Carol Gray
E só de olhar para uma garotinha e dizer "Que coisa 'gotosa', gente!" você já está entregando um convite a ela para fazer parte deste mundo sem valores.
Eu não sei o que esperar do mundo, das pessoas, da Lei. É por isso que deposito minhas esperanças na geladeira, porque dela posso esperar ao menos um mísero sorvete.
Julgo na sabedoria de julgar a ideia, não a cabeça que a transmitiu. Ironizo na graça de transformar o problema em sorrisos, não o que precisa ser levado à sério. Sorrio com a força de contagiar o choro, não um rosto sem expressão.
"Todos falam mal do Sistema... Mas que Sistema é esse?"
- Meu irmão, olha em volta. Olha todas essas pessoas caminhando pelas mesmas ruas todos os dias, suando e se cansando durante o mesmo período de horas sempre, recebendo todo mês o salário medíocre que lhes é "pago" (porque maior parte dele vai para os impostos). Agora se pergunte... A moeda sai "do bolso" do Sistema pra vir pro nosso, mas ela volta em imediatos 15 dias, quando a conta de luz, água, telefone, gás, IPTU, IPVA começam a chegar. "Carro é um luxo humano." É isso o que eles dizem? Então pra quê tantas limousines? A gente já tem que enfrentar um trânsito enorme pra chegar no trabalho, ou uma fila enorme no hospital público (porque nem a um particular a gente tem direito), e ainda tem que pagar pra chegar nesse destino?
Eles vivem dizendo que todos nós temos direitos... Sim, temos. Mas cadê o cumprimento deles? Estão todos ali, ó, naquele separador social que chamam de Lei.
Brother, olha aquelas pessoas disputando quem tem a roupa mais bonita, o celular mais tecnológico, o corpo maior... Olha aquelas crianças que já sabem coisas que eu não sabia nem metade quando tinha idade delas. Olhe toda a sociedade, todo movimento, todo mecanismo.
"Sim, estou olhando..."
- Então me diz você: que Sistema é esse?
Vou te ser sincera em relação à felicidade...Eu queria toda a felicidade do mundo. Assim mesmo: TODA a felicidade do mundo.Sem exceções. Aí eu compartilharia ela com cada ser vivo aqui existente. Pois só assim teria a certeza de que todos nós somos realmente felizes.
Eu precisava dormir. Precisava entrar em transe. Precisava fugir da realidade. Precisava sonhar, imaginar. Então sonhei. Ilusionismo. Puro ilusionismo. No meio do sonho senti que como se estivesse ainda acordado, mas o meu coração batia como se eu nunca estivesse deitado sobre a cama. Então tentei abri os olhos, torci pra acordar. E no que eu pensei ser um pesadelo, já estava entrando em outro sonho... E aí, somente neste momento silencioso e vazio, eu percebi que estava, simplesmente, vivendo a minha vida.
Nem existe mais AQUELE futebol brasileiro, com grandes talentos, grandes técnicos, grandes jogadas , vitórias, derrotas... Dava gosto de assistir. Mas hoje em dia, infelizmente, parece mais briga de galinheiro, com um monte de franga correndo atrás da bola...
"Deve ser lindo ter um segundo coração batendo dentro de você. Duas vezes mais amor, duas vezes mais felicidade, duas vezes mais fome. Deve ser lindo ser mãe. Pegar nas mãozinhas, vê-las se aproximando dos seus dedos, começando a caber entre eles... Ouvir o primeiro choro, ver o primeiro sorriso, as primeiras palavras, e até o primeiro gorfo, a primeira fraldinha suja... Deve ser lindo. Sério mesmo. Deve ser muito especial. E eu fico me perguntando se algum dia vou ter essa sensação." - ela disse pra si mesma. Pensou consigo mesma. Então deitou. Acariciou a barriga. Cantou canções de ninar. Contou histórias sobre reinos distantes e pessoas boas. Acariciou a própria barriga mais uma vez. Fez cócegas. Fez dengo. Falou coisas bonitinhas. Imaginou passinhos na sala, no quarto, na cozinha, pela casa inteira. Ela imaginou o primeiro "Olá", o primeiro colo, a primeira amamentação. Contou cada dedo que tinha para representar os beijos para serem dados de segundo a segundo. Imaginou o primeiro sapatinho. Imaginou os passinhos. Imaginou o primeiro sorriso, as primeiras palavras. Imaginou como ela seria feliz ao ter um pedaço dela junto com o pedaço do homem que ela mais ama naquele útero. Imaginou o homem ao lado dela, cada segundo. Imaginou-se chamando o de "papai", rindo que só, enquanto ele tenta cuidar do bebê. Imaginou quantas tardes, juntos, eles passariam cuidando do bebê. Quantas coisas descobririam com ele, e ensinariam à ele. Imaginou as brincadeiras, os mimos, os dengos. Ela ficou horas e horas imaginando, cantando, sorrindo, brincando com aquela barriga... Parecia que ela estava vendo-a pela primeira vez. Foi encantos e encantos... Contos de fada. Sorriu, brincou, dormiu. E quando amanheceu, a brincadeira foi outra: ela tinha cantado para si mesma, acariciado a si mesma, rido consigo mesma, brincou consigo mesma, dormiu só... A menstruação havia chegado.
- Eu não vivo sem o Flamengo.
- Ah, claro! Ele é oxigênio por um acaso?
- Não, mas o meu sangue é vermelho e preto.