Demétrio Sena - Magé

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AMOR DE SÓTÃO

Demétrio Sena - Magé

Tenho medo que a força de minha carência
e de minha fraqueza, do meu ponto fraco,
fique sem aparência de firmeza em mim
ou se forme um buraco na velha esperança...
Vejo a hora do medo enlaçar a coragem
pra gritar o tamanho do quanto sou só;
derreter a miragem da falsa frieza
e lançar meus sentidos no fim da razão...
É preciso manter este amor entre véus;
afagar o desejo como sempre fiz;
ser feliz pelo quase, como quem é mesmo...
Preservar a magia desse pelo menos,
possuir os teus olhos, o silêncio, a calma
e tu'alma discreta nas margens da pele...

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MENINA TRISTE

Demétrio Sena - Magé

Quero dizer à menina triste, que o mundo pode ser bem melhor do que a existência dos tios monstros... dos possíveis padrastos, pais e outros que também são... das mães caladas e coniventes, porque permitem ou não acreditam nos olhos, nos medos, palavras, intuições ou cuidados das filhas... do que os vizinhos que também abusam, quando a confiança dos responsáveis é irresponsável, por insuficiência de amor.

O mundo pode ser melhor (e maior) do que o moralismo assassino de quem lhe culpa por ser a vitima... quem lhe condena pelo crime de ser violentada e quer que você assuma todos os pesos, preços e tributos do que sofreu e ainda sofre, só por lembrar. A vida pode ser bem mais doce do que a dureza das religiões que você conhece; a intolerância, o fanatismo e o preconceito inerentes ao cristianismo que se dissociou de Cristo, para ser customizado pelas trevas da ignorância... pela cegueira dos dogmas politicopartidários, ávidos pelo poder e as vantagens dessa nominata.

Por favor, menina triste: não se permita condenar pelos pregadores do inferno, que se julgam donos do céu. Pelos anjos do mal, que vomitam sucos gástricos de um bem que não me quero; muito menos ao próximo; às pessoas que amo. Livre-se das amarras do ser humano; dos corretores de um Deus perverso e diabólico e das escritutas profanas a partir de seus atos contraditórios... dos mergulhos na lama de uma parceria podre com esse poder mais podre do que nunca, instalado no intestino grosso deste país... no palácio das alquimias nojentas em busca de mais e mais poder.

Sobretudo, menina triste; acredite mais em você do que em toda palavra dos que a cercam. Bata um papo sincero com o seu coração, e se você busca Um Deus, há de achar aí dentro; não nas pregações mentirosas, contritas ou barulhentas, dos que sempre tentarão manipular sua fragilidade; modelar seus conceitos; fazer jogatina com seus medos e possíveis superstições. Seja feliz de dentro para fora.

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⁠NA SELVA DA ESTABILIDADE PRIVADA

Demétrio Sena - Magé

Há grande mérito em se prestar um concurso, ser aprovado e admitido em uma empresa pública. Dificilmente se conquista um emprego dessa natureza, sem empreender esforços admiráveis, muito estudo e disciplina. Infelizmente, muitos não repetem ao longo da carreira os méritos iniciais, conscientes de que o poder público não é muito criterioso com quem já ingressou na máquina pública e passou pelo período de aprovação. Com isso, os funcionários públicos competentes e trabalhadores permanecem, mas os incompetentes e alguns que até pasaram de formas inexplicáveis, também. A menos que cometam algo muito grave.

Na empresa privada, os empregos são escorregadios. As hierarquias ostensivas e permanentes testam a cada dia os nervos, a estabilidade emocional, a inteligência psíquica e a competência específica de cada funcionário, sempre com o sinal de alerta de que a vaga está na corda bamba. É como se houvesse um reconcurso diário, para reafirmação da garantia do emprego. A concorrência está sempre ao lado e a capacitação permanente que o próprio trabalhador se obriga, não é apenas para promoção. É para não ceder o seu lugar ou não ser incluído entre os passageiros do próximo navio de cortes para economias diversas.

Como existem alguns funcionários públicos inexplicavelmente aprovados, muitos funcionários da iniciativa privada não foram, inexplicavelmente, aprovados na máquina pública. São esses, os que só saem de seus empregos quando querem ou por falência das empresas. Pessoas que por inteligência psíquica; neural; por méritos diários, reincidentes, critérios e capacidade sem fim, conquistam a estabilidade que a lei não lhes assegura. Trabalhadores que se constroem ao longo da vida e ajudam a construir ou elevar "suas" empresas aos patamares que elas alcançam.

Minha total admiração aos funcionários públicos que fazem jus - mesmo estando seguros em suas vagas - aos empenhos e desempenhos que os efetivaram de uma vez por todas, lá no início. E de forma especial, minha total admiração a todos os que fazem de suas aposentadorias, cinturões de lutadores pesos pesados que lutaram a vida inteira, quase ao pé-da-letra, sem amparo definitivo nem trégua e sob os olhares constantes dos que podem, de uma hora para outra, dar um tombo frio e cruel em suas carreiras.

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MOMENTOS E LACUNAS

⁠Demétrio Sena - Magé

É um ter de não ter, mas estar lá,
sob um plano que às vezes vem a mim;
dá um fim provisório ao meu abismo
entre os dutos de pura nostalgia...
Nessas horas me agarro ao infinito
e repouso em seu colo, suas mãos,
em um rito no qual se faz silêncio
pra ouvirmos os nossos pensamentos...
Minha pele suplica o seu carinho
que se faz num passeio lento e longo,
feito vinho que a língua saboreia...
Depois vem outro tempo que lhe afasta;
nos arrasta, nos põe além de nós,
pra mantermos a nossa raridade...

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URUBUS DA CULTURA

⁠Demétrio Sena - Magé

Jamais me recuso, quando posso, a me dispor financeiramente para ser incorporado a uma causa cultural popular ou altruísta... compor uma classe ou grupo relevante, muito embora eu sempre possa bem pouco, por ser pessoa de condições econômicas modestas. Como tenho braços, mãos, algum tempo livre, boa cabeça, e dizem que tenho atributos culturais, utilizo-os repetidamente onde ninguém use uma causa coletiva, uma ingenuidade exposta ou deslumbramentos de um semelhante, para colher status ou benefícios pessoais.

Mas ninguém conte comigo, em nenhum meio e contexto, como alguém que se preste a comprar elogios, pagar por acesso a pódio e para ser considerado vip; um dos melhores; talvez o melhor. Não daria um centavo por uma vaga em qualquer elite; a menor apologia ao meu nome; nenhuma honra ao mérito em papel, placa, outro objeto. Só aceito felicitações e reconhecimentos naturais que não me ponham acima de nenhum semelhante. E se existem valores pessoais que movimentem os financeiros, que tais valores não onerem, mas recompensem quem os tenha. Ou serão simplesmente valores invertidos.

Aceitar essa forma viciada, espertalhona e sobretudo exploradora, de reconhecimento, seria contribuir com os preconceitos que me constrangem... fomentar criação de guetos... ajudar a expandir as desigualdades sociais, que já são imensas e fartas. Seria me juntar aos que mostram às pessoas de condições econômicas ainda mais modestas do que as minhas, que o mundo não é para todo mundo... a sociedade é antissocial. Que talento e dinheiro têm que andar lado a lado, atendendo às "devidas" proporções.

São inúmeros os talentos que produzem arte à margem da fama, do poder econômico - geralmente ligado ao político - e do alcance de olheiros ou mecenas. Talentos aos quais só chegam os mesmos aproveitadores; vendedores de medalhas, menções honrosas, cotas e vagas em grupos onde ficarão também à margem. Ninguém que os reconheça como prestadores de serviço; detentores de produto; proprietários de um bem precioso; profissionais respeitáveis.

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⁠MILHÕES DE VEZES

Demétrio Sena - Magé

Mais um ano, mais outro, até jamais,
quando menos minh'alma der por si,
quanto mais demorares mais terei
meu aqui, meu agora em tua espera...
Submisso a teu tempo, teus instantes
de saudades, lembranças, nostalgias,
conterei meus rompantes e chamados;
contarei os meus dias como gotas...
O que faço do sonho nem eu sei,
mas me guardo na lei do meu silêncio
aos caprichos da própria eternidade...
Minha espera por ti é vida inteira;
uma beira de abismo sob os pés;
um contar até dez milhões de vezes...

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⁠CONVITE

Demétrio Sena - Magé

Nunca tive o sossego dos de vida ganha,
como nunca senti que poderia tê-lo,
ser de gelo ante os males do mundo em redor
nem usar artimanha pra viver em paz...
Porque há desconforto no menor conforto,
desde quando beirei a tragédia da fome,
da pessoa sem nome, dos becos escuros,
das meninas de porto e garotos de rinha...
Se me rendo a ter casa e familia sadia,
não existe um só dia em que não sinta muito
ao sentir o meu pouco limitado aos meus...
Conheci bem por dentro a vida no limite
e não sei me poupar, porque sei como é;
tudo faz um convite às lembranças de lá...

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⁠A FARRA DA "FÉ"

Demétrio Sena - Magé

Se o templo de sua grei religiosa é amplo e suntuoso... se os seus líderes (dos auxiliares ao mandatário absoluto), levam vidas com as quais você sequer sonha, e não as teriam se dependêssem de seus ofícios laboriais, está na hora de repensar sua participação no grupo. Será que você compõe essa casta? Compõe mesmo, de igual para igual? Ou é tão somente um servo, colaborador sempre voluntário e pagador fiel de seus "impostos sobre fé", que sustentam essa farra cada vez mais pendurada nas mentiras e armações dos poderes públicos e privados?

Não se aceite mais como peça do engenho viciado, pernicioso e sem limites, de ascenção e manutenção do poder dessa elite nojenta, cinica, perversa e deteriorada, humamente. Deixe de ser "peça importante" (apenas) na hora do dízimo... do voto de cabresto que mantém políticos ladrões nos cargos... ou também elege pastores, padres e outros líderes que depois cuidam dos interesses pessoais e mantêm as ovelhas no mesmo pasto seco... onde só servem para servir, ainda que se julguem prestigiadas quando figuram em participações de púlpito.

Compare o templo de sua grei com a casa modesta ou precária em que você vive. Não tenha inveja; isso é indigno... mas compare também a vida que seus líderes levam, graças aos resultados do seu trabalho, seu voto de cabresto e seus préstimos, com a vida que você oferece à sua família. Agindo assim, se permita o poder da indignação; da rejeição à injustiça. Quando a própria igreja se transforma na "roda dos escarnecedores", não se assente mais nela. Sua fé pessoal, sem vínculos corporativos, há de ser bem aceita pelo Possivel Deus e o próprio criador do cristianismo, agora tão aviltado.

Um Bilhão em dívidas das igrejas com o poder público serão perdoados, a menos que haja muita pressão da sociedade, para o presidente vetar o perdão. Dinheiro nosso, desperdiçado, e quem é cristão, roubado em dobro, pois o seu dízimo sempre sustentou sua igreja. Igrejas têm benefícios fiscais do poder público. Algumas pagam pouquíssimos encargos sociais; a maioria nenhum. Toda dívida é injustificável... mas quando o assunto envolve interesses políticos, elitistas, eclesiásticos, o Brasil não tem crise; o suor de nosso trabalho proverá.

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⁠CHURRASCO

Demétrio Sena - Magé

Onde as vítimas amam seus verdugos,
vejo tempos difíceis de aceitar;
não há como inventar uma esperança,
quando nada sugere a primavera...
Quero muito blindar os meus afetos
ou brindar à magia de viver,
mas os vetos de minha consciência
são mais fortes que tantas tentativas...
As pessoas se alegram na desgraça,
porque sonham cumprir uma missão;
a nação se declara boi de corte...
Já não sinto que aqui é o meu país,
ser feliz é maior do que sentir
que virei o churrasco do poder...

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⁠PRIMAVERA

Demétrio Sena - Magé

O meu desejo,
se o verde aflora;
se a cor impera...
É dar um beijo
na tia flora;
na prima vera...

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⁠ALFORRIADO

Demétrio Sena - Magé

Para mim não há vida, se o laço dá nó,
se o afeto não pode respirar sozinho;
quando já me sufoca, prefiro ser só;
a gaiola de luxo não supera o ninho...

Quero cama que nunca me roube o caminho;
tomar banho e de novo me cobrir de pó;
vestirei os meus trapos, caso a seda, o linho
manipulem no contra; dominem no pró...

Que ninguém se nomeie senhor ou senhora
do meu tempo, meu vir e do meu ir embora,
pois me prendo e me solto pela minha chave...

E ninguém se pretenda ser meu adivinho,
decidir quando passo da pinga pro vinho,
se viajo de sonho, de charrete ou nave...

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⁠DE CONFIANÇA E RISCO MORAL

Demétrio Sena - Magé

Muitas vezes veladamente, mas a sociedade considera os ofícios de ator, tatuador, fotógrafo, até bailarino e tantos outros/outras ligados às artes interativas ou de contato, como de risco moral. Esse pensamento engessado leva em consideração as supostas chances de abusos cometidos por profissionais ou de seguidos relacionamentos eróticos consensuais e relâmpagos.Tal preconceito quase não considera esses trabalhos como trabalhos. É como se as pessoas tivessem desde bem novas, determinadas taras que um dia precisarão disfarçar de profissões.

Em todos os setores da sociedade existem os profissionais e clientes abusivos. Quase todos os contratados por pessoas ou empresas lidam, em algum momento, mais reservadamente com determinados contratantes ou colegas de trabalho. É neste momento que a confiança mútua tem que se fazer valer, observadas as atitudes, os olhares, ambientes e possibilidades de concretização de uma possivel intenção distorcida ou perigosa. Seres humanos devem ser pensantes, observadores, criteriosos e procurar saber profundamente com quem lidam tanto no dia a dia quanto em determinadas ocasiões. Contratar um profissional, não importa para qual trabalho, exige cuidados e critérios, de ambas as partes, que podem reduzir drasticamente as muitas possibilidades de abusos.

Qualquer profissional que não tenha boa indole poderá tentar se aproveitar de alguma situação. O entregador, da confiança da dona de casa... o professor e a professora, do fetiche de alguns alunos e alunas... o médico, da inocência da paciente que não se importa com a falta da enfermeira em determinados procedimentos... o pastor, padre, guru (...) da fiel que lhe faz confidências, confissões ou pede conselhos e nem percebe seus olhares compridos que levam a gestos inadequados visando mais e mais... o pediatra, da negligência de pai ou mãe que não atenta para o quanto é importante a sua presença, mesmo que a criança ou adolescente seja pura esperteza. Motorista particular, atleta, cantor(a), enfermeiro (a), militar, normalista, encanador... todos podem ser vítimas, algozes ou simplesmente se valer do fetiche alheio.

Na hora certa, o que vai determinar atitudes é o conjunto caráter/cuidados/observação/critério/bom senso. Esse conjunto pode afastar abusos ou atos consensuais que ferem o profissionalismo. O que jamais pode haver é a generalização de um preconceito enraizado que sempre se impôs a determinados profissionais, quase todos das artes. Não é a profissão que é de risco moral... é o ser humano como profissional, colega e cliente. "Se um não quer, dois não brigam" e se ambos fazem valer seus critérios, exigências e cuidados, a confiança não será traída.

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⁠O MESMO AMOR

Demétrio Sena - Magé

Eu queria um querer de sua parte,
que não fosse por tanto me dispor;
um amor que viesse por vontade;
sem a tal condução coercitiva...
E queria sentir que também sente
a saudade sem freio nem medida,
minha vida jamais foi sua em vão,
nestes anos de muitas nostalgias...
Sempre tento me abrir pra realidade,
após tantas leituras de nós dois;
tanta idade perdida no meu tempo...
Apesar dos sinais e dos avisos,
dos juízos finais que já vivi,
eis aqui meu clamor de cada dia...

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⁠CRISTIANISMO ELEITORAL

Demétrio Sena - Magé

A frase mais infeliz - e sacana - que ouvi a todo momento nas últimas eleições presidenciais foi a tal de "cristão vota em cristão". Foram essas eleições do tal voto cristão corporativo das igrejas e seus interesses nada cristãos que ascenderam, por exemplo, aos cargos máximos do país, do Estado e da capital do Rio de Janeiro, três monstros nojentos e cruéis... capazes das piores tramas para se darem bem, sem a mínima importância ou atenção aos mais necessitados... aos que hoje sofrem como nunca, os efeitos da obediência cega e intransigente aos líderes que negociaram seus votos e se deram bem às suas custas.

Não é de hoje que a filosofia do "cristão vota em cristão" é imposta como imposto - ou dízimo ideológico perverso - aos membros das igrejas cristãs deste país... notadamente as igrejas evangélicas que, salvo exceções, não poupam esforços para seus municípios, estados e o país terem no poder público representantes apenas seus. Executivos e parlamentares que obedeçam às lideranças pastorais, com a criação e aprovação de leis que as empoderem... perdoem suas dividas e as tornem cada vez mais ricas, dando aos membros mais simples a ilusão do mesmo poder na terra, mas a riqueza, só no além; no sonhado céu.

Ao empoderarem as lideranças, os poderes eleitos pelos votos cristãos de cabresto não precisam temer nada... podem ser corruptos, racistas, raivosos, ditadores e destruidores da natureza, pois tudo é perdoado pelo toma-lá-dá-cá... pelas vantagens, nomeações em secretarias, ministérios e outros setores em todas as esferas. O bordão correto para o contexto seria "Cristão vota em cristão, de fato ou não". Ficaria evidente que basta o candidato se auto declarar e oferecer aos caciques todos os poderes, vantagens, facilidades, trânsitos, influências... e aos meros fiéis, ilusões e o poderzinho básico sobre não cristãos.

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O NÓ CEGO DE ALGUNS NÓS

Demétrio Sena - Magé

⁠O segredo é saudável, se não for indigno... se não for infidelidade... ou se puder poupar o outro de mágoas desnecessárias e a nós mesmos de mal entendidos. Além do mais, nem tudo é conjugado, conjugável nem a dois... ou nunca teremos um momento para sermos nós; indivíduo; pessoa; unidade.

Embora gêmeas, as almas devem continuar divisíveis, para cada uma não perder a própria essência... e se duas carnes realmente são uma só, que ambas as metades desfrutem, vez e outra, de auto permissões e até permissividades pessoais que lhes façam felizes... entretanto, sem que signifique a infelicidade ao lado.

Queiramos isso tanto para nós mesmos quanto para quem amamos. Permutadamente, a ausência total da individualidade de um e de alguma inocência do outro pode ser bem nociva para o próprio par. É como se vivêssemos sob constante suspeita e aquela necessidade contínua de provar nossa índole.

A relação a dois em que os pares perdem completamente seus eus para o nó cego de um nós indivisível, concreto e radical não é uma relação de amor... é, na verdade, uma - talvez velada - relação de custódia.

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⁠TERMINAL DA SAUDADE

Demétrio Sena - Magé

Comecei a deixar que a saudade resvale
pelas fendas dos dedos que a mão relaxou,
pelo vale das sombras de minhas lembranças
que jamais conseguiram provocar um eco...
E minh'alma se cala, quase se amordaça,
não emite palavras, pensamentos vãos,
afinal tudo passa, como sempre aprendo
entre nãos escondidos nos velhos talvezes...
A saudade já sabe que passou do tempo,
que meu corpo deixou de ser templo adequado,
se me torno passado pra margem oposta...
Sinto muito e não peço que sinta por mim,
pois o fim é prenúncio de qualquer começo,
é um preço bem justo pelo que sonhei...

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⁠SOBRE EU TE AMO

Demétrio Sena - Magé

Vou dizer que te amo ao me achar nesse texto
que minh'alma redige na sombra do tempo,
no contexto sereno das minhas palavras
ancoradas no cais de um querer consumado...
Eu só digo eu te amo depois de curtir
o que sinto em azeite, cebola e vinagre,
pois preciso sentir que o que sinto é maduro
pra saltar num abismo e nem olhar pra frente...
Meu afeto é profundo e se deixa fluir
e florir na miragem dos frutos vindouros,
nos quais tenho esperança e dispenso a certeza...
Quando menos achares que chegou a hora
ou a minha demora fizer duvidar,
vou te amar como agora e dizer eu te amo...

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⁠MULHER

Demétrio Sena - Magé

A mulher se pertença e rompa os muros;
quebre algemas, ferrolhos de opressão,
tenha o seu coração forjado em fibra
contra os duros contextos deste mundo...
Ache as forças reservas onde as forças
queiram dar seus empenhos por vencidos,
os milênios perdidos em silêncios
empilhados de gritos e de ações...
Que a mulher nunca pense que já basta
nem que os homens quitaram seus fiados
entre agrados, lisonjas e bravatas...
Tome as rédeas e dome as sociedades
que a massacram no tempo e nos espaços
ou nos passos que a vida lhe dispõe...

⁠ÀS MULHERES DESTE SÉCULO

Demétrio Sena - Magé

Minha esposa não é minha mulher. É minha esposa. Seria minha sócia, se tivéssemos um negócio em comum. Colega de trabalho, se trabalhássemos juntos... inimiga, se nos detestássemos. Para ser mulher, ela nasceu mulher. É sua natureza biológica ou anatômica (isso não é aula). Já era quem é, quando a conheci, como ainda será, se algum dia nos separarmos.
A mulher que foi minha mãe precisou me dar à luz, para tanto. Minhas irmãs nascerem da mesma mãe... ou não seriam minhas irmãs, o que não as tornaria não mulheres. A Bete, minha cunhada, não a seria se a sua irmã não fosse minha esposa... e as amantes que não tenho, não são minhas amantes e nada existe que as "desmulherize" por isso.
Namoro, casamento, qualquer outra relação amorosa não nos torna propriedades um doutro. Pelo menos não deveria... não deveria roubar o nosso pertencimento intimo e pessoal... nossas vontades individuais e o que fazemos delas. Ambos ou ambas devem continuar senhores de suas consciências, donos de seus corpos, pensamentos. escolhas, sins e nãos.
Mulheres... não sejais submissas a vossos esposos. Eles não são seus donos, homens ou senhores, e sim, esposos. Não haja hierarquia entre o casal! Cumplicidade, acordo, compromisso, entendimento e parceria sim... hierarquia, relatório, constrangimento e liberdade vigiada, não. Sejais esposas de vossos maridos, mas vossas próprias mulheres.

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⁠CORRENTES

Demétrio Sena - Magé

Quero fartas correntes de remansos;
cachoeiras e rios caudalosos,
ventos mansos, o ar em movimento,
minhas asas de sonho, inspiração...
Não me mandem correntes de "Pai Nosso",
de agonias, clamores insistentes
aos buracos vazios do infinito
que nos põe mais doentes e pedintes...
Busco laços de afetos e mãos dadas,
os abraços por ora recolhidos
das estradas do mundo em desalinho...
As correntes de choro e depressão
numa fé cabisbaixa e desvalida,
são alheias à vida na qual creio...

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⁠COBRA FERIDA

Demétrio Sena - Magé

Minhas veias têm versos que jamais compus,
porque mágoas tão fundas não podem fluir;
a minh'alma tem pus, acumula segredos
que não sei dividir sem pesar n'outras almas...
Eu me fumo e não solto, sou fumaça presa,
já tomei cada gole do fel desta vida,
sou a cobra ferida que adentrou a lenda
e prefere ficar, pra não ferir o mundo...
Meu estado é de sítio convertido em coma;
tenho a soma das dores que o tempo produz,
mas não ponho na conta; na cruz de ninguém...
Tanto quanto preciso me abrir ou expor,
por favor eu preciso contar só comigo,
nos limites dos versos que sufoco em mim...

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⁠SOBRE A BÍBLIA E O SER HUMANO

Demétrio Sena - Magé

Jesus Cristo veio ao mundo, porque o Destempero do Pai, ao expulsar do reino superior o seu anjo mais querido e talentoso, só piorou as coisas. E por toda a eternidade... porque o perdão e a segunda chance teriam sido a salvação de tudo, além do exemplo divino para todos os sermões que tratam de virtudes.
Ele veio, porque Deus não aprendeu Consigo mesmo e voltou a ser Destemperado e Truculento em muitas outras ocasiões. Quis ensinar a humanidade com violência... enviando pragas... ordenando guerras... destruindo povos... enviando assassinos ungidos que mostravam no fio da espada, como Ele era Terrivel... Fogo Consumidor... Implacável com filhos ou criaturas desobedientes e como suas desgraças alcançavam gerações e gerações dos que O desobedeciam.
O filho veio, porque O Pai só metia Os Pés pelas Mãos... exigia sacrifícios e sacrifícios, dos lideres de sua criação mais primorosa... provas e mais provas de amor que destruíam por dentro, os escolhidos mais sensíveis... tecia plano sobre plano, de uma salvação muito cara... pesada... impossivel mesmo, para os limites de uma humanidade já inteiramente contaminada pela fúria do anjo expulso e vingativo, que se sentiu injustiçado... sem direito à defesa... e sem O Perdão Divino, sobre o qual sempre ouviu, tanto no reino superior quanto do reino que lhe foi imposto depois.
Sim, Cristo veio, porque Deus não parava de fazer burradas e chegou a destruir quase toda a humanidade com um dilúvio que foi também um fiasco. Sempre Raivoso e Vingativo, talvez estivesse prestes a pôr em prática um plano que acabaria, de uma vez por todas, com o menor indício do ser humano. Mas o Pai repensou... evoluiu... finalmente cedeu À Própria Consciência e recorreu ao filho, como prova do Seu Grande Amor pela humanidade, que vinha sendo exposto ou declarado de formas extremamente brutas, equivocadas e sem nenhum resultado.
Não há críticas ao Pai, e sim, o reconhecimento de que Deus teve que ser Muito Deus, para recorrer ao filho e pedir ajuda... para não ter que destruir a criação "menina dos Seus Olhos" nem perpetuar uma condução sangrenta, mutiladora e bélica, da humanidade. O Pai decidiu ser Pai Amado e não Temido... para tanto, abriu Mão do amor humano obrigatório e deu liberdade aos filhos/criaturas para decidirem seus caminhos, conscientes dos preços naturais da escolha entre o bem e o mal, convertida em atos.
O filho sabia que O Pai sabia que a humanidade já estava (está ) contaminada pela expulsão "do anjo", e que a solução era parcial. Sabia (e sabe) que uma parcela imensa da humanidade já se tornou muito raivosa e intolerante... nem um pouco disposta a ser humilde o suficiente para perdoar Deus e aceitar o Seu Plano de rendição à paz e ao amor como os únicos dispositivos capazes da salvação global.
Agora, O Pai sabe que não há melhor plano e se compraz com as mulheres e os homens que aderem com sinceridade. É Cônscio das muitas distorções gananciosas e ávidas de poder das lideranças religiosas que usam seu Nome com má fé e manipulação... dos messias e deusezinhos que O substituem nos corações dos falsos fiéis tomados pelo sentimento de ódio, vingança, julgamento e condenação gratuitos do próximo em nome do fanatismo, a prepotência e a luta insana pelo comando e o protagonismo ilusórios.
Quem me conhece e sabe que a Biblia não é meu livro de regra e fé, por outro lado sabe da imensa admiração que tenho pela figura de Jesus Cristo como grande personagem da história universal. Um grande homem, cujos ensinamentos poderiam, sim, salvar a humanidade pela simples prática diária, se não estivessem mesclados à pratica, interesses escusos, vaidades, busca de poder pessoal... mentiras... hipocrisia.
Nestes escritos, meus olhos adentram olhos que leem a Biblia como reforço e manutenção da religiosidade, para propor um olhar crítico sobre o entendimento comum. Segundo ela, Deus repensou seus atos por amor à humanidade, que não se dispõe a fazer o mesmo, por amor a si própria.
É o que penso, e no que posso estar errado... e como posso! Minha opinião é somente minha opinião... não sou nem pretendo ser o dono da verdade... apenas alguém que se propõe e propor.

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⁠DOS PERFEITOS E SANTARRÕES

Demétrio Sena - Magé

Jamais cometi um crime. Mas não posso tentar negar que já cometi muitos erros. Alguns, com uma grande carga de gravidade. Sim, eu deploro muitos passos que hoje não daria... tenho grandes arrependimentos... nem ouso dizer que agora já não erro, mas não queria ter cometido sequer um décimo dos muitos e muitos erros graves que me carimbam.

Ser pessoa reconhecidamente marcada por tantos atos repreensíveis pode não ter sido exatamente um doutorado para mim. Nem todo mundo aprende o bastante com os próprios erros... alguns não aprendem nada... mas uma lição importantíssima não escorreu entre os meus dedos: ter errado como errei, saber exatamente os caminhos que o ser humano toma (muitas vezes crendo que acerta ou que o erro se justifica), fez de mim pelo uma pessoa mais tolerante, compreensiva e menos hipócrita em relação ao próximo.

Aprendi a não julgar tanto. Se às vezes caio na tentação, não o faço publicamente nem condeno como se eu fosse o único membro de um júri ou simplesmente o juiz. Quando sei que alguém errou, lembro do quanto sou errado e, se não posso ajudar, deixo que o julgamento e o veredito fiquem a cargo dos perfeitos e santarrões que incham a sociedade.

⁠VENDILHÕES DO PRÓXIMO

Demétrio Sena - Magé

Com uma trajetória marcada pelo amor, a humildade, o perdão e todo bem que fazia sem exigir nada em troca, Jesus Cristo ficou furioso apenas uma vez. Esse não era o seu normal... foi um destempero do Jesus humano, que nunca se repetiu. Ele mesmo deve ter se repreendido por perder a cabeça e agredir pessoas, ainda que por motivo compreensível.

Os cristãos raivosos e truculentos em razão de um projeto politicopartidário de poder, de uma série de preconceitos injustificáveis e do fanatismo que há muito deixou de ser apenas por questões religiosas (o que já era ruim) adoram citar o Cristo destemperado e agressivo, quando impõem seus pontos de vista extremos e radicais... quando querem ser obedecidos e ostentar comando... e isso não tem nada a ver com vendilhões do templo, pois eles próprios são vendilhões, entreguistas e negociadores inveterados da própria fé.

Esses mesmos cristãos dizem, constrangidos, que Deus É Amor, mas rasgam a boca para gritar que Ele também É Fogo Consumidor... fogo! Ira! Raiva! Destruição, castigo, pragas do Egito! Josué e seus homens invadindo cidades e dizimando seres humanos! Davi decapitando Golias após matá-lo! Sodoma e Gomorra em chamas, a humanidade afogada no dilúvio... guerras... monstros do apocalipse, o caos. Deus não Serve, depois de mandar o filho à terra em missão de paz, com palavras e práticas de amor... sem espadas e varapaus... e sem as Marias Madalenas apedrejadas.

O evangelho dos Cristãos de hoje não é o de Cristo. Cristo é cheio de mimimi, para os que abarrotam templos com suas manias de grandeza... seus espíritos extremistas de políticos e lacaios da repressão e da ditadura. Usam a figura de Cristo, por ele já não estar aqui para repreender sua truculência e má fé. Para tais cristãos, Cristo bom é Cristo morto.

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⁠CRONIQUINHA CONTRASSOCRÁTICA

Demétrio Sena - Magé

Ninguém precisa me situar... nunca. Sei muito bem quando sobro, falto e sou bem-vindo... e onde protagonizo, coadjuvo e sou reserva. Não me magoa, se não for explicado... explicações subestimam minha inteligência e meus estudos de mundo, vida e ser humano.

Exclusão e preconceito, abertos ou velados, são as minhas especialidades, como alvo. Desde menino. E onde me amam, mas ainda assim excluem, têm pé atrás, me deixam na reserva para convocações em jogos nos quais todos os titulares estão "quebrados" ou de férias, nem costumo cobrar... afinal me amam... creio nesse amor... preciso crer.

Só não expliquem, repito, como se a minha observação inequívoca e de múltiplos ângulos fosse algo equivocado. Neste assunto, quando me reconheço como cerne, vou na contramão do mestre Sócrates... porque tudo que sei... é que tudo sei... pelo menos de mim.

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Respeite autorias. Isso é lei

Inserida por demetriosena