Edilson Alves
PASSADO
O que resta do nosso amor? Somente juras
E as antigas fotos rasgadas sobre a cama
Já não lembras meu amor, a nossa chama
Em teu sorriso, as habituais doçuras
Esqueceste os beijos, e as conjecturas
Em frases de amor, em viva flama
Hoje teus lábios o meu nome chama
Lembrando enfim nossas loucuras
Porem perdeu-se, com o tempo o afeto
Ficaram somente as marcas do passado
De um amor, febril que nos queimou um dia
Fitando os olhos no escuro e tenebroso teto
Escuto ainda o som, de antiga nostalgia!
Dos momentos felizes ao teu lado!
Vida na favela
Minha casa na favela
É pequena e confortável
Sua fachada é notável
Não existe outra mais bela
Não tem jardim nem cancela
Tem pouca água potável
O seu clima é favorável
Entra o ar pela janela
Vivo na favela e digo
Não tenho um só inimigo
Não maldigo, não reclamo
Porém para o meu castigo
Ao lado do meu abrigo
Mora a mulher que eu amo!
O QUE SINTO?
(Meus 20 anos)
Sinto que tudo que sinto
É a falta de ilusão
É um mito
O que sente meu coração
Sinto que tenho saudade
De tudo que já senti
Na verdade
Da vida que não vivi
Sentimentos que afligem
Esta rosa que nasceu
Que atingem
A rosa que me esqueceu
Nada tenho tudo sinto
Esperança de viver
O que sinto?
Sinto pena de morrer
Sou agora
Menos que ontem.
Quem sabe
Serei amanha
Menos que hoje?
Ou pior ainda
Nem lembrarei
O que fui!
Sabe!
Essa idéia me alegra.
Por isso:
Esmurro meu poema
Espremo meus neurônios!
morto!
Abro a terra: encontro um ventre.
vivo!
Abro a terra: descubro um seio.
MEU AMOR
Quisera ser o amor de tua vida
compartilhar contigo o meu caminho
Acalmar meu coração ter teu carinho
A cada minuto te chamar querida
Quisera que o destino, te trouxesse ainda
E para sempre, construir meu ninho
Bem próximos, igual a um passarinho
E desfrutar, a primavera vinda.
Quisera que o futuro te encontrasse
E em meus braços te agasalhasse
Como do sândalo, o mais puro odor
E assim todos os dias que passasse
Fôssemos apenas um, e a vida suportasse
Os lindos momentos desse nosso amor!
APRENDI FAZER CIRANDA...
Aprendi fazer ciranda
Sou formado em capoeira
Jogo de barra bandeira
Adedonha na varanda.
O cordel a rima abranda
Poeta de brincadeira
Formado na bagaceira
Bem melhor do que lavanda.
Sou criança sem brinquedo
Menino falho sem medo
Rimador sem profissão
Se amo faço segredo
Nunca firmei meu enredo
Andando na contra mão.
SAUDADE
Um homem desconsolado
Uma casa abandonada
Uma porteira fechada
Um carro desmantelado.
Um candeeiro apagado
Uma vida amargurada
Uma casinha caiada
Um jumento abandonado.
Uma estrada esquecida
Uma panela no chão
Um pouco de falsidade.
Tudo isso tira a vida
Maltratando o coração
Mostrando o que é saudade.
Recife 04/08/1992