Edgar Fonseca
Exigimos as pessoas a entenderem a nossa existência, quando nós mesmos nem sequer nos entendemos o mínimo que seja.
Em meio de muitas mágoas, a nossa condição de meros humanos nos transforma em seres cada vez mais amargos para a vida.
Morremos antes mesmo de nascermos, por isso, procuramos a nossa alma instalados em corpo humano, que para muitos, o melhor que fazem passa por alterar as características do corpo em que habitam.
Mesmo que a vida nos dê motivos para sorrirmos, apenas teremos alguns minutos de satisfação, porque logo de seguida nos lembramos que o mundo não merece o nosso sorriso.
Passo pelas marcas de um rio que me sufoca, sem me aperceber, dou por mim entregue ao abismo de uma vivência quase sem sentido.
Deixamos o mundo invadir a nossa vida por excesso de confiança e logo de seguida, descobrimos que somos seres abandonados dentro do nosso próprio eu.
O dia em que nascemos, deveria ser acompanhado da certeza que existiriam seres no mundo dispostos a nos ajudarem a caminhar pelas calçadas da vida.
No final dos meus dias na terra, existirão ondas no mar profundo da minha alma, que jamais o tempo irá sarar.
De tempos em tempos lembramos que temos uma alma, num abrir e fechar de olhos, descobrimos que não passamos de um sopro, cuja vida nos deu a possibilidade de suspirar o ar que nunca nos pertenceu.
Esgotados pelas armadilhas da vida, percebemos que o melhor que a gente tem a fazer a seguir é nos deixarmos partir entre a luz e as trevas do sono profundo.
Percorremos um caminho imenso em busca de liberdade espiritual e, num instante da nossa vida, nos damos conta que começamos a viver uma verdadeira tormenta imposta pelo mundo.
Somos marcados por desejos infinitos, mas, a nossa vida no mundo, não nos permite realizá-los a todos, por pura indecisão de nossa parte.
Um dia acabamos nos apercebendo que existimos apenas para servirmos de muletas para a vida de outras pessoas, pois, quando precisamos de apoio, nos damos conta que estamos sozinhos.
Não somos vítimas da vida, apenas sentimos o dessabor por termos aderido vir ao mundo, sem conhecemos a sua verdadeira essência.
Não renunciamos a nossa existência, com medo de nunca mais voltarmos a conhecer o mundo tal como ele nos parece ser hoje.
A pior de todas as batalhas de nossas vidas, travamos com o nosso próprio ser, pois, quando pensamos que nos conhecemos o suficiente, descobrimos que pouco ou nada sabemos de nós mesmos.
Os nossos pés pisam a terra leve que nos guia até ao infinito, sobre uma estrada sem sinalização, caminhamos em direção ao início da nossa existência.
O céu se rasga ao cair da noite, sobre as nossas cabeças renasce a lembrança de outros tempos em que tudo o que fizéssemos se transformava em vivência perfeita.
Já vai o tempo decorando o céu com as suas cores reluzentes sobre o espetacular cair do sol e, numa alegria inexplicável, dou a minha alma ao vento para me deixar embalar numa paixão sem igual.
Já reinamos sobre o castelo nobre de corações apaixonados, numa única forma de viver, dei por mim sublime, sentado no trono do amor oferecido pela vida.
Vivemos no mundo em busca de felicidade, mas, no nosso dia a dia caminhamos pela vida como meros peregrinos em busca de prazer sem sentido.
O tempo passa sobre os nossos sonhos, sobre os nossos desejos e anseios, mas, nunca nos torna capazes de desvender o mistério que existe entre o nosso eu espiritual e o nosso eu humano-material.
Para ganharmos a confiança do mundo que nos rodeia, primeiro precisamos aprender a confiar em nós mesmos.