Carlos Seabra

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velho jornal
levado pelo vento
prevê temporal

sonho colorido
o sol dança com a lua
você comigo

terreno baldio
lixo revirado
gato vadio

no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro

sossego acaba -
chegou a pamonha
de Piracicaba

o vento afaga
o cabelo das velas
que apaga

estrela do mar
abraça a areia
para a beijar

ave calada -
ninho em silêncio
na madrugada

pinta no nariz -
era uma pulga que
fugiu por um triz

travesso gato
com saudade do dono
mija no sapato

Saci Pererê
fuma seu cachimbo
à sombra do ipê

jornal aberto,
café, leite e sangue:
guerra de perto

mulher-fera
usa unhas como se
fosse pantera

serra nevada,
cumes tocam o céu -
nuvem furada

com alicate
abre o maluco
um abacate

folhas no quintal
dançam ao vento
com as roupas do varal

rochedo no mar
barco afundado
olhos a chorar

nuvem parada
beijada pela brisa
fica molhada

musa sereia -
marinheiro bêbado
ouve baleia

gota de chuva
escorre na parreira
pára na uva

que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?

gente sem terra,
corrupção, desemprego:
mundo em guerra

beijo roubado
é o butim do ladrão
apaixonado

abelha na flor
a brisa nas árvores
eu com teu sabor

micro na teia
navega na internet
grão de areia