma estória; em algum espaço que você possa ocupar com o coração aberto e a coragem de quem sente a vida acontecer, não importa como.
Às vezes o silêncio se desenha como prece. E ausência um jeito de presença. Afastar-se do perfeito é ver as coisas como elas realmente são: Imperfeições que cumprem ciclos para se transformar em algo melhor.
A direção dos sentimentos, às vezes, muda, mas o que foi, existe de alguma forma: No passado, tempo que não volta.
A vida nem sempre compreende os nossos sonhos, mas sempre oferece os caminhos para transformar os impossíveis.
Viver bem é ter a palavra certa mesmo quando tudo gira em torno da hora errada. É deixar o desassossego adormecer de tanto cansaço e o medo ir embora por pura covardia. É permanecer por insistência; não desistir de sorrir e descruzar os braços da resistência para ser, enfim, a paz que conforta…
Quando uma história de amor não é escrita a quatro mãos, o próprio enredo diz que amor não correspondido é amor não merecido. É amor que não merece verso, nem poesia. E, às vezes, a vida grita, mas não ouvimos o seu som esclarecedor, porque ainda estamos fora de sintonia. E uma história sem sinergia deixa de ser um verso de amor para se transformar na palavra perdida no meio do caos.
Uma história de amor pode ser de mil maneiras. Pode ser uma palavra. Pode ser alguém que se destaca, entre tantos outros “alguéns”que conhecemos ao longo da nossa jornada. Pode ser um drama; uma comédia; uma epopéia; uma poesia. Pode ser contada em um único verso ou em palavras entrelaçadas que encantam os nossos sentidos. Mas uma história de amor só existe de fato, quando as mãos que a escrevem encontram entre uma palavra e outra, o mesmo significado
Hoje, não! Hoje eu não quero nada que me tire o privilégio de sentir a textura densa da vida. Nada que me faça perder a oportunidade de me perdoar pelas minhas próprias mazelas. Porque hoje o meu desejo é simples: Quero a paz lá fora para me encontrar aqui dentro.
Tudo que advém da simplicidade e dos pequenos gestos tende a ser verdadeiro, porque não precisa ser enfeitado para fazer sentido. Às vezes é melhor sentir e tocar suavemente os detalhes do instante agora, para encontrar a felicidade que a gente precisa. E, na maioria das vezes, a felicidade que a gente precisa está bem perto da gente.
Sempre acreditei na dualidade. Naquilo que acontece de verdade, sendo bom ou ruim. Na força dos contrários em nossa vida... Porque eu sou sol e tempestade.
Nada, absolutamente nada, que a gente empreenda com o coração aberto é perdido. E, às vezes, as coisas realmente não acontecem, porque o tempo delas não está em consonância com os nossos sonhos. Mas o coração, esse "bordador" de sonhos, é a casa que guarda a nossa esperança e a certeza de que tudo algum dia irá florescer no seu tempo certo.
Eu não preciso podar minhas extremidades para me encaixar na vida e no coração de ninguém. Se o espaço é apertado para receber meus sentimentos, só posso entender que não há lugar para mim… O melhor a fazer é bater a porta e sair.
(...) muito daquilo que a gente empreende fica para trás; deixa de fazer sentido; perde o seu valor quando, enfim, cruzamos o nosso verdadeiro caminho. E essa descoberta, ainda que tardia, traz ao nosso encontro a tal da felicidade e o seu conceito mais delicado: Encontrar a felicidade entre flores e espinhos é descobrir-se maior que o peso das circunstâncias.