Clara Brant
Eu tentei persistir
Tentei acreditar
Tentei mesmo
Mas o desgaste foi grande
E eu já não consigo mais
Quando agonia beija o caos, nada mais importa
O corpo e a mente do ser humano não aguentam essa pressão
É sentir tudo e nada
É como estar paralisado e agonizando ao mesmo tempo
Você não vai aguentar
Vai te partir ao meio
Tomei um rumo e agora vejo tarde demais, que não há como voltar atrás. Eu estou a beira do abismo e já não posso visualizar meus passos, nem os já dados nem os futuros. Fim da linha, tudo acaba aqui.
E não importa para onde eu vá, há forcas penduradas em todos os lugares. Nas árvores, nas sacadas dos prédios, até mesmo na porta do meu quarto. Estão lá, vocês podem enxergar? Às vezes posso me ver, ora estou pendurada agonizando, ora me vejo imóvel, morta.
Eu não sei o que você pensa que sabe ao meu respeito e francamente, não faz diferença. Se nem eu que estou nessa pele sei quem sou, porque você que não está saberia? Então me poupe de ter que escutar sua opinião sobre minha pessoa e me deixe dormir.
Eles achavam que eu sabia de tudo. Tolos! Não passam de tolos!
Ninguém sabe de nada, muito menos eu.
Ter consciência de que não se pode prever nada, e de que as coisas vão acabar passando por cima de você.
Sussuros quase inaudíveis e indecifráveis. E é só isso que se pode obter dessa carcaça humana, que mesmo respirando já morreu.
Queria desesperadamente morrer
Planejou incessantemente o suicídio na mente
Vários métodos diferentes
Morreu por intermédio de cada um deles
Mas ainda assim não colocou em prática em realidade
Desejava desesperadamente morrer
Mas tinha medo de tentar e não conseguir
E então não sabia o que fazer
Eles vem para despejar todos os seus problemas
Seus lamentos
Suas tristezas
Suas desgraças
Tudo para dentro de mim
Mas que piada!
Seria cômico se não fosse trágico
Eu aqui, morrendo sufocada em meus sentimentos
E ninguém me escuta
Eles me olham, mas não me enxergam
E eu sigo
Sempre túmulo deles
O negócio com a filosofia é que ela quase sempre vai responder a uma pergunta deixando mais questionamentos.
Eram as horas insones, eu refletia sobre as dores do mundo quando a morte veio até mim, convidou-me para adentrar o abismo, e eu perguntei:
_ O que queres comigo dona morte?
E ela respondeu:
_ Tenho te observado, sei que pensas em mim, então quero lhe contar uma história. Mas para isso, primeiro precisamos ficar a sós, venha, puxe uma cadeira e sente-se comigo no escuro.