Cleómenes Campos
Os meus olhos , que estão mais líricos agora,
Levam meu pensamento a procurar-te
Em vão
A saudade , que não te esquece, sem demora,
Sai como o pensamento , atras de ti...
Em vão
E todos te achariam na mesma hora
Se entrassem meu amor dentro em meu coração
Saudoso , hei de volver a este doce lugar
Aonde vinha, a sorrir , em tua companhia.
Mas ficarei absorto , em vão a te esperar...
Tudo que me viu sempre alegre, nesse dia
Há de me ver chorar...
Perguntas que não lhe fiz
Respostas que não lhe dei
Suspiros perdidos no ar
Mil coisas que eu infeliz
Infelizmente pensei
Infelizmente pensei
E continuo a pensar
Perguntei-lhe a sorrir: Onde mora a ventura?
Ela volveu-me os olhos límpidos,aqueles
Seus olhos meigos , cheios de doçura...
E vi então , surpreso , que a ventura ,
Que eu vivia sonhando, estava dentro deles...
Conselhos?quem os olvida
É mais que sábio no mundo
Que são conselhos querida?
Palavras...palavras loucas...
Nada mais belo na vida
Que esse silêncio profundo
Que morre entre duas bocas...
Que saudade de ti ! de voce, de você!!!
O Tu põe entre nós uma grande distãncia...
É ríspido demais...Tenho a impressão de que
Não é para um amor tão simples como o nosso
Além disso VOCÊ ouve-se desde a infância
Quando a gente quer bem trata-se por você...
Se eu escrevesse, pois : que saudade de ti...
E a que sinto afinal como nunca senti
É apenas de voce meu amor de VOCÊ
Eu penso tanto na felicidade
que hei de atrai-la com meu pensamento
um dia ela virá com tua mocidade
como todo jardim nos vem na asa do vento
E eu pedirei ao sol a sua claridade
pra forrar o chão neste grato momento...
Desvia os olhos dos meus
para o nosso mutuo bem
eu nunca pedi a Deus
a ventura de ninguém
Pedi-lhe um pouco daquela
que ele entesoura na mão
apenas as sobras dela
o que caisse no chão
Humilissima ventura
que todos tem menos eu
a mais singela a mais pura
que a vida ja prometeu
E, sendo um voto que fiz
outra não quero também
ninguém no mundo é feliz
com a desdita de ninguém
Voltando do teu carinho
como de um reino encantado,
venho dizendo baixinho,
quase em êxtase, o teu nome
cercando-o de pensamentos
cada qual mais delicado.
E tudo pelo caminho,
que se torna iluminado,
repete em côro o teu nome
pássaros,flores e ventos
por terem adivinhado
que eu venho do teu carinho
como de um reino encantado...
A ABELHA E A ROSA
Cleómenes Campos
Balouçava-se ao vento uma rosa vermelha,
em que um raio de sol punha um reflexo louro;
viu-a, pelo perfume, uma pequena abelha,
e começou a lhe sugar o pólen de ouro.
As abelhas, irmãs aladas das mulheres,
são todavia insatisfeitas e curiosas.
Ora, eu tinha num vaso uns botões rosicleres,
que, por ser de papel, nunca seriam rosas.
Ela porém supões que fossem verdadeiras;
e, deixando o jardim, onde havia outras flores,
voou sem ver por sobre todos os canteiros,
na atração singular dos botões rosicores.
Minha janela estava aberta por acaso.
Ela entrou a zumbir. Mas fechei-a nessa hora.
E a pobre, assim que viu a mentira do vaso,
pensou na linda flor que deixara lá fora.
Foi-se à vidraça a olhar; tentou fugir… e nada:
estava presa em minha sala silenciosa.
E, dois dias depois, achei-a inanimada,
na mesma posição, inda fitando a rosa.
Ó alma, que a ambição vai levando à cegueira:
não te esqueças da abelha ambiciosa e iludida!
- não deixes nunca a tua rosa verdadeira
pelos falsos botões que encontrares na vida!