David Lutango
Se o atlântico falasse,
revelasse os colonos mortos no tempo,
veríamos as vidas lançadas na água mortal
pelos diogos invasivos e cães exploradores.
Se o atlântico falasse,
lutaria com os invasores,
os filhos da pátria se uniriam,
e eu, armado aos dentes,
mancharia a poeira com sangue,
atiraria, mataria.
Amarrem-me, matem-me se quiserem,
porque por Angola eu morreria,
se o atlântico falasse.
A POESIA DAS LÍNGUAS
As línguas são incríveis.
São como as paixões do francês romântico,
como as vertigens loucas do mandarim
e como os delíquios do tupi-guarani semântico.
Vejo o mar, a lua, o sol, o amor hipotético
e lembro-me da vida, da beleza do espanhol poético.
Há nas línguas a energia do inglês vivo,
o quebrar corações do italiano, do alemão,
e a astúcia do russo pálido, de enorme atracção,
que se choca contra a alegria do português nativo
Sim, abro os olhos e enxergo a dança africana
Cujos movimentos falam, gesticulam
e ligam-se aos sons dialéticos d'Angola Avante
Que se aproximam mutuamente quanto mais distantes
Condenam-me se quiserem,
mas não pararei de repetir:
As línguas são incríveis.
Que sejamos sérios, mas que tenhamos também momentos de doidera para tornarmos a vida um pouco mais alegre.
Quando nos desprendemos dos títulos sociais que temos, menos alimentamos o orgulho e a vaidade e mais nos tornamos simples e abertos para aprendermos um pouco mais com o nosso próximo.
O sistema educativo não pode mais instruir o aluno a sentar, calar e escutar. Urge agora a formação de indivíduos que possam participar na sociedade, ou seja, alunos que levantam, falam e actuam em prol do bem-estar do seu país e do mundo.
Na chuva do musseque
Na chuva do musseque
gritam grávidas, banham as crianças,
trancam-se os leitores, os calmos,
as musas de longas tranças,
na chuva do musseque,
dos olhares à janela,
daquela canção terna, da chuva,
no transe dos apaixonados,
dos beijinhos na cama,
no limiar dos encapuzados,
o amor nasce, vai e renasce
na chuva do musseque.
Diferente da paixão, o amor não é obsessivo, nem compulsivo, mas equilibrado e moderado. Não é impulsivo, nem descuidado, mas ajuizado e maduro. Não é presa exclusiva do desejo, da impetuosidade e da paixão, mas também do compromisso, da disciplina e do amor.
Estabelecer parâmetros de convivência pode ser um bom caminho para as nossas relações, sobretudo as conjugais. Conversar com a pessoa amada sobre como queremos conviver é sempre fundamental para o bem-estar do relacionamento.
Amar não se reduz em lançar declarações no ar e jogar palavras bonitas ao vento à espera que a pessoa ouça. O amor é prático, não se resume em versos, mas também em acções que fundamentam a alegria que se nutre pela pessoa.
As pessoas nos julgam por sermos diferentes delas, mas esquecem que nós não as julgamos por serem diferentes de nós.
Às vezes só precisamos frear, respirar fundo e olhar à nossa volta para vermos o quanto lutamos para chegarmos onde chegamos, pois a vida nos obriga a crescer e a ultrapassar desafios.