Demétrio Sena - Magé-RJ.
Amigo é água de poço
em terreno seco e alto:
Está sempre lá no fundo,
quase fica d´outro lado
do próprio mundo...
Obrigado por brotar
nesta longa escavação,
quando prestes ao cansaço
quase volto, ou de repente
caio no Japão.
Serra cresce e Dilma frisa
que a partir de agora é guerra;
já na próxima pesquisa,
Dilma cresce e José serra.
Enriquecer por aposta é o que se pode classificar com propriedade como "passar desta para uma melhor". É que acabam aí os desafios relevantes e não se vive mais. O feliz infeliz tem pela frente uma eternidade para desfrutar do que não conquistou e jamais saber se o conseguiria por mérito pessoal. Em suma, quem acerta na "sorte grande" morre e vai para o céu.
NOVOS PÉS
Esfriei o teu canto nas minhas entranhas,
Pois perdeste o sentido no meu sentimento,
Foi um vento sutil que me arejou pra vida
E limpou este pátio para um novo ciclo...
Não insista que pense numa reciclagem,
Relação como a nossa nem é sustentável,
Desmatamos demais o nosso fundo ambiente;
Fomos algo intragável para qualquer tempo...
Resolvi declarar esta vaga em aberto,
Sem cair nas lacunas que já me fecharam;
Vou a busca do incerto; não quero remakes...
Joguei fora o café que não vou requentar,
Quero ter sob o mapa ou a planta do pé,
A leveza insondável de novas poeiras...
Sempre haverá uma amoreira no meio do caminho, apesar da pedra, para reabastecermos o desejo e a esperança do amor perfeito; verdadeiro; eterno... Sem amorragia.
Cheguei à fase em que só quero comigo gente que saiba sofrer sem sofrer. Quero espécimes que não morram nos tempos de sonhar... E que além disto, não tenham vício de chegar somente nos pontos de arremate, assim que o resto já foi feito.
Não quero, enfim, aquela espécie de gente que dorme na hora de viver, porque hoje, busco a certeza de conviver com pessoas... jamais com sombras, vultos, muito menos fantasmas ou zumbis... Aqueles que já cumpriram seus dias de nem se sabe o quê.
Posso resumir meu querer ao desejo de me sentir no mundo... e o mundo, meus caros, é um lugar de gente viva... Não de quem esqueceu de se decompor, pois na verdade vive morto.
Só a paixão é arrebatadora. O amor, ao contrário, é o que nos resgata e recompõe, quando a razão educa o sentimento.
Pedir é pior do que roubar, porque o pedinte é aquela pessoa que desistiu de tudo, até mesmo de tomar da sociedade uma parte do que julga, equivocadamente, seu.
Onde muito se lê filantropia, tenha cuidado: São enormes as chances de se ter que ler pilantropia. E quando alguma campanha espalhafatosa e massificada se diz em prol de crianças carentes, procure discernir bem os discursos das práticas: É quase certo que os alvos não sejam crianças nem carentes, mas, adultos parentes.
Onde não há espaços culturais nem para entretenimento sadio, proliferam "batidões" idiotas que saem dos capus de carros encostados nas praças, ou estranhos templos religiosos que, no fundo, funcionam mais como clubes ou cristotecas que "dão uma força" pra ignorância popular e enriquecem líderes de festim.
A diferença entre carros e motos em auto-estrada está no fato de que os carros têm origem, também destino. Surgem sempre de algum lugar e aqueles que os dirigem sabem para onde vão. Já as motos, não. Não existe um ponto de onde saem. Elas são aparições repentinas em qualquer estrada. Motos, pra dizer a verdade, são fantasmas. Surgem do nada, em alta velocidade, vão para o nada, e dispostas a tudo. Inclusive a nos transportar também para o nada, na companhia de seus pilotos que parecem não ter nada a perder...
Suicídio é quebra de contrato com o destino. É a desonra terminal de um caloteiro que não quis pagar o preço de viver.
Errando ou não, é vivendo que se aprende... portanto, não ache errado acertar nem se orgulhe de cometer erros.
Aquilo de que não gosto não tem que ser o que não presta... pode ser apenas aquilo de que não gosto.
Depois de tantos caminhos e vivências pelos labirintos do fazer cultural, já posso arriscar a minha máxima: Quase nada é tão superficial quanto a crítica especializada, nos casos em que apenas pretende abonar e desabonar publicamente as artes, a literatura e seus fazedores. No meu conceito nenhum ator, músico, artista plástico, escritor, bailarino ou fotógrafo é menos ou mais talentoso porque alguém o rotulou e ao seu produto. O termômetro que determina o sucesso e a eficiência de uma apresentação, mostra ou lançamento é a do público ou clientela, seja por consumo, aplauso, visitação, acesso (...).
O que tenho a dizer de relevante a todo fazedor cultural que sofre com as perseguições renitentes da crítica, não obstante o alcance de seus feitos e o reconhecimento popular, é algo bem simples. Tão simples quanto notório, contundente ou redundante: Se o seu fazer é consciente, não fere a cidadania nem o direito alheio, continue se apresentando para expectadores; cantando para ouvintes; escrevendo para leitores; expondo para visitantes reais, que sabem sentir com os olhos e analisar com o coração.
Quanto a crítica tendenciosa, deixe-a de lado. Sequer critique os críticos, pois no fim das contas, eles têm alguma utilidade: São figuras essenciais para os indivídos que precisam de quem goste ou desgoste por eles.
Eis aí uma tamanha incoerência: Doar para o Criança Esperança e não enxergar as crianças carentes da casa ao lado, que jamais serão contempladas por nossa doação.
Acho que a cura da humanidade mora do outro lado de nossas procuras, que são sempre as mais infelizes.
Sei muito bem quando a hipocrisia se oculta em gestos e discursos para me levar à degeneração do íntimo, comprar minha consciência, meu silêncio e cumplicidade. Aprendi a saber onde mora uma sacanagem polida e quando se põe a minha frente um canalha bem educado.