Camilo Castelo Branco
A rosa da profunda amizade não se colhe sem ferir a mão em muitos espinhos da contradição. No abnegar é que está o vencer de muitas resistências invencíveis ao império da vontade.
A castidade, além de ser em si e virtualmente uma coisa boa, tem ignorâncias anatómicas e inconscientes condescendências com as impurezas alheias.
Os dias prósperos não vêm por acaso. São granjeados, como as searas, com muita fadiga e com muitos intervalos de desalento.
O ciúme vê com lentes, que fazem grandes as coisas pequenas, gigantes os anões, verdades as suspeitas.
Amigos verdadeiros são os que nos acodem inopinados com valedora mão nas tormentas desfeitas.
Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas ilusões, quando o amor as inventa.
Amigo é uma palavra profanada pelo uso e barateada a cada hora, como a palavra de honra, que por aí anda desvirtualizando a honra.
O amor nascente é tão melindroso, pueril e tímido, que receia desagradar até com o pensamento ao ídolo da sua concentrada adoração.
O amor, que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida, perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm perigos de empestarem-se em contato com as da terra.
O amor que enlouquece e permite que se abram intercadências de luz no espírito, para que a saudade rebrilhe na escuridão da demência, é incomparavelmente mais funesto que o amor fulminante.