Davi Marcelo Galdino
Na vida temos sempre momentos intermitentes de alegria; o segredo de vivê-la é ter sempre consigo doses contínuas de esperança.
Não acredito em amores perfeitos. Acredito na perfeição do amor, que é sempre capaz de aperfeiçoar pessoas imperfeitas.
Em um momento você percebe que a arte de viver está muito mais ligada a aprender em meio às imprevisibilidades do que esforçar-se em tornar a vida previsível; que ter o controle é uma ficção e o surpreendente é a realidade; que a plenitude não é um fim em si mesma mas que se inicia em um ser humano e encontra sentido em outros; que o que você vislumbrou um dia que era o determinado não era nada mais do que o fruto da indeterminação das suas escolhas.
Temos dificuldade de lidar com o acaso pois ele, devido a nossa falta de entendimento, parece vazio de significado; tentamos preencher esse vazio com uma espiritualidade rasa e às vezes tão vazia de significado quanto o próprio acaso. Nem todo inexplicável é fruto da ação de Deus, assim como nem toda ação de Deus pode ser compreendida pelo ser humano.
A fé e o amor se complementam, se integram, se confundem. Fé é lançar-se em um mergulho desconhecido, mas não há como efetuar esse mergulho sem entregar-se, e não há como entregar-se verdadeiramente sem amor.
A verdadeira complexidade consiste em compreender a simplicidade da vida. A verdadeira profundidade consiste em ir além das superficialidades nas relações humanas. A complexidade de um ser reflete sempre na arte de conviver: culmina em um estado profundo e resoluto de amar os outros.
Quanto mais nos apegamos às previsibilidades da vida, maior o medo de vivê-la. Agir em meio às imprevisibildades suplanta a construção do previsível. A vontade de transformar a vida num invólucro à prova do acaso pode tornar-se a sua maior escravidão.
Frustrações acontecem porque amamos o ideal que construímos das pessoas e não elas em si. Ame quem você vê não quem você quer ver.
A liberdade é a substância do amor. Só ama quem sente-se livre para escolher se entregar ou deixar-se ir. Mas chega um tempo daquele que ama verdedeiramente mergulhar tão profundo nessa liberdade e perceber-se tão leve perante ao que sente de modo a adentrar no paradoxo de decidir prender-se definitivamente a esse amor. Assim é o amor de Deus: sabendo que não há prisão ou jugo que possa causar o amor verdadeiro e espontâneo do homem, o deixa livre para seguir o seu caminho e ser artesão de sua própria história. Entregar-se a esse amor não significa que Deus construirá o seu caminho, mas sim que Ele construirá o seu caráter para que você não tropece no seu próprio caminho.
Verdades infalíveis só servem para um dia nos mostrar quão defectíveis são nossas razões, amores perfeitos só servem para um dia nos mostrar quão imperfeitas são nossas emoções. Mais dia ou menos dia, nos decepcionamos com o que acreditamos ou sentimos. A vontade de reconstruir sempre é uma das maiores virtudes do homem; por mais que ele seja limitado em si mesmo, nunca haverá limites para reinventar-se.
Solidão não é estar só. Quem, sozinho, consegue encontrar pedaços daquelas pessoas que ama em si mesmo, convive com a presença delas de uma forma que, por mais que não se possa ver ou tocar, somente o coração é capaz de percebê-las junto a si. Não há solidão quando a saudade, pelo menos em parte, se confunde com a presença.
De tudo aquilo que aprendi na vida, o que mais me aproveitou foi quando aprendi a desaprender, a desapegar-me dos conceitos rígidos, dos valores cegos, dos sentimentos sem significado. Cultivar em mim aquela ignorância sábia, que dá sempre espaço pra algo mais. E nunca locupletar-me apenas de mim mesmo.
Que nunca acabe o desejo de sentir-se sempre inacabado, de procurar aquilo que ainda não foi encontrado, de viver o que um dia foi outrora sonhado.
Todo meu coração é gratidão. E não é porque tudo vai bem, e tenha cessado as intempéries da vida. Mas porque tem uma hora que você percebe que mesmo diante de todas as dificuldades, se consegue no seu íntimo um reduto de paz. Que mesmo sozinho, no fechar dos olhos, se sente o abraço de Deus e daqueles que você ama. E se vier a alegria, eu jubilarei. Vou compartilhá-la. E se vier a dor, eu aprenderei algo. Vou resignar-me. Felicidade é bem mais que um estado de espírito. Aliás, nada tem a ver com estado, pois não é estática. É a capacidade de crescer com tudo na vida e isso é dinâmico. É perceber-se crescendo. É ir sendo feliz.
A sinceridade é o melhor meio para diminuir as tensões que se elevam no enclausuramento dos nossos segredos. Compartilhar a alma, comungar sonhos, desnudar fraquezas, expor feridas... Nenhuma verdade dita pode causar mais dano do que a verdade que não é revelada.
Amadurecer não é tornar sua alma independente, isolada na solitária de si mesmo. O nome disso é egoísmo. Amadurecer é aprender que a felicidade depende sempre de um ombro amigo, de um sorriso mútuo, de lágrimas que escorrem juntas e de corações que não hesitam em amar o outro.
Aprendi com o tempo: o que eu menos preciso na vida são desculpas para as coisas que deram errado. O que eu mais preciso é lutar para que as coisas dêem certo. Se "teve que ser assim" ou se "o que tiver que ser será" não cabe a mim saber. O que me cabe é sempre agir como se tudo dependesse exclusivamente da minha vontade, e pedir que essa minha vontade seja sempre orientada pelo coração de Deus.
O maior desafio de um homem não é negar sua humanidade, mas sim, sem suprimi-la, orientá-la pelo rastro de divindade que há em cada um de nós: o amor.
Há mais amor no apoio de uma mão que se estende ou no aconchego de abraço sincero do que qualquer oração feita apenas de palavras.
Não me preocupo em envelhecer, olhar para trás e ver o quanto eu errei na vida. O que me perturba mesmo é a idéia de perceber um dia que acabei não aprendendo nada com aquilo que falhei.
A felicidade nem sempre vem através de fontes torrenciais de alegria. Às vezes ela se esconde no mar de contentamento que represamos daquela alegria das pequenas coisas, que vem como que um conta-gotas, dia após dia.
Maior virtude do que não fugir dos desafios que nos batem a porta é sair da zona de conforto e ir atrás dos desafios que nunca chegariam até nós.
Aprendi a não ser ingrato com o tempo. Nenhuma ansiedade vai fazê-lo correr mais rápido, e nennhum momento bom vai estancar o seu curso natural. As coisas passam e vêm sem parar. Viver bem é tê-lo sempre como aliado. É saber deixar o passado, saborear o presente e não apressar-se com o futuro. Amadurecer é refinar a degustação dos sabores da vida após o passar dos anos.
Aprendi que não há tempo certo para as coisas acontecerem. As coisas acontecem não porque têm que acontecer, mas porque simplesmente acontecem. Independente se foi uma hora boa ou má pra acontecer, tenho sempre a capacidade de transformar o que acontece em algo bom ou mau para a minha vida. No mínimo, um aprendizado.
Aprendi que não há nada mais forte na vida do que o amor. E a força do amor reside no paradoxo de ser livre para amar e não sentir-se forçado a coisa alguma.
Aprendi que Deus é muito mais que uma entidade metafísica ou qualquer outra coisa que eu tente compreender. Na verdade Deus não existe para ser compreendido. Deus existe e age, sobretudo, para que através do Seu amor, eu possa ser realmente capaz de amar o outro. E o que eu amo e como eu amo é que revela na verdade quem eu sou.