Não esqueças: o meu
nome é um silêncio que só
vibra quando ouve a tua voz.
A verdade é uma dívida da luz para com o amor.
Daria os olhos ao mundo
se me fosse dado a beber da realidade.
Sou filho da minha própria atmosfera.
Hei de descobrir se
nos teus olhos moram
todas as borboletas do mundo.
O que é o mar?
O mar é olhar para ti
como se toda a água
descendesse dos teus olhos
Sou de um tempo em que nem as palavras tinham nome.
Para todas as palavras, tenho dois beijos de letras.
A escuridão é a luz da tristeza.
PÁGINA DE SEDE
Cavo nesta página de sede
o grito de um corpo em sedenta fúria.
A página branca produz um ruído branco
com a palavra nada.
O meu lugar no mundo
é um templo nulo.
Por vezes a minha boca
é uma palavra oca.
Sou a página fria
de um vasto deserto: a Vida!
Tenho medo de ter a sede
do mundo nos meus braços.
A vida dos
meus sonhos encontra-se
no coração dos meus olhos.
A vida é
apenas um momento,
de terra e esperança.
A verdade é a feliz coincidência
entre o ser humano e a existência.
A espuma da eternidade
é uma gaivota perdida
num mundo de esquecimento.
Ah,
tão perfeita és,
a mais flor do mundo.
Sou o nada anónimo de ninguém.
PALAVRAS DE SILÊNCIO
Digamos que é admirável
o silêncio das pedras extintas.
Digamos que a lama
é uma chuva de palavras irreprimíveis.
Estas são as águas correntes na nebulosa
da vida. Rios nocturnos que morrem
eternamente na secreta sombra.
Já sei que vou morrer mesmo.
O meu corpo absorve o silêncio
celeste de uma memória de flores
que vagueiam as ruínas da alma.
Vou morrer! Paciência...
Alguém me traga um cavalo.
Quero sair daqui a galope.
Quando te olho nos olhos
afundo-me nos meus sonhos.
Não duvides da palavra!
Viver é um verbo divino.
Para ser feliz
é preciso morrer
todas as noites e
renascer todos os dias.
Sou filho de deus,
mas vivo no inferno.
Morrer é indispensável à vida.
O Homem é um ser impensável.
Nada do que é pode perecer.