Cristiane Neder
O grande desafio não é analisar o rosto de Narciso redesenhado nas novas tecnologias de comunicação. Devemos ir mais longe e buscar a análise de porque precisamos sempre da imagem de Narciso no espaço comunicacional e na vida, porque o ser humano busca sempre atingir o inatingível, até para que possamos, dessa maneira, analisar os reflexos políticos vistos neste estudo.
Portanto, como não conhecemos o que é o original de Deus, tentamos buscar esse original num homem inventado, num homem de ficção, e a busca da perfeição se faz a partir da realização dos ritos nos campos da
política, religião, arte e cultura e, mais tarde, nos meios de comunicação.
Na busca da imagem perfeita e bela da figura Narciso, o ser humano passa a se reconhecer no mundo redesenhado e virtualmente tatuado, mas esse argumento político de buscar a perfeição no ídolo da
globalização pode levá-lo, por meio dos meios eletrônicos da comunicação, a
se tornar politicamente abstrato e ingressar num processo de coisificação,
transformando-o em um objeto do próprio prazer de se ver.
Não acredito que haja gente binária porque a raça humana é feita de possibilidades, e não de exatidão, entre certo ou errado, entre positivo ou negativo, entre falso ou verdadeiro. O computador tem arquivos, não tem consciência. O computador é preparado para dar respostas prontas, não para criticar ou pensar. O computador não é um ser político como o homem, é somente um objeto de poder para o homem.
O pior é que, depois do aparecimento das novas tecnologias de comunicação, corremos o risco de que não haja também seres humanos de verdade, não no sentido físico - biológico - não me refiro a criações de “ciborgs” pela técnica -, mas num sentido psicológico de existir e pensar,
porque as pessoas estão sendo virtualmente idealizadas por imagens criadas e não reais.
A televisão, por exemplo, personificou o cidadão, plastificou-o dentro da sua tela, e dentro de uma modernidade imagética desintegrou sua cidadania verdadeira, porque o cidadão hoje não é o que ele pensa, mas o
que ele vê.
Nesse universo geograficamente redesenhado, as tecnologias
satisfazem o atual desejo por interações diferentes em escala e intensidade.
Os seres humanos se conhecem por uma conexão da máquina.
Pode-se dizer que hoje a tecnologia e a ciência influenciam a criação, a produção e a difusão de uma obra de arte. Elas criam novas mídias (desde a fotografia e cinema até invenções mais recentes, como vídeo,
fotocopiadoras e computadores)
Inspiram artistas por meios de novas
possibilidades de manipulação e alteração de imagens originais ou apropriadas
da mídia e da cultura popular, aumentando assim o vocabulário visual artístico.
Possibilitam o uso sinérgico do som, texto e imagem e a difusão e reprodução
da obra em tempo real, permitindo assim ao artista o entendimento e a
incorporação de outras disciplinas e métodos no seu trabalho.
As novas tecnologias de comunicação reforçam o crescimento das práticas do neoliberalismo; ajudam as estratégias neoliberais a avançar na sociedade, pois a conjugação de seus recursos técnicos em nível mundial mexe também com as sociedades locais, e os medias fazem isso não circunstancialmente, mas decisivamente na esfera pública: as novas
tecnologias de comunicação integram o plano de atuação política internacional para a desintegração de um plano de projetos nacionais.
A linguagem imperialista dos meios para se exercer esta cidadania virtual pode esfumaçar a própria questão da democracia, como já
vimos em capitulo anterior sobre o sindicato virtual, que por exemplo, não mobilizaria massa nenhuma.
Pensar e sentir fazem parte de uma suposta democracia que podemos chamar de verdadeira. Toda manipulação do que seja pensar falsifica a democracia.
Os meios de comunicação, por tornarem o pensamento do ser humano passivo, estão transformando a democracia, há muito tempo, em mais do que representativa somente, estão tornando-a manipulativa.
Excesso de informações não quer dizer que todas as pessoas têm condições
individuais e sociais de adquirir conhecimento com essas informações. E
mais: é uma grande mentira sedentária que informação gera riquezas e que através dessas riquezas as classes sociais subalternas vão se tornar emergentes.
Votar em um computador não melhorou nossa forma de escolha em relação aos nossos representantes políticos, somente tornou mais veloz a apuração do processo eleitoral.
Não há cérebro eletrônico, a não ser no nome
que se dá à forma usada metaforicamente, na linguagem das literaturas atuais, que estudam novas tecnologias e temas relacionados ao assunto.
Será quase impossível alguém sobreviver sem se ajustar ao poder de influência que estas novas tecnologias repercutem na vida social das pessoas, principalmente no campo profissional, onde os que não se reciclarem correm o risco de caírem no
ostracismo pela pressão feita pelos conglomerados de empresas e pela livre
concorrências dos novos profissionais e do mercado em si.
Os países como EUA e demais países
desenvolvidos tem maior facilidade de se ajustarem as novas exigências do mercado internacional e de prepararem pesquisadores e profissionais para o
novo campo de trabalho, porque foram justamente eles que implantaram estas
tecnologias, enquanto os países do terceiro mundo não podem tão cedo participar do conceito de consumidores do futuro, porque o futuro do terceiro mundo é sempre tardio em relação as novas técnicas que trazem maior poder de compra e de aquisição aos detentores das invenções destas técnicas e dos meios delas.
As faixas das classes sociais ficam cada vez mais distantes por conseqüência dos desníveis culturais e econômicos entre elas, e a tecnologia que poderia beneficiar aos pobres com o desenvolvimento de melhores
recursos para o trabalho e estudo, não é suficiente para a melhoria social, porque a função e a finalidade das técnicas é a de manter o poder da classe dominante, porque os pobres usufruem destas técnicas somente como intermediários. São os ricos que tem o poder de compra e capital para investir na descoberta e pesquisa delas
As cidades grandes como São Paulo, Nova York e Londres não podem tornar alguém bem sucedido e conhecido, mas com certeza podem proporcionar acesso aos movimentos contemporâneos.
Quando digo cidades grandes, não me refiro apenas ao tamanho delas, eu acho por exemplo Florianópolis uma cidade com uma população média, mas não grande. É uma cidade linda sem dúvida, mas ela não é moderna. Ela é uma cidade em vários aspectos provinciana. Digo cidade grande aquelas que conseguem sugar tendências mundiais e aprimorar estas tendências as adaptando para a sua realidade. Floripa tem alguns movimentos contemporâneos mas não consegue sugar as tendências com rapidez, ela tem um desenvolvimento tardio e lento. além de fabricar alguns paraísos artificiais, aliás todos os paraísos são artificiais. Disney é um paraíso artificial, Epcot Center, Barra no Rio de Janeiro, etc. Cidade grande é aquela que consegue ser grande não apenas pelo tamanho, mas pelos fluxos de renovação periódica do contemporâneo.
As novas tecnologias, na maioria das vezes, atendem a números cada vez menores de pessoas e, ao invés de serem coletivas acabam sendo usadas de forma particular, mesmo para fins públicos como saúde, educação e cultura. Isto gera uma ambivalência social, pois a sociedade progride de forma isolada para fins coletivos.
Para que as pessoas estejam no mercado é preciso investir em educação e não somente criar máquinas para serem operadas pelas mãos humanas.
Hoje, com os computadores, esse mecanismo da ação para a educação é muito mais complexo porque, cada vez mais as novas tecnologias de comunicação nos dão a oportunidade de realizar um trabalho muito mais lúdico do que de mão-de-obra pesada, porque não envolvem somente a capacidade de manusear e operar máquinas, mas requerem habilidade de pensar e agir além da finalidade de serviço da máquina, com um tratamento
mais humano, menos serviçal e mais intelectual.
O modelo de TVs educativas norte-americanas e europeias não
serve para nós, pois eles não têm tantos problemas como São José da Tapera
e outras cidades e lugares de extrema pobreza do país.