Edilson Alves
SEM PALAVRAS
Se as palavras não podem sair de minha boca, como poderei contar a você como me sinto?
Se você não está aqui para me escutar, como serei corajosa o suficiente para falar com qualquer outra pessoa?
Eu não sei, mas, a solidão se sente mais segura comigo, as vezes. Porém as lágrimas precisam escapar de minha alma, eu preciso desse socorro.
O que farei se apenas sinto escuridão? Se apenas vejo, escuridão?
Por momento, enquanto não posso te abraçar eu escuto música e as vezes choro.
Mas será que a solidão vai escapar e se sentir segura em outro lugar?
DESEJO PROFANO
O pecado que me toma
Me chama e me leva
Aos seus braços
Desejo profano.
Realidade distinta
Seus olhos me dizem
Tudo que eu desejo
Sua boca me chama
Para o seu beijo.
Nossa união
Nosso segredo
Meu desejo profano.
E A BANDA NÃO PASSA...
Ainda sou do tempo em que se assetavam na cauçada, para ver a banda passar.
Estava atóa na vida o meu amor me chamou...
Cada um dava conta dos seus afazeres. As mine-saias tremulavam ao vento.
Os homens tiravam o chapéu, ao passar em frente a matriz.
Se éramos felizes?
Talvez. Até que o poeta resolveu avisar.
Felicidade foi embora...
Hoje, já não temos esperança de ver a banda passar. E nem coragem de assentar à porta, o ladrão passa primeiro.
Na verdade, nem dentro de casa estamos seguros.
Os corruptos, estão sempre a nos empreitar. Cada um deles, querendo levar vantagem em cima de uma crasse, que ao longo dos anos vem perdendo até mesmo a vontade de sorrir.
E a banda não passa...
Também não passa a nossa vontade de anular os votos da última eleição.
Eu, particularmente, prefiro esperar mais um pouco, só não vai ser na praça, jogando milho aos pombos.
TIROS NA NOITE
Nunca tive dificuldade em andar a noite. Isso é um fato.
Me acostumei a fazer o mesmo trajeto a pé. De casa para o trabalho e do trabalho para casa.
O mal tempo nunca foi problema.
Naquela noite, caia uma leve chuva, por esse motivo tive que usar a capa para não me molhar.
Já passava das 19h. Sempre tive ao alcance da mão uma pistola do tipo sig sauer P320RX carry optic. Para envituais necessidades.
Depois de vestir a capa de chuva, botei o chapéu de abas largas, acendi o cicarro de palha, costume antigo. Sair e chegar em casa fumando.
Ajustei a pistola no bolso, ao alcance da mão. Caminhei lentamente até a saída do portão. Sem pressa segui rua afora.
Entre minha casa, e a empresa tinha uma distância aproximadamente de cinco quilômetros, trajeto que eu fazia em quarenta e cinco minutos.
Depois de vinte minutos de caminhada, cheguei a um terreno baldio, aonde sempre passava.
De repente, ouvir um estranho gemido, parei, avistei a uns três metros um corpo estendido, pude perceber que era uma mulher.
Nesse exato momento, eu já estava com a pistola colada na palma da mão, de tal forma que não fosse vista, se por acaso houvesse mais alguém nos vendo.
Quando fiz menção de me aproximar do corpo, sentir o cano frio de uma arma, encotada em minha nuca, e uma voz que dizia que eu me virasse devagar.
Contrair todos os meus nervos, e usando o fator surpresa, virei-me com rapidez, à minha mão direita, apertava firme o cabo da pistola, ergui o braço esquerdo, batendo com violência no braço armado do meliante. simultaneamente, atirei, acertando acima do umbigo do sujeito a minha frente.
Nesse exato momento, pecebi, que a mulher, que até então, se fingia está morta, caminhava para o meu lado, com um pedaço de ferro na mão. Ela estava a menos de um metro. Usando a mesma agilidade do início, deflaguei dois tiros, atingindo-a com violência acima do queixo. Ela caiu em câmara lenta.
Voltei minha atenção para o sujeito que tinha me encurralado, bem a tempo de vê-lo tentando se levantar. Me aproximei, e providencie que ele desse o último suspiro, acertando-lhe um tiro na testa.
Não tinha mais nada à fazer naquele lugar.
Continue caminhando, em passos lentos.
Chegando em casa bem mais tarde.
Naquela noite não consegui dormir, pois ao sentir a arma na nuca, fui forçado a abrir a boca, e não foi possível evitar que o cigarro caísse na lama.
E pela primeira vez eu chegava em casa sem ele.
VIVA A ESCRAVIDÃO!
O dia hoje foi corrido, cada vez que pensava em parar um pouco para descansar, vinha em mente os compromissos de final de mês.
Afinal de de conta, as "contas" só aumentam. Quer saber, até pensei em fazer aqui uma lista de tudo aquilo que tem nos tirado o sono. Achei melhor não.
Vivemos atualmente em uma sociedade de civis que não fazem nada sem pensar em uma possibilidade de lucros, e isso tem sido um motivo para tirar o sono de muitos.
A cada dia, nós nos escravisamos em um sistema de corruptos, e achamos tudo muito natural.
Participamos de caminhadas, erguemos nossas bandeira (ou quase nossa), já que não sabemos por que ou por quem estamos infiltrado nesses cenário criado por outros que não conhecemos, e se conhecemos fingimos que não estamos nem aí.
Aceitamos tudo que nos é imposto, vivemos passivamente a corrupção, e assim nos alienamos aos corruptos.
Acredito que está na hora de mudarmos nossa bandeira. Eliminando assim, algumas legendas.
Ao invés de:
"Governo não pode dá educação, porque educação derruba o governo".
Seria mudando para: "Fora os corruptos, o povo merece respeito".
E por aí vai. Infelizmente, nós não saímos às ruas para bringar pelos nossos direitos, apenas somos usados por um bando de auto assalariados, que se escondem nos escritórios das grandes faculdades, manipulando e tirando o direito de quem já não tem nada para chamar de seu.
Um povo que se deixa ser roubado, e ainda defende o ladrão, merece continuar escravo.
Um país cujas leis são lenientes e beneficiam bandidos, não tem vocação para a liberdade. Seu povo é escravo por natureza.
A tempo que deixei de dá milho aos pombos. Os ratos chegam primeiro, levando não somente o milho, mais também os sonhos.
SEM ROSA SEM PROSA
Hoje não estou pra prosa
Nem Rosa
Fogosa.
Hoje a vida é temporosa
Porosa
Maldosa.
Sem Rosa
Não há prosa
A vida se torna
Morosa
Vagarosa
Sem glosa
Sem Rosa
Fogosa.
EU CHORO
Eu choro
Choro por tudo.
Choro de raiva
De tristeza
De felicidade
E de saudade.
As lágrimas me fazem entender
Me fazem perdoar
Ou sofrer.
As lágrimas libertam
Meus maiores sentimentos.
Liberta também
Tudo aquilo
Que não digo.
Eu choro por tudo
Porque
Eu sinto tudo.
HISTÓRIA CURTA
•••••Gilberto•••••••
Tinha foguete nos pés
Era isso que os amigos diziam.
Quando descia a ladeira
Era tão rápido
Nenhum dos amigos
Conseguia alcança-lo!
Aroudo, o amigo mas velho.
15 anos.
Negrito, 13 anos
Batista, 14 anos
Eliza, 13 anos.
Gilberto, o mais novo
12 anos.
Visto pelos outros
Como o mas esperto.
O mais rápido.
Quem conseguia alcança-lo? Ninguém.
De repente a ideia do roubo.
Cabia a Gilberto a função
De deixar a porta da loja aberta.
Os amigos chegariam em seguida.
Dito e feito.
Gilberto, foguete nos pés.
Deixou a loja aberta.
Chegaram os amigos
Aroudo, Negrito, Batista e Eliza.
Gilberto, corpo franzino
Pernas finas, rápido na corrida.
Esperou, esperou...
Dormiu.
Os amigos chegaram
Não viram Gilberto.
Pegaram o que puderam.
Na saída, Aroudo, o mais velho.
Deixou o gás do fogão ligado.
Pela manhã...
Ao abrir a porta
A explosão...
Entre os destroços
O corpo franzino de Gilberto.
HISTÓRIA CURTA
▪▪Negrito ▪▪
Texto com cenas fortes.
Negrito.
Sempre pensativo
Mãe cafetina
Passava horas jogando pedra na água.
Cigarro de maconha
Na mão, um sorriso maroto nos lábios.
Negrito, menino bonito
Pele morena. Olhos vivos.
Sempre acompanhado por seus amigos.
Aroudo, 16 anos
Batista, 15 anos
Eliza, 14 anos.
Praticando peguenos furtos.
O silêncio da noite
Era sempre interrompido
Com o grito de pega ladrão.
Os becos escuros serviam de esconderijo.
Pega ladrão
Pega ladrão
Pega ladrão.
Correria...
A loja arrombada
Uma joalheria.
Tiros.
Estilhaços de vidros
O guarda foi baleado.
Pegaram o ladrão?
Mataram o ladrão.
Dois tiros nas costas.
Negrito
Menino bonito
Pele morena.
Em seu sepultamento
Sua mãe, a cafetina
Alguns bêbados.
Nenhum lamento.
AMO...
Amo
Sofro sorrindo
de amar
Nãoo posso
Deixar.
- A vida
É um sonho
Lindo
quando
A gente pode
Amar!...
AMO...
Amo
Sofro sorrindo
de amar
Nãoo posso
Deixar.
- A vida
É um sonho
Lindo
quando
A gente pode
DESERTO
Um vale
Desconhecido
Vejo...
Um lindo
Jardim...
Depois
De anos passados
Não o vejo
Nem o encontro
Não sei
Qual foi
O seu fim...
Edilson Alves
APELOS
Queixume
O Sol que declina
Por traz da colina
Qual perola fina
Mudando de cor.
Seus raios que tingem
Os lábios da virgem
Sentindo vertigem
Falando de amor.
Seus raios ondulantes
Etéreo, constante
Deixando corante
De rastro no céu.
Enquanto se ver
No entardecer
Sentindo prazer
Rasgando este véu
À noite caindo
Estrelas surgindo
O céu colorindo
A água do mar.
A vaga alisando
Suave beijando
Em tudo deixando
Vontade de amar.
A cada queixume
Exala perfume
Causando ciúme
Suspiros de amores;
Enquanto se esquiva
Se sente cativa
Sem jeito se priva
Em gritos de dores.
E nesse momento
O meu pensamento
Vagueia no vento
Do meu coração.
Procura obter
Em tudo que ver,
E parte sem ter
Uma explicação.
Sem canto sem lira
A lua se mira
E ver quem suspira
Num banco de praça.
Quem busca obter
Em tudo prazer
Um dia se ver
Sorrindo sem graça.
APELOS
Impotência
A cada gracejo
Estalo de um beijo
Matando o desejo
De quem nada fala.
O tempo escurece
O dia fenece
A noite se esquece
A lua se cala.
Em cada recanto
Sorvendo seu pranto
Sem lira, sem canto.
Procura esquecer,
A lua calada
Sem brilho, parada.
Parece chocada
Com tanto sofrer.
Além sobre a baia
Na beira da praia
Espera que saia
O sol outra vês.
Curtir novas dores
Falar dos amores
Antigos favores
Dos risos, talvez.
A rua germina
E nessa oficina
Saber quem domina
Assim tua mente.
Sorrindo te chama
te leva pra cama
Quem diz que te ama
Te torna impotente.
E nessa floresta
Ouve-se a festa
Saindo da fresta
Um beijo ofuscado,
Em pleno alarido
Se ouve o gemido
De alguém escondido
Sofrendo calado.
APELOS
Lamento
Além no infinito
Sufocas teu grito
Caminhas aflito
Em densa montanha.
A cada esbarro
Te prendes no sarro
Enquanto um escarro
Enfim te acompanha.
A noite é assim
Um eco sem fim
Alguém que diz sim
Depois se esquece.
O cantinho escuro
Sem jeito, inseguro.
Um beijo obscuro
Alguém que padece
A vida se aplica
Na voz que replica
E se multiplica
Em outros prazeres.
A noite esfria
O tempo vigia
A vida de orgia
Aumenta os seres.
A cada momento
Um vago lamento
Perdido ao vento
Fumaça se esvai.
Sem queixas, sem luta.
Na dor que oculta
Nessa força bruta
Um corpo que cai.
APELOS
Culpa
É triste se ver
Pior é saber
Que tanto sofrer
Por nós, é causado.
Em noite de orgia
Na hipocrisia
De pessoa fria
Que olham calado.
Prazeres que vem
Delírios que tem
Palavras de alguém
Querendo esquecer.
O beijo na chama
O ranger da cama
A voz que reclama
Querendo nascer.
E nesse deserto
De cal, e concreto.
Calor, céu aberto.
De dor e malícias.
No braço de amantes
Delicias maçantes
Apelos constantes
Em doces carícias.
Em cada recanto
Prelúdio de um pranto
Perdido num canto
Praguejo martírios
Um fala das dores
Aromas de flores
Antigos amores
Vividos delírios.
E nessa espera
Gentil primavera
Em vida quisera
Puder desfrutar.
Um novo afago
Sorver cada trago
De gosto amargo
Sem nada falar.
E nos edifícios
Em doces delírios
Manter-se o oficio
De multiplicar.
E nessa oficina
O ser predomina
Enquanto germina
Não pensa em parar
Procuras perigo?
Não ter, é castigo?
Dirás não consigo
Pará não convém!
Estás iludido!
Parado, vencido,
Na vida perdido
Não ouves ninguém.
Se foges da vida
Das flores nascida
Talvez esquecidas
Em lindo arrebol.
Tão lindas estivas.
Vivendo lasciva
Erguendo-se altiva
Nos raios de sol.
A VIDA É CURTA
Tu já parou pra pensar
Que a vida nos leva a sorte?
Já reparaste também
Que o tempo é nosso transporte
Nos preparamos pra tudo
Menos pra hora da morte?
Já reparaste que o céu
Nos dá sinais positivo?
A natureza acompanha
O tempo de quem tá vivo
E muita vezes nos torna
Deste sistema cativo?
Tu já parou para vê
As sagas dos animais?
Alguns parece com gente
Nós os tornamos banais
Mas muita vezes agimos
E nos tornamos iguais.
É amigo, a vida é curta
E as vezes sem perceber
Elevamos nosso ego
E sofremos pra saber
Que a humildade faz parte
De um saudável viver.
GOSTEI...
Fui a praia no domingo
Sem ter nenhum compromisso
Joquei bola, caminhei
Fiz tudo que foi preciso
Depois sorrir e falei
Gostei de ter feito isso.
Viajei para Lisboa
Nunca me senti omisso
Fui ao museu, belas artes
Assim abrir meu sorriso
Depois falei pra quem vi
Gostei de ter feito isso.
Voei para a Argentina
Nunca fui de andar liso
Fui um passeio em Górdoba
Fiz ali um compromisso
Voltei, sorrir e falei
Gostei de ter feito isso.
ADEUS TÉDIO
Pra acabar com o tédio
Fui passear de canoa
Joguei meu anzol na água
Atei a rede na proa
Tomei um aperitivo
E fui pescar numa boa.
Voltei para João Pessoa
Almocei em Manaíra
Depois voltei pra Recife
Ouvi a mais bela lira
Comi um arrumadinho
No barraco da Zumira.
Quem nunca viu, se admira
Pra espantar a fobia
E para dá fim ao tédio
Me lavei com água fria
Depois fui até Olinda
Aproveitar a folia.
Quem gosta do que Deus cria
Encontra pra dor a cura
Quem procura coisa boa
Sempre encontra o que procura
O dia só amanhece
Depois de uma noite escura.
AGORA QUEM CHORA É ELA
Já fui escravo da dor
Já dormir pensando nela
Já vaquei sem ter destino
Já dormir numa gamela
Porém me recumperei
Agora quem chora é ela.
Já dormir embriagado
Já chorei pensando nela
Passei fome, fui mendigo
Já morei numa favela
Hoje me recumperei
Agora quem chora é ela.
Tudo que me vinha em mente
Lembrava a figura dela
As noites eram mais longa
Quase fui a esparrela
Porém me recumperei
Agora quem chora é ela.
Arrumei um novo amor
Vivo agora em outra tela
Com alguém que me encanta
Forte, feliz e mais bela
O amor me fez sorrir
Agora quem chora é ela.