Cláudio Cordeiro
PÁGINA DE SEDE
Cavo nesta página de sede
o grito de um corpo em sedenta fúria.
A página branca produz um ruído branco
com a palavra nada.
O meu lugar no mundo
é um templo nulo.
Por vezes a minha boca
é uma palavra oca.
Sou a página fria
de um vasto deserto: a Vida!
Tenho medo de ter a sede
do mundo nos meus braços.
PALAVRAS DE SILÊNCIO
Digamos que é admirável
o silêncio das pedras extintas.
Digamos que a lama
é uma chuva de palavras irreprimíveis.
Estas são as águas correntes na nebulosa
da vida. Rios nocturnos que morrem
eternamente na secreta sombra.
Já sei que vou morrer mesmo.
O meu corpo absorve o silêncio
celeste de uma memória de flores
que vagueiam as ruínas da alma.
Vou morrer! Paciência...
Alguém me traga um cavalo.
Quero sair daqui a galope.