Chico Buarque

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Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã

Chico Buarque
Samba e Amor

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?

Eu vejo as pernas de louça da moça que passa
e eu não posso pegar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu.

(...)Vê como é que anda aquela vida atoa, e se puder me manda uma notícia boa!


(Samba de Orly)

Não se afobe não que nada é pra já!

No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim

O que a ação revela sobre a pessoa?
Ouça um bom conselho
que lhe dou de graça
Inútil dormir
Que a dor não passa
Espera sentado ou você se cansa
Está provado
Quem espera nunca alcança

Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens sempre tão gentis...

Sabia, gosto de você chegar assim. arrancando páginas dentro de mim.
Desde o primeiro dia. sabia, me apagando filmes geniais.
Rebobinando o século. meus velhos carnavais. minha melancolia.
Sabia que você ia trazer seus instrumentos.
Invadir minha cabeça. onde um dia tocava uma orquestra...
Sabia que ia acontecer você, um dia.
E claro que já não me valeria nada tudo o que eu sabia.

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio.

Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

A dor da gente não sai no jornal.

Chico Buarque

Nota: Trecho da música "Noticia de Jornal".

Futuros amantes, quiçá, se amarão sem saber, com o amor que eu um dia deixei para você.

Como é dificil acordar calado. Se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano.

Arrisquei muita braçada; Na esperança de outro mar; Hoje sou carta marcada; Hoje sou jogo de azar

Um coração saliente bate
E bate muito mais que sente

O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio...

Se Eu Fosse Teu Patrão

Eu te adivinhava
E te cobiçava
E, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te abrandava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão

Seu homem foi-se embora
Prometendo voltar já
Mas as ondas não tem hora, morena
De partir ou de voltar

Não brilharia a estrela ó bela
Sem noite por detrás

Abre o teu coração
Ou eu arrombo a Janela

O olhar de uma mulher faz pouco até de Deus
Mas não engana uma outra mulher

Porém, ai porém
Visto que a vida gosta de uns ardis
No dia em que ao seu lado ele sonhar feliz, feliz assim
Feche então você seus olhos por favor
E pode estar certa que o seu novo amor
Resolveu voltar pra mim