Elciana Goedert (ciça)
NA ESTAÇÃO
Decida...
Qual bagagem quer levar?
A que está arrumada à sua frente,
Ou aquela que ficou pra trás
Espalhada pelo caminho?
Pense bem...
Perceba qual não pesa
E a que dificulta seus passos.
Só não se distraia com a dúvida,
Com os vendedores de ilusões...
Ou perderá a viagem.
RETRATO
Um olhar...
Seria ilusão?
Um breve contato
Imaginação.
Um sussurrar...
Desvanece o recato
Apelação?
Impaciente coração
Tente se controlar
Seja sensato!
MANIFEST(AÇÃO)
Tesão:
Química de corpos
Assume o controle
Adquire vida própria
Invade os sentidos
Causa sofreguidão
Libera potentes drogas:
Adrenalina, oxitocina
Noradrenalina,dopamina
Viciantes
Alucinantes
Extasiantes
Sem explicação...
É fruto da sedução
Irresistível atração
Impetuosidade
Intensa vontade
Excitação!
Vence a razão
Inebria, entorpece
Percorre a pele
De todo ser
Sem distinção
Arrepia, aquece
Até obter prazer...
Explosão!
MARIAS DESTEMIDAS
Os ideais políticos ou o medo
Tornaram camponeses lapeanos
Em "pica-paus" republicanos
Menor número. Sangrento enredo
- Fuja, e leve sua criança!
Bradou às mulheres o General.
Elas ficaram. Rebelião geral
Dariam aos homens esperança
E assim, seguiu firme Maria
Com outras, permaneceu no fronte...
Mortos? Nas ruas, viam "de monte".
Unidas, mostraram sua valia
Nesta batalha, eram guerreiras
Alimentavam e curavam soldados:
Seus filhos, maridos, amados...
Ela, Maria, e suas companheiras
As moças trouxeram o enxoval
Lençóis, toalhas e os vestidos
Era necessário, para os feridos
O véu branco, cobriu o General
"Só 72 horas!", mas resistiram 26 dias
Final do cerco: elas recolheram corpos
Filhos, maridos, amados: jaziam mortos
História não contada nas biografias.
São merecedoras desta homenagem
As heroínas do Cerco da Lapa
Relevantes figuras nesta etapa
Lutaram com fibra e coragem
VIRTUAL
Eram íntimos.
Conversavam diariamente, cada um em frente a sua própria "janela".
Um dia, esbarraram-se na rua e sequer sorriram um para o outro.
ALVORADA
Recomeçar
Sempre é tempo de readaptação...
Pra quem aprendeu como dançar
Pra quem sabe tirar os pés do chão
Recomeçar
Enfrentar o que vier com garra
No combate, nunca desistir de lutar
Tomar o que é seu, ainda que na marra
Recomeçar
Está raiando um novo dia!
Mesmo que me tirem tudo, não desanimar
Pois sempre me restará a poesia.
VIDAS PARALELAS
Em frente a tela, cada um com sua personalidade.
Ora vivendo fantasias, ora a realidade...
Viajando longe, ainda que na virtualidade.
FINGIDOR
Poeta é tão sentimental
Finge o "que deveras sente"
E às vezes é providencial
Para não parecer incoerente
Na verdade, é sua armadura
Uma maneira de se defender
Às vezes a vida é tão dura
Que só lhe resta escrever
É sua forma de se expressar
Vivendo o que é inacessível
E nele podem ou não acreditar
Mas fingir amor? Impossível!
Ele é denunciado pelo olhar
Numa alma que é tão sensível...
LIBERDADE VIGIADA
Somos todos realmente livres?
Isso suscita muitas questões
Às vezes, pode gerar melindres
Surgindo divergentes opiniões
Crer que há total liberdade
É engano, desconhecimento
Controlados, essa é a verdade
"Para nosso aperfeiçoamento"
Nossas ações tem certo limite
Nem tudo aceita nosso palpite
Somos vigiados até pela "parede"
Mas um lugar escapa ao "satélite"
Ele é livre da espionagem da rede
A mente: seus ideais não se impede