Crislambrecht
Sinto
Em mim
Um cemitério
Uma
A
Uma
São
Enterradas
Lembranças
Pedaços
Fragmentos
E até
Sentimentos inteiros
Tenho em mim um cemitério
Onde repousam e apodrecem
Algumas lembranças, pedaços
Fragmentos
E até
Sentimentos inteiros
Carrego dentro de mim um cemitério
Que pesa, causa-me incômodo
Uma a uma foram enterradas
Lembranças, pedaços
Fragmentos e até
Sentimentos inteiros
Em mim repousam fantasmas
Que me assombram dia e noite
São dolorosos fantasmas de...
Lembranças, pedaços
Fragmentos e até
Sentimentos inteiros
Não quero mais ninguém no meu cemitério
Não tem mais espaço, parece que vou morrer
Vou morrer assim como as lembranças
Os pedaços, Fragmentos
E até sentimentos inteiros
Que vivem no meu cemitério..
Aquele sábio andarilho de nenhuma posse material é um milionário
Pois a moeda mais valiosa é o conhecimento.
Viva a Sociedade Alternativa!
Naquela noite; Zé-mané tomando banho, Zica na cozinha e Tadinho pulando a janela com a televisão nos braços:
-Hoje tem coca, vou ficar legal!
"Uma família no Brasil"
(...)
Puxou conversa com um cara que estava por ali cheirando cola, disse que precisava de mais coca e não tinha grana... o cara com a cara na cola olhou para ele e sorriu...
(...)
"As aventuras de Tadinho pela vida"
...
Você luta por aquilo que sempre foi contra
Contra aquilo que sempre acreditou
A culpa não é sua
Pois de tanto aprender em meio ao caos
Acabou se perdendo em pensamentos
E nem acredita que pode raciocinar
Somos todos censurados
Escravos forçados por escolha
...
Lembro-me de algo que não me recordo
Tenho saudades de momentos que nunca aconteceram
E isso me deixa triste
Vejo o céu e fico feliz
Me encho de alegria sob a noite
Por favor, senhores extraplanetários, me levem.
Quero voltar àquele lugar
Quero estar com quem me deixa feliz
Queria nunca ter saído de lá
Mas como sempre, logo esqueço de tudo
Como se fosse apenas um pensamento
Um momento lúcido na cabeça de uma qualquer
E como um qualquer
Me levanto e vou
Para lugar nenhum
Pra ser sincero
eu não espero que você
Me perdoe...
Talvez estejas com medo
com ódio
e com razão
Talvez triste
e mais uma vez
com o coração partido
Talvez tenha sentido certa inferioridade
algo que viste pode ter feito-a perder as forças
levante-se, vá em frente
Aquela velha vontade de desistir
sempre havia sido superada
mas agora, agora...
Talvez sinta que foi enganada
mais uma vez
com razão
Antigos sentimentos
e intensos
acabam sendo muito fortes
Nem você
nem eu
poderíamos fazer algo
Ela que sempre me roubou
quando quis
é única que temo
Ela que foi a única a me dizer;
- Não.
é a única que desejo
Sempre quero e não quero
estar o tempo ali
pra sempre
Ela que me rasga em dois
talvez pra me completar
completarmos
E você
recém-chegada neste caos
de longe...
Não pode fazer nada
talvez nem possa
talvez seja melhor assim
Dói, eu sei
São dores que ninguém nunca sentiu
mas nada como um dia-após-dia
(uma noite, um mês)
É cruel, eu sei
Mas
é melhor
assim
Depois de tanto socar a velha faca cega
seria melhor aprender
com os erros
Deixar as mãos livres deste sangue
chega de lágrimas
chega de sangue
Se dê um beijo, um tiro
um abraço, um até mais
um riso, um abrigo
Um amor que não se mede
não se mata, não se cura
apenas se esquece e vive-se outro
Não chame de fracasso
só estávamos tentando
Já brincamos muito tempo
perdemos a direção
o dia já passou, a noite não
Eu saí pela tangente
caí depois da curva, me levantei
roubei versos e deixei um bilhete
Só queria que descansasse agora
deixe as ilusões de lado
a vida é tão bela...
Há mais de mil destinos te esperando
não se prenda às primeiras impressões
não seja uma estátua de sal
Desate o nó que te prendeu
à uma pessoa que nunca te mereceu
por favor, pense em você
Já lhe fizeram feliz demais
já lhe fizeram sofrer demais
está na hora de fazer algo por você
Pense em você
por que eu...
eu ando por aí, sem saber até quando...
Sonhei que estava caminhando
Era um andarilho
Com a mochila nas costas
Eu subia uma estrada
Era de noite
Vi a cidade iluminada
Pensei estar chegando
Em Ijuí
Mas era
Porto Alegre
Rumo ao sul
Meus passos me guiavam
Eu era um andarilho
Com uma mochila
E muita história
Pra encontrar
Fico esperando que venha
Olho para o caminho que geralmente lhe trazia
Fico olhando do lugar de sempre
E não te vejo
Vejo-me nesta situação
Sem paz
Em depressão
Com paranoias
Poderia ter um péssimo dia
Mas a noite tinha sua recompensa
Quando eu te via
Pois você me trazia doses de alegria
Mas hoje estou triste
Como ontem
E antes
E antes
Hoje eu não te vi
Como ontem
E antes
E antes
Não posso calcular o tempo
O tempo que passou
Pois sem você o tempo é outro
Sabe-se lá se é muito ou pouco
Fico preocupado
Comigo
Contigo
Conosco
Como se eu fosse te perder
Para sempre
Como se eu fosse me perder
Para sempre
Ultimamente só penso no passado
Sonho com futuros
Não saio do lugar
Não fico em lugar algum
Tento seguir
Barreiras me impedem
Mas não me importo muito
Até que está tudo bem...
Queria que soubesse o que se passa por aqui
Pois não estou bem
Importo-me
E não quero me perder
Não queria me perder
Não queria sumir
Já seria uma caminhada
Na contramão
Se você me der sua mão
Agora
Gostaria de tê-la para
Sempre
Até o
Fim.
Como uma coruja a caçar
Os meus pensamentos vagueiam antes do alvorecer
Guardo as primeiras letras de cima para baixo
Um pedaço de pão se recheia
Mastigo, engulo e pronto; eis o passaporte
Encontro lá as mais diversas criaturas
Logo sei o que minhas garras levarão
Os frutos semeados me alimentam
Semeadas também estão estas eternas lembranças.
Não sou muito de vinho tinto, mas esta é minha companhia esta noite, já que não tenho o hábito consumista de comprar bebidas.
Na real, queria um vinho branco, mas esta é minha companhia, 500 ml de vinho tinto...
Daqui a pouco ela vai caminhar
com seus passos rápidos e lentos
rápidos ou lentos
Uma janela vai se abrir, para o mundo lá de fora, este que aí está.
Poderia simplesmente abrir a porta e sair por onde entrei
mas prefiro ficar espiando desta janela, fico trancado no meu sótão.
Eu que tanto escrevia, estou há alguns dias sem fazê-lo
Sem a planta, a casa não se levanta
sem inspiração
será?
Mamãe beberrica seu vinho de vez em quando
bem pouquinho, pra não ficar com as pernas bambas.
Hoje tal vinho é minha companhia
talvez eu abuse de sua presença
talvez minha mãe tenha que comprar outro vinho
(já aproveito pra pedir um branco pra mim)
Depois, dias, rápido, lento, daqui a pouco...
O tempo soa tão estranho ultimamente
minha ilusão se desfez
minha crença foi por água abaixo
não pertenço ao tempo como ele é
vago por sua medida de um lado para outro
já não sei quando foi e quando será
Amanhã é tão distante
Amanhã é tão daqui a pouco...
Estou aqui enfrente à minha gruta
Fecho os olhos e vejo tudo que possuo;
Um belo riacho a poucos passos
O vento que penetra entre as montanhas
Uma quantidade incontável de pássaros nas árvores...
Incontáveis.
Tenho tudo que preciso para viver
Alimento para o corpo e para a mente
Abandonei completamente meu antigo sistema
Já era tempo
Deus está em sua devida árvore
Eu segui adiante
Agora estou aqui
Enfrente à minha gruta.
Agora vou causar-me o mal
Vou me casar
Com o mal
O meu mal
E quando acordar
Minha cabeça estará doendo
E girando
Com toda a pressão
Todo o sangue
Meu cérebro de artérias
Minha doce cama vazia
E eu aqui nesse banheiro
Imundo mundo.
Eu só desejo alteração
A minha
Já não sei direito o que é
Estou um pouco irritado
Mas me divirto
Às vezes
A autodestruição
Parece uma boa saída
Para entrar de cabeça num caos
Um furacão desgovernado
Pois no fundo é o que sempre quis
Ser manipulado
Ter um inimigo
Mas não encontrei ninguém
Ninguém à minha altura
Por mais que eu esteja baixo
Meus ídolos morreram
E estão morrendo
E tudo que eles fizeram
Por mim
Quero fazer
Para você
Tocá-lo
Molestá-lo
Vamos sair
Vamos nos divertir
Ninguém me entende
É isso que eu quero agora
Me entendam depois
Quando eu já não for isso
Quando quem eu for não for quem sou
Quando eu for o que quero ser
(Quando serei aquilo que queria ser?)
Querendo querer alguma coisa...
Quem fui
Quem sou
Quem não serei
Quem sabe; nem sei de nada
E por mais que um falso sorriso seja necessário
Não vou chorar
Eu só quero ir embora
Eu só quero passar da medida
Atravessar o sinal
E cair novamente
No chão do banheiro.
Um grande muro cercava a cidade
Vivo e alegre muro verde
Entre seus sons
Ante sua beleza
Sob sua sombra
Cresci
Vivia em paz
Protegido eu me aventurava em seus caminhos
Mas como toda cidade
Nesta habitavam seus vermes
E logo vi uma negra nuvem
Anunciando a destruição
Estalos como aplausos de uma grande plateia
Trazidos pelo vento forte
E o calor
E o fogo
Fez-se noite
E ao lado da minha casa
Queimava tristemente o muro
Este que parecia tão poderoso
Não pôde conter as chamas
Não pôde proteger filhos nem pais
Via os pequenos pássaros mergulhando no mar de fogo
Beija-flores com seus bicos cheios d’água
Mas nada pôde parar
O fogo ergueu-se aos céus
E tudo queimava
Num horrendo espetáculo
O grande muro não foi ao chão
Reergueu-se
Reverdejou-se
Não desistiu
Serviu novamente de abrigo
As cinzas logo se enterraram
Algumas cicatrizes permaneceram
Mas ele estava ali
As lágrimas pertenceram à um grande susto...
O tempo foi passando
A cidade o muro não pode conter
Esta criatura infestada
Pôs no vivo muro
Ferozes feras de metal
Seu ronco anunciou:
“É chegada a hora do massacre”
Vi de perto
O muro descendo aos poucos
Aos prantos gritava
Ninguém podia ajuda-lo
Corações de metal
Movidos a sangue negro
Sem qualquer sentimento
Mortos
Matando
O muro que me protegeu
Finalmente cedeu
E o que me sucedeu
Foram fortes sentimentos
Uma grande lição
Infelizmente foi triste
Como sempre
E agora vão devorar o meu lar
E continuam a querer me devorar
Mas jamais serei digerido por tais vermes
Queimarei quantas vezes precisar
Sou feito do muro
Cresci em suas entranhas
Sou feito dos seus sonhos
Talvez eu seja seu único herdeiro
Eu o amo
Ele é eterno
Viverão em mim
Para sempre
As lembranças dos seus caminhos
Tua sombra protetora
Teu cheiro
Teu grande poder
Sou a tribo de um só índio
Ela vem
Silenciosa, vem
Como a chuva
Incerta
Silenciosa vem
Aos poucos
E aos poucos toma conta
Domina
Ela vem
Quando você vai
Ou não
Sempre que você puxar
Veja! Eis aqui!
Ela vai
Escandalosa, se vai
Ou não
Como a chuva.
Noite passada
Estava eu a caminhar
Por uma rua britânica
Fria, escura, molhada.
Passou por mim um quase-cabeludo
Era Lennon com seus óculos-escuros-redondos
Sua gaita em seu suporte
Em seu pescoço.
Não sei ao certo sobre nada
Talvez não fosse apenas ele
Eu estava sonolento
De olhos fechados.
Distante-adiante era Dylan
Logo à frente John
Por um instante
Ao lado
H. G.
...
Ela que volta
Depois de uma volta
Passou como um vulto
Como uma virtude
Vertendo das vértebras
Quebradas na véspera
Esperando que venha
A cura voraz
Que devore a dor
E adormeça em paz
Demente ela faz
Manobras radicais.
A vida tem seus momentos felizes para serem compartilhados
O mundo tem pessoas agradáveis para dividir experiências.
A loucura de desafiar a insanidade na mais completa solidão
É uma dança muito saborosa e arriscada.
A compaixão e o amor são itens difíceis para se abandonar
Um ser insensível se torna invisível
Soldado Solitário
Sólida solidão
A verdadeira felicidade deveria ser compartilhada?
Hoje eu estava sentado enfrente à minha gruta
Olhei para tudo o que possuo
Minha felicidade foi indescritível.
Enquanto olhava envolta e sentia-me satisfeito
Veio a mim um sentimento melancólico
Aquilo tudo não tinha mais sentido algum.
Meu antigo sistema deixou um fantasma romântico
Este não se contenta com a solidão
Este sente a necessidade de compartilhar sua alegria.
Fui tomado pela insanidade
Lutei para fugir enquanto lutava para ficar
E enquanto corria em desespero meus fantasmas me assombravam.
Meus pés eram mais rápidos que meu coração
E quando não pude mais respirar... Simplesmente caí...
E as sombras pularam sobre mim.
Deitado sobre as folhas eu fui atormentado
Os piores fantasmas, os piores pesadelos
Meus olhos pesavam mais que meu corpo.
Ao despertar me vi rodeado de sombras
Espreitavam-me de longe, numa distancia próxima
Todos estavam prontos, como uma serpente.
Poderia fugir
Poderia render-me
Pude encarar.
Levantei-me e respirei fundo
E antes que pudessem saltar sobre mim novamente
Pulei sobre eles, agarrei um por um e os amarrei pelos braços.
Levei-os à minha gruta
Fizemos uma fogueira
E queimamos nossos males.
Pelos Canos
“Você é um homem ou um rato?”
Certa vez estava eu a rastejar pelos canos onde vivo, e uma indagação veio se repetindo de um lugar distante:
- Você é um homem ou um rato?
Junto com a voz corria um roedor de lixo, em minha direção, e sem um motivo aparente, eu me assustei com a presença do bicho, que passou por baixo de mim e seguiu junto com o eco..co.
Geralmente esses animais que vivem aonde eu vim viver não estranham a minha presença, presença estranha eu sempre fui, onde sempre estive, pra quem quer que fosse, mas, e aqui?
O tempo que eu passei nos esgotos já foi suficiente pra me acostumar com muita coisa nova. Coisas de sempre...
As paredes cilíndricas e ásperas desses pequenos canos de concreto me fazem feridas que nunca cicatrizam; minhas mãos e meus joelhos, meus ombros e meus calcanhares, minha cabeça e meus pés, meus cotovelos e minhas costas...
De tanto me rastejar por aí já nem sinto dor; sinto fome, sinto cede, e sinto vontade de me rastejar.
Os ratos não se importam com quem você é, eles estão por aqui e quando precisam se tocam, me tocam... geralmente no momento de dividir o alimento, ou na hora de tentar de mim se alimentar. Ficar atento tanto quanto possível, se não eles me arrancam os olhos!
Eu moro aqui faz pouco tempo, não sei quanto, pois o tempo no esgoto não é como o resto dos tempos.
Aprendi a sobreviver como os roedores de lixo, aprendi a roer lixo com os roedores de lixo. Como o tempo de quem fica atento o tempo todo parece passar mais rápido, eu passei a acreditar que estou há muito tempo vivendo aqui.
Vivendo entre ratos há tanto tempo, não me passava pela cabeça julgar quem sou eu.
Pois sempre fui ninguém.
Nunca fui alguém.
Lá de fora veio uma dúvida, direto pra dentro de mim, para agora saltar pra fora uma resposta.
Tenho medo da superfície, desde que vim morar no esgoto eu nunca mais fui discriminado; Sem juiz, não há julgamento, sem ter quem julgar, não há juiz nem julgamento, e se há juiz haverá julgamento.
Julgando que nunca fui alguém, que vivo como um rói-lixo, que somos o que consumimos:
Não sou homem
Não sou rato
Sou lixo.
Mas também
Não sou juiz
Devo ser o que sou;
Sou eu!
Sei de tuas fases
Conheço bem as tuas faces.
Alegro-me com encontros inesperados
Teu silencioso caminhar sempre me faz sonhar
Seu vestido acaricia meu trajeto de incertezas
Há tempos que tu não aquecias essas noites
Faz-me lembrar de ti novamente
Tira-me o sono como sempre
Somos eternos amantes
Tens-me nas mãos
Quando quiseres
Terá de mim o amor;
Um sentimento verdadeiro.
Sua inigualável companhia conforta
Toda escuridão se torna um belo jardim
Minha alma já pertence às tuas posses
Seu encanto sempre será inspiração
Quando vens grandiosa surpreende.
Leva-me de volta à estrada;
Quero contigo andar.
Andar de skate por amor
Apenas por diversão
Para se sentir bem
Pura satisfação
Do jeito que quiser
Skate é liberdade
Nas ladeiras e nas pistas
Ou nas ruas da cidade