Davi Marcelo Galdino
A robustez teórica das convicções reside bem mais na capacidade de questioná-las do que nossa crença cega em suas infalibilidades.
A "verdade", quando formulada pelo homem e dirigida à outro homem, é sempre relativa; a única verdade intrínseca é a dirigida de Deus para o homem.
Nossa medida está em algum ponto entre o que julgam que nós somos e o valor que damos a nós mesmos. Não apenas o valor estético das nossas atitudes nem o que achamos que somos nos definem.
A capacidade de ouvir a mim mesmo nunca deve se tornar em incapacidade de ouvir críticas a meu respeito.
A dor sofrida por Cristo ainda é presente no meio dos órfãos, viúvas, famélicos e enfermos. Ele sofre quando não vê a igreja (nós) entre eles.
O maior paradoxo do cristão é viver em harmonia com a sua existência e a oposição à sua existência. Valores deste mundo e o do que o transcende.
O homem é capaz de expressar significantemente suas maiores frivolidades, e tímido em demonstrar as sensibilidades, por menor que sejam.
Resgatar o amor em meio a mágoa, o perdão em meio ao ressentimento, a alegria em meio a dor. Coisas que só um Deus que habita em nós pode fazer.
Depender apenas de si mesmo é uma autossuficiência ilusória. É parecer sentir todos os controles nas mãos, mas na verdade não comandar absolutamente nada.
Fé é trocar segurança num poder "concreto" deste mundo pela confiança, mesmo às vezes insegura, em um poder "abstrato" de um mundo invisível.
Somos humanos, limitados, finitos, é verdade. Mas temos uma capacidade ilimitada e graciosa de expressar tal limitação... Nossa compreensão é limitada, mas nossas expressões, através da arte, da poesia, de reflexões... são extravagantemente sem fim.
Aprendemos pelas experiência de outros ou pelas nossas que escolhas resultam sempre em um perde e ganha constante. A vida com Deus, entretanto, vai contra a lógica deste axioma de entropia no Universo: Inclusive aquilo que seria perda, Ele transforma, através da Graça, em ganho.
Todo novo dia que se estabelece é composto por uma nostalgia do passado, pela realidade do presente e pelos sonhos do futuro. Às vezes ficamos mais presos ao aprendizado com o que se passou; em outros momentos apenas vivemos o dia como se fosse o último; mas também há aquela hora que só vislumbramos o que está por vir: vamos sempre flutuando nesse prisma do tempo em busca de um dia feliz.
Devemos fugir de sermos apenas espectros de uma vida pragmatizada. Se não conseguimos enxergar além dos horizontes desse mundo decaído, somos fadados a enterrar com ele no encerrar da nossa existência sentimentos que ecoam a eternidade, como o amor e a esperança.
Dividir é uma lógica sob a perspectiva da graça, portanto, mais divina que humana; A lógica natural do homem, infelizmente, consiste bem mais em somar e multiplicar para si e subtrair o que é do outro.
A certeza que gera as convicções advém muito mais da prática aliada à teoria do que propriamente da infalibilidade lógica de nossas presunções. A prática aliás, sempre prova que simples idéias nunca são infalíveis, e é, através dela, que as convicções passam a se tornar ideais de vida.
Quando estabelecemos critérios para o amor não podemos amar ninguém além de nós mesmos. Apenas refletimos no outro o próprio egoísmo.
O ciclo de vida do homem por vezes se assemelha à trajetória de um fruto: acha que já amadureceu o bastante, até cair em sua própria soberba, até então apodrecer em seus caminhos vis, e, com a ação de Deus e do tempo, volta a ser semente novamente, e ter a esperança que pode não apenas voltar a ser o que era, mas também gerar frutos.
Quando valorizamos apenas os momentos e deixamos de investir no porvir passamos a ser superficiais, rasos. Entretanto, quando valorizamos apenas o porvir e esquecemos de viver os momentos em sua substância, deixamos de nos tornar intensos.
Um homem nem sempre julga o outro simplesmente pelo mal que este cometeu, mas talvez porque tenha o vil e inconsciente desejo de se sentir melhor e mais digno do que ele.
Como um artista que imprime o último retoque em sua obra-prima, Deus, no terceiro dia após a morte de Jesus, desbotou para sempre os tons escuros da morte e os sobrepôs com os tons mais claros e nítidos da vida.
A sabedoria advém de uma confluência sinérgica de experiências que surgem, sensibilidades que se afloram e conhecimentos que se adquirem. Apenas a experiência por si só, ou a sensibilidade, ou o conhecimento não a produz.
Quando nos aproximamos de Deus somente por uma imposição mandamental ou pela esperança de receber algo em troca, e não por uma constrição existencial, contagiados pelo Seu amor e graça incondicionais, caminhamos apenas para mais uma ilusão religiosa criada por nós mesmos.
Nesta linha torta que é a vida, em alguns instantes avançamos apressadamente, como se o futuro fosse nos fugir da vista além da linha do horizonte; outrora, almejamos retroceder como se o passado pudesse voltar aos dias de hoje; quando melhor seria mesmo, às vezes, parar um pouco, quem sabe estacionar por um tempo, e apenas meditar sobre tudo.
O homem tem a ilusão de achar tudo em sua vida tão perfeitamente normal que se torna quase sempre incapaz de romper por si só a inércia da mudança.