Emiliano Lima de Araújo
Se o sangue pára, coagula
Se o tempo pára, desinteresse.
Se a pessoa pára, atrapalha.
Se a dor pára, morte.
Livre pra se desperdiçar,
o ser humano não raciona.
Derrama essência desmedida.
E se escraviza no despropósito.
Qual a sua carta de alforria nêgo?
Pága com seu suor, suas lágrimas?
O que compra, não te liberta, te estorva.
Sua necessidade é desnecessária.
Muda o canal da tua vida.
Pare de sintonizar em princesas ou Isabel's.
A tua liberdade é sorrir ao se molhar.
Se molhar de tanto rir.
Liberte-se de si,
Do meu poema, do seu edema.
Da vida que te mata, da morte em vida.
Se liberte.
E como eu fiquei zangado!
As horas passavam e eu perdia tempo,
o tempo passava e eu não estava nele.
Fiquei parado, sonhando em como seria
se todo esse dia eu estivesse com você.
Fiquei bravo, xinguei,
não podia aceitar os seus atrasos,
não podia permitir essa distância.
E emburrei por você não estar aqui.
Que idiota!
Contando os minutos pra estar com você,
enquanto você adiantava o máximo possível
o dizer adeus!
Em toda marca vermelha
Olhos fechados,
Cada ponto contabilizado
Capilares arrepiados.
A cada ponto de beijo,
Vermelho, envergonhado,
Nos olhos cruzados
Espiritos arrepiados.
Enviei uma carta pelos correios e
avisei ao destinatário:
Espere por mim!
Tem texto fazendo viagem,
tem gente trabalhando por nós.
Metro por metro a distância é vencida.
Bytes que escolhi não agilizar,
ainda chegarão a tempo
sem riscos de encherem a caixa de Spam.
Tem perfume na folha
e um beijo impresso também.
Tem saudade em gotas
que pinga borrando a tinta, marcando o papel.
Em mundos em que o afeto é vertigonoso
a própria vida passa em branco.
Sem perfumes, marcas, beijos ou poesia.
Ela é arte,
mesmo sem fazer nada.
Mas quando faz, ah, quando faz.
Torna-se também amor.
Ela é assim:
impossível não amar!
Eu sinto como inseto.
Tenho medo de pés, jornais, venenos
De tudo o que me é maior.
Penso como humano,
Sei que o tempo é curto,
A vida menor ainda.
Sei que eu em meus quase dois metros
Sou minúsculo.
Sendo assim, volto a sentir como inseto,
Preso nessa máquina
onde engrenagens tentam me esmagar.
O mundo foi feito pra gigantes,
Mas ainda tem gente que bate no peito pra dizer que aguenta.
Para as operarias que se acham rainhas,
Nos corredores dos mais básicos mercados
Compra-se iscas inseticidas.
Doeu um tanto você não ter voltado,
Doeu pra arrancar lágrima, pra pesar o peito.
Doeu retrógrado a todos os passos que dei em sua direção,
As gotas de água que no banho caíram sobre meu corpo,
Todo pensamento que tive e acabou em sorriso,
Cada pequeno sacrifício que fiz, doeram.
Tudo por pensar que você também me queria
Por onde quer que seu caminho fosse levar.
Invisível para aqueles que vêem, e só.
Para todos os outros que ouvem,
Saboreiam,
Farejam,
E sentem,
É palpável a presença
do que desperta vida.
Para aqueles que só vêem
o mundo é uma miragem.
Na parede pichada do banheiro,
xingamentos gratuitos para quem se dispuser a ler.
O cuidado ao tocar somente o indispensável
em um ambiente que inspira -Não me toque's-
é colocado em xeque ao se deparar em frente ao espelho
A esbanjar vermelho,
Com um beijo impresso.
Quando criança, pensei ser piada.
Ou mais uma forma de prender a atenção das pessoas,
sabe? Ficção.
Porém hoje já posso ver sem sequer procurar,
pessoas plugadas a tomadas
esperando a vida carregar.
Pelo que você levanta todas as manhãs?
É a falta de sono tão somente?
Mais um dia de trabalho?
Pela prole faminta ao pé da cama?
Ou mesmo se levanta
para continuar sonhando acordado?
Tem vida chamando,
com pressa para ser atendida.
E os medos que você vêm fazendo de travesseiro
já venceram a hora de também tomar Sol.
Por hábito,
não abri a janela para ver o dia,
já que havia visto anteriores.
Por hábito,
não acendi nenhuma luz,
já que continuavam mesmos os corredores.
Cerrei meus olhos e cego me tornei,
por habitualmente pensar
que as coisas todas,
permaneciam as mesmas.
Houve compromisso com um sonho,
Houve ação e também palavras, mas
principalmente ação.
Houve aurora e entardecer.
E o sonho que por fim,
teve domínio apenas
quando com olhos fechados,
tornou-se passado.
O fim é o gosto desértico que resta a boca,
ao término do gole de água do mar.
É o espasmo no corpo frio
onde o coração já não se contrái.
É buscar por brilho em olhos que já não vêm,
E ter a carne comida por vermes
sem a chance de apodrecer.
É um convite para entrar que tarda,
e faz o coração sob o sereno esfriar.
O fim segue na frente quando se para pra ser feliz.
E espera em alguma esquina
o prazo até que o alcancemos.
É deixar no amanhã, o preocupar-se em ser.
Nem todo bom dia acaba em paz,
Tão pouco todo sorriso é de simpatia,
Nem todo amor na vida é pra ser escolhido.
De todas as batidas do coração
São tão poucas as que doem.
Tanta água no mundo mas
Tão pouca é doce!
Cansei de chorar salgado,
De abraço frouxo
De coração gelado.
De fazer parte do mundo e não girar!
Hoje não há poesia que resolva.
Sem Minâncora, Mertiolate ou Mercúrio.
Estamos sem remédios para o tempo e
temos morrido irremediavelmente.
Feito de corações
o monumento se ergue.
Mais uma recordação em luto
outra guerra perdida.
E essa vida segue sem ser vida,
com a gente morrendo sem morrer.
Respirando enquanto pode.