Christie Wingler
Para onde levou o sol?
Eu não sei mais Maria, o que fazer com estes dias que passam, mas nunca amanhecem.
É que eu estou sobrevivendo, mas não sinto mais intensidade e vitalidade, não sinto as gotas da chuva, e o sol para onde levou o sol?
Não me admiram, nem arrepiam-me mais as canções, tão débil parece o cheiro das flores agora, tão inconsistente o chão.
Seu corpo está distante do meu, abstenho-me então involuntariamente de amar qualquer coisa.
Perdi o juízo e as funções motoras, perdi a cabeça e a memória, não sei mais se seu nome é Maria ou felicidade, não sei mais o que fazer com esta saudade.
O novo é mais facilmente apreciado, é fascinante, sedutor, excitante e encantador, por isso admiro os que ficam, acompanham e contemplam os estágios da flor.
Sempre me lembrarei;
Daquela mesa redonda de madeira, os cafés da manhã, aquele potinho branco de manteiga com um trançado decorado. Os sorrisos e suas personalidades, suas cavidades, extremidades. Aquela árvore da calçada, aquela rede colorida, o alecrim, os beijinhos as samambaias e as orquídeas, o caminho de pedras e a grama verdinha, o sentido que tinha amar essa vida. Aquela gatinha com um olho mel e o outro azul, as tardes no zoológico, os peixinhos que voltavam pro mar quando morriam, as aventuras do kid bill um menino do velho oeste que meu pai criava historias todas as noites, e da pelica e o mundo da imaginação que minha mãe abriu as portas. Era lindo, mas ainda é vivo, em mim!
Deixa eu ficar aqui parada olhando pro nada
como quem olha o mundo.
É que eu não tenho pressa
nem vontade de entrar neste tumulto.
Deixa eu sentir o vento, sem me preocupar com o tempo,
que a vida passa tão depressa e a maré ta baixa.
Então deixa eu mergulhar no que é belo,
que forma um elo entre o meu eu indefinido e o universo.
Sem decisões, sem precipitações, nem azul, nem amarelo
Ei amor, se um dia a cama ficar pequena pra nós dois, se nossa musica não mais nos descrever, se as flores não tiverem mais o mesmo cheiro, promete tentar lembrar do meu calor no frio da serra que moramos, da minha voz rouca ao acordar e do meu Mont Blanc com frescor de jasmins e notas de sândalo?
Se achar que lhe falta algo, algo intenso ou harmônico. Feche os olhos e tenta lembrar das minhas unhas marcando suas costas, da nossa combustão, dos nossos gemidos alternados no ritmo em que você penetrava meu corpo e minhas chagas.
Mas se o café não for mais tão doce, nem mais tão quente, o sol não entrar pela nossa janela, se nossa aliança apertar seu dedo e seu peito, promete que pede pra eu ir embora? Só pra não estragar nossa história.
Promete tentar, mas só tentar guardar o melhor de ti, o melhor de mim, o melhor de nós e o nosso não acaso, o nosso eterno romance, mesmo que não termine tão terno?
Promete antes de desistir, tentar lembrar dos motivos que o fizeram me amar? E se eu não for mais a mesma pessoa, enterre o que fui, sem esquecer o que te trouxe; Mas se e somente só, sentir que não é um ponto final, tente acrescentar mais dois e no próximo parágrafo, me reencontre, me reconheça em um bar, a gente pode ate rir por eu ser xará da sua ex e você do meu, mas de como somos diferentes deles.
A gente pode ate dizer que foi o destino que nos colocou ali, mesmo que frequentássemos os mesmos lugares a 5 anos e que nossa cidade seja tão pequena que seria impossível não nos encontrarmos, você chamaria o garçom de amigo e me pediria uma pina colada, porque já conhece meu gosto agridoce e eu seus bons modos
Mas poderíamos fingir que é novo, que é inédito, poderíamos nos reinventar e nos reamar por indeterminas primaveras, fazer coisas que nunca fizemos, já que nos tornamos pessoas tão diferentes do que eramos, poderíamos então nos perder no lapso do tempo e do indefinido, assassinando os padrões que nos afogaram, das expectativas que colocamos sobre o outro, porque não entendiamos a beleza de ser contraditoriamente mutável e único, sem pertencer a lugar nenhum e ainda sim morar no abraço do outro.
É que eu tenho mesmo essa sede de mundo, de histórias pra contar, me desculpe não querer estar presa a você ou a um lugar. É que eu tenho essas asas pra voar e diversos pontos para pousar. Não é por falta de te amar, é por amor a liberdade de ir onde o vento levar, mas se vc quiser voar comigo, plana no ar, sem amarras e sem amarrar.
Eu fui embora de casa, embora do meu relacionamento de 6 anos, que era quase perfeito, embora da família dele, que basicamente me adotou, embora da nossa gatinha, dos abraços que me abrigaram... Eu fui embora do mais próximo da estabilidade que já estive.
Eu me arrisquei e risquei o vidro intacto, rachando-o, para parecer mais comigo, para ainda sentir que sou eu por mim e que sempre serei sozinha, e joguei tudo para cima, como quem vira a mesa ou uma dose de tequila. Eu estou andando na estrada escura rumo ao infinito, ao incerto, ao acaso, ora cambaleando, ora cantando, e continuo viva.
Eu deixei todos sem palavras, troquei o certo pelo duvidoso, perdi o ar de tanto chorar, mas peguei minha vida nas costas e fui andando com o coração pesado e os pés cansados do passado, mas que há 6 anos se acostumaram a ser fixos e massageados.
Eu pichei um quadro do Picasso, rasurei uma obra-prima, um romance aclamado, dei um fim ao que seria um final feliz, e agora sou alguém que viveu o amor e não que o deixou escapar pelas mãos, mas que encheu as mãos e a alma e depois o jogou de volta nas correntezas do destino para ser inteiro antes de dar o que não tem.
Eu sinto frio ao dormir sozinha, sinto as mãos geladas sem as mãos dele nas minhas, sinto falta do sorriso dele aquecendo meu peito e daquele olhar de admiração que corava meu rosto quando me via arrumada, da sensação de me sentir linda ao acordar mesmo com a cara amassada e, ainda assim, sigo com a minha decisão de ser sozinha.
Quando se namora dos 15 aos 21 e vocês se casam, você desaprende a não ser amado e tudo depois disso é raso, como observar a superfície de um oceano e não mergulhar. Estar com outra pessoa quase soa errado, é como se você ainda pertencesse a ele, e você toma banhos demorados, como se pudessem te limpar dos toques sem paixão que ainda estão no seu corpo.
Quando se tem uma infância/adolescência complicada e aparece o príncipe encantado suprindo todas as suas necessidades, você se sente sortuda e se torna eternamente grata, você cria raízes e se vê florir, se enchendo de vida e transbordando sorrisos que nunca soube dar, aprende a ser feliz como nunca havia sido e, de repente, quando tudo está sereno há tanto tempo, vem o caos que habita em você e te afasta, te isola do mundo mágico, porque aquilo ali não é você, não é para você. Toda aquela realidade aparentemente plena é surreal e muitas vezes injusta, você se sente um estranho no ninho e não se encaixa mais, mas você continua tentando e tentando, e, de tanto fazer força, vai destruindo o que está em volta, aqueles que te fizeram tão bem, perde o encanto e já é hora de ir embora para não estragar a história. Dói e vai continuar doendo, mas você precisa ir.
É hora de começar um novo livro, aceitar que você não é um romance e aprender a ser autoajuda, mistério e superação, seu guia de bolso, sua Bíblia. Hora de aprender a ser sua casa, sua melhor amiga, sua família e sua própria fé, ser a mulher da sua vida, a autora da sua história e a personagem principal – um pouco mocinha e um pouco vilã. Hora de amadurecer, dentro do seu próprio tempo, sintonizar na estação do agora, errar, se decepcionar consigo mesma, se perdoar e voltar a sorrir. Hora de entender Nietzsche, tomar bastante café e, enfim, tornar-se o que é e, ainda assim, ser metamorfose, se desconstruindo e reconstruindo quantas vezes forem necessárias até se tornar a melhor versão de si mesma.
Não sei mais o que escrevo, talvez algo que me faça sentido, ou que me falhe, que me encontre ou que me escape, que fingi por tanto não sentir, que agora neste papel mesmo sem te dizer eu digo que sou tudo que me foge, tudo que me retém, tudo que me invade, transborda e se perde, tudo que escancaro num sorriso, que oculto num choro sem som, só parte do que transpareço, nem um terço do que voce se propõe a ver, porque metade de mim é o que omito e a outra é o que me rasga o peito.
O mundo ta pesado demais, a solidão esta entranhada na minha carne, no meu mau disfarce, no meu sorriso que não liga pro mundo.
A correnteza ta forte demais e ta levando o meu sono, minha esperança, a fonte da minha juventude, minhas mãos não estão mais conseguindo agarrar as pedras e to me afogando entre elas.
O vento ta soprando pra longe e me afastando do que eu amo, dos que eu amo, esta dissipando meus sonhos e fazendo tornado com as certezas que achei que tinha, mas no ar agora, vejo que não me pertenciam.
A terra não ta dando o fruto proibido, não ta florindo os meus olhos, não ta germinando a ideia de prazer, não ta tornando fértil minha imaginação, nem nutrindo o meu caule para que eu sustente todo o resto.
O fogo ja queimou minha força de vontade, ja transformou em cinza tanta coisa que eu acreditava ser concreta e tanto toque que me esquentava, que eu jurava ser brasa, era só faísca.
Tá tudo bem!
Tudo bem você ter perdido dinheiro, ter pedido o isqueiro, ter esquecido o casaco na mesa do bar, tudo bem perder a hora, ou esquecer o andar do prédio ou daquela moça.
É que ninguém nunca te disse que tá tudo bem perder.
Mas a gente perde a piada mesmo, pensa que perdeu o amor da nossa vida, perde a paciência e a tolerância, porque ficamos esperando o prêmio, o bônus que acompanha o ganhar e quando não ganhamos a gente resmunga, se culpa, se frustra.
É que a gente anseia tanto que não compreende que em alguns momentos é necessário perder para encontrar e se quebrar para ser inteiro.
Quantitativamente somos pequenos demais, uma pessoa entre 7 bilhões de pessoas que habitam 1 planeta dentre outros 8, que orbitam uma única estrela, entre bilhões de estrelas, que pertence a uma das bilhões de galáxias do vasto multiverso.
Mas se somos do tamanho dos nossos sonhos como Fernando Pessoa diz, podemos dizer que somos grandes?
O que justifica não cabemos em nós mesmos, e nos estendemos nas palavras, no peito do outro, mesmo que não ocupemos o mesmo espaço?
Como somos capazes de tocar e desencadear energia através da música, das pinturas, fotografias, desenhos e poesias, mesmo sem fisicamente encostar em nada?
De certo modo conseguimos ir além da mera repulsão elétrica? O amor, o choro, os versos…
Porque, é complexo demais ser ao mesmo tempo poeira e um universo tão vasto e singular.
O homem realmente dominou o fogo?
Porque o amor é tal como este, ele é brasa, mas também é incêndio e se alastra tão facilmente, há de se ter um controle sobre a chama?
Ele pode aquecer, queimar ou apagar.
Então por que diabos não entende o amor?
Sera este mais indomável que o próprio fogo?
Eu esperava que aparecesse alguém para me consertar; Mas que bobagem a minha, eu nunca estive quebrada!
E como sempre, coloquei energia demais no que era escasso e frágil, foi como uma grande vela em um barco de papel.
Faça um favor a você mesmo, indigne-se, exploda, se expresse, contrarie alguém, ria de algo triste ou sem graça, chore no meio de uma piada, arrisque e se renove, mesmo que seja criticado, só não seja a pessoa que se afoga por nada dizer, por medo de ser ridículo ou incrível.
• ‘Torna-te o que és!’
Eu não quero desistir, o futuro me atrai, penso nos sorrisos que darei, no frio da Europa e dos belos casacos, quase como um filme clichê que vi mais de mil vezes na adolescência.
Gosto de mim, na maior parte das vezes, gosto das minhas musicas e de como me emociono facilmente, embora as vezes odeie também, porque foi um pouco embaraçoso chorar na escola na quinta série vendo o filme 'a vida é bela';
Gosto dos meus olhos que são grandes, mesmo enxergando extremamente mau e das minhas mãos que apesar de pequenas, vez ou outra seguram o mundo de alguém e escrevem o que eu tenho dificuldade de dizer.
Mas as vezes eu sofro sem entender e a solidão me convence que ela sou eu, que o que gosto em mim não é bem o que os outros veem, que insistir em mim não é algo inteligente ou prudente.
Tem certos momentos que no meio de uma festa ou rodeada de amigos, bem no meio de uma piada engraçada, saio de órbita, perco o brilho no olhar e não sei aonde estou, sinto vontade de fugir imediatamente dali, ir pra onde eu me sinta confortável, mas não sei aonde fica este lugar.
As vezes acho que este lugar pode ser uma pessoa, um amor talvez, mas se perde-lo vou me perder, e logo eu que sou péssima em geografia, que mal consigo me localizar no bairro que moro a 6 anos, o fato é que este lugar não pode ser algo que me escape. E é claro que qualquer psicologo, sábio, coach, velho bêbado... diria o que bem sei, que este lugar sou eu mesma.
Mas estou cansada, de saber, de me decepcionar, de me arrepender, de correr e de não sair do lugar... Mas este não é um privilegio exclusivamente meu, não estamos todos assim?
Desculpe se chegou até aqui esperando um final brilhante ou conclusivo, mas não, este texto é um espasmo, um movimento involuntário da minha confusão.
Enquanto isso, Vou devagar, vou esperando ate entender o equilibro entre a liberdade e o pertencer, talvez daqui a alguns anos eu responda este pensamento meu com um olhar de quem entendeu, ou de quem percebeu que nada disso importa, que eu era apenas uma jovem com seus vinte e poucos anos.