Danillo Cossani
É quando a chuva cai e Deus vai chorando por ter inventado o amor e por senti-lo intimamente e com toda sua força.
Caminhava sem saída pela estrada cinza
Calva chuva convidava os pés ao vil tormento
Alma curva pelos riscos do céu perturbado
Riso frouxo e amarelo, voz do sofrimento.
Caminhava sem lugar, sem chão, sem paciência
Agarrado ao desespero, ao destempero, e ao frio.
Não pensava, não olhava, tudo era vazio.
Seu destino, indigência, grito e cova funda.
Silêncio!
Sofrer é assim!
Recebi
Todo amaçado
Um abraço.
Assim meio que um laço
Amarrado aos braços.
Apertado um tanto
Que me tirou os espaços
E os cantos
E também os prantos.
Recebi
O corpo está virado para o lado de cima.
Está virado, está virado
Parado.
Quase nunca move a estrela que mira.
Fita o céu, fita o mundo
Com olhar moribundo e seco.
Perversa imensidão seduz o corpo.
Carrega nos braços, como mãe despreocupada.
Ai de ti noite,
Aí vem o sol...
Trará passaros alvejantes,
Nuvens correrão desde os montes
Ao rasgar do que se tinha antes.
Ai de ti dia, ai de ti,
Que a lua não pede passagem
E deixa na paisagem o corpo deitado
Calado.
Move-se o tempo em dissecar-se em dois.
Por Sentir
Esse sentimento que se sente
Assim sem perceber.
É quase uma vontade,
Quase um não querer.
Não cabe na coragem
Tão pouco em ser cobarde.
Nele nada se espera,
Também não desespera.
Nele há um “Q” de medo
Quiçá ser temerário,
Um leve desamparo,
Na alma um abraço.
Quem lho buscar no hoje
Alcançará no amanhã.
Aquele que vestir-se disso
Sentir-se-á despido.
Não há mesmo o que sentir
De tanto que se sente.
E de tentar dizer-lhe o nome
Treme a língua,
Morre a trama.
Ainda que o sol não pudesse aquecer, ainda que a chuva não fosse molhar, o amor nasceria com a força do ser e se espalharia além do amar.