Camila Senna
Que a alma desnuda que tenho
não a queiram vestir,
vesti-la de sujidade, fazendo ocultar
a nobreza em mim.
Que a liberdade que anseio a cada dia,
ninguém a tente impedir...
colocando espinhos nos meus caminhos...
e amarra nas minhas pernas.
Ainda que consigam, será por pouco tempo,
pois sempre haverá uma senda.
Respirar me sentindo leve como um pássaro...
Viva e linda como uma flor...
Ainda que o lugar pareça de mentira.
Eu construo ele dentro de mim,
com a minha verdade.
Sem tão pouco me importar,
com as suas mentiras,
que não me levam a lugar nenhum...
Não temos a certeza que o amanhã chegará, mas vamos acreditar que ele vai chegar, e com ele a cura se instalar.
(Mensagem para as pessoas com cancêr)
Me vesti de preto, não porque estou de luto...
Mas porque não estou bem!
Peguei minha xícara de café, e sentei...
Sentei no sofá cor de canela.
Tomei cafeína para ver se existia...
Existia com urgência, querendo sair logo desse marasmo...
Marasmo da rotina...
Rotina que me faz saturar.
Me fazendo suspeitar do dia, da luz, me fazendo preferir o breu...
Breu esse, que impregna meu espírito de solidão...
Solidão essa, que faz nublar o céu azul, sem perguntar sua opinião!
Que transforma o dia quente e intenso, em dia de frio e insensível.
Mas ao mesmo tempo me acalma, domina meu ânimo.
Me faz refletir no ontem, no hoje.
Me sinto por horas melhor, ouço até minha respiração quente sobre o travesseiro.
Mas não quero...
Deixar a solidão, o marasmo, e a rotina me pegar...
Agarrando as minhas pernas...
Grudando feito lepra no meu corpo e me fazendo estacionar.
Um dia inteiro desse veneno que foi absorvido pela pele...
E, espertamente se instalou na alma, já basta!
Ser serena com tristeza?
Não vale a pena!
Quero a substância do amor, que é cheia de vigor.
Prefiro mesmo os dias agitados que são cheios de calor.
Calor humano, que me inspira...
Me inspira o coração, os sentimentos...
E o mais importante, os meus pensamentos.
Sabe o que desejo mesmo?
É sangue quente circulando por minhas veias, sempre!
Delírio real...
Anda saindo pássaros da minha cabeça.
Será que estou louca?
Certa demais eu sei que não sou, mas pássaros?
Eles me convidam para voar com eles.
Fico meio acanhada, mas logo fico desavergonhada.
E nesse desatino, me sinto pequenina por fora
e coração gigante por dentro.
A aurora que antes era só devaneio, ilumina meus olhos
lubrificando minhas lentes.
E os pássaros do bem, me indicam o destino.
A vida que mora em mim, de ávida que é, ousa logo pousar sem freios para o leste.
É só uma idéia...
Existem três caminhos a serem trilhados...
Que depois de decidido, fica difícil apagar as pegadas que foram registradas no solo.
O primeiro, é aquele que a verdade vai falar mais que sua língua...
E quando tocar aquela música linda aos olhos dos normais, você, vai ter a coragem de dizer, não gosto desse som, ele é careta!
O segundo, é aquele que sua casa vai viver cheia, os sorrisos serão para todos, até mesmo para aqueles que você detesta.
Haverá também, frases feitas e abraços ensaiados.
O terceiro, é aquele que vão colocar o cigarro na sua boca, e você por sua vez, vai fumar, mas não vai tragar.
Dez irão dizer que sim...
E os outros dez, irão dizer que não....
E você, viverá por longos anos, talvez até a sua morte, não sabendo se era sim ou não!
Complexo não? Mas ainda assim, eu prefiro o primeiro caminho.
Não importa se os meus passos ficarão registrados no solo, que fiquem! Fiquem agarrados.
-
Vicissitudes...
Hoje estou sensível como bolha de sabão...
tô mimada, querendo ser paparicada, querendo ser notada.
Hoje estou como as flores...
querendo ser regada de amor, desejando ser cheirada, admirada.
Hoje estou como a lágrima...
querendo ser enxugada, querendo ser atendida.
Hoje estou como o frio...
querendo ser aquecida, ansiando ser envolvida.
Hoje estou como a floresta...
querendo ter vida, gritando pra ser protegida.
Hoje estou como lagarta virando borboleta...
trancafiada no meu casulo, sem querer dar de cara com o importuno.
Hoje estou como as folhas secas...
voando sem destino, sem tino, sendo a direção arriscado ou não.
Hoje estou chorosa como o palhaço....
palhaço em final de picadeiro, quando todos vão dormir em seus travesseiros.
Hoje estou como o asfalto em Brasília...
pequena diante do Planalto e sua maestria.
Hoje estou como o barco em plena ventania...
querendo direção, querendo provisão.
Hoje estou como pássaro na gaiola...
implorando vento no rosto, querendo libertação.
Hoje estou como os enamorados apaixonados...
sedenta de amor e um pouco de ilusão.
Hoje estou como a paz...
querendo doses de agitação.
Hoje estou como o ciúme...
insípida, cortante feito faca em exageros de causar irritação.
Hoje estou como olhar de criança carente...
querendo atenção, querendo o simples, o novo.
Vez em quando fico assim...
Cheia de fases e controvérsias, como toda mulher especial.
Sacudindo o teatro em mim...
Hoje a felicidade me arrastou para o palco da liberdade.
Eu estava de vestido floral, com cores laranja e amarelo.
Levantei a barra do meu vestido e me liberei, me sacudi, rodopiei.
Era tanta a euforia, que ao rodopiar eu não sabia, se era o vestido
que me cobria, ou os colibris da fantasia.
Meu rosto estava suado, minhas bochechas estavam vermelhas...
E o meu corpo? Estava quente e minha alma flutuante.
Tirei o peso das minhas pernas e pés, eles ficaram espertos e ligeiros.
O palco estremecia, mas não caia.
Ainda que caísse, eu ia continuar dançando...
Pois a alegria era tanta, que nada me abalaria.
A preguiça? Mandei embora.
A rotina? Dei férias.
A vergonha? Demiti!
Tomei posse da minha autonomia.
Deixei fluir sem preceito a menina que não se cansa de mim.
Que vive a me rodear, sempre me convidando para bailar.
Que pula, que grita, que ri, que é feliz!
Doação da amizade
Amigo mesmo é aquele que, quando você está fraco, faz transfusão de energia para te fortalecer.
Sei que a vida não é só primavera...
Mas quero ter a a alma florida o ano inteiro.
Sei que o sol não vai bater na minha janela todos os dias...
Mas faço questão de abrir as janelas.
Quero ousar andar na corda bamba...
Mesmo sabendo que corro o risco de me desequilibrar...
Quero ao menos arriscar.
Larguei o relógio da minha vida no chão.
Ele marcava as horas, tomando conta do tempo.
Tempo que quero deixar seguir sua real direção.
Sem tantos planos, sem tanta espera.
Tenho expectativa sim, mas deixa ela ao natural.
Não quero colocar minha esperança em risco.
Se tiver que me transportar de um lugar para o outro.
Estou pronta!
Não quero oprimir o tempo.
Quero deixar que o tempo flua em mim.
Sei que é melhor assim.
Pois tudo que é forçado no final é ruim.
Quero sair pelas estradas da vida...
De braços dados com minha confiança.
Me surpreendendo com o novo...
Extasiada com o inesperado...
Com o que até então, era impossível, era delírio.
E de repente, dar de cara com as portas...
As portas do futuro que um dia sonhei.
Quebrar a ampulheta do tempo...
Que me importunava a alma, a mente, o coração.
Me fazendo dormir com aflição
E acordar com talvez um não.
Os sonhos que em ti eu confiei, tomei de volta, joguei fora e refiz minha trajetória.
A vida que lhe entreguei não fiz questão de reviver, deixei contigo.
Me traduzi.
Hoje acordei tirando as teias que estavam me encavernando.
Senti vontade de sacudir a poeira e tirar os sonhos do papel.
Desejei ouvir Sandra de Sááá, e dançar, dançar...
Choro, choro porque em mim, dentro de mim, habita uma vida.
Vida sofrida, que mesmo com tantos dissabores.
Mesmo com tantas desgraças já ocorridas.
Grita, grita pra ter vida.
Meu interior vez em quando, respira frágil, frágil pior que vidro.
Cuja alma se encontra árida, retraída.
Minha mente vaga nos andarilhos de um senhor chamado passado.
Implorando fazer teatro, nas cortinas de um menino chamado presente.
Aonde o todo poderoso é o tempo, o tempo.
Quero me aconchegar em algum lugar.
Ando com espírito ébrio de tanta imobilidade.
Existe vida aí dentro? Se existe, a mesma, foi feita para ser vivida.
Se teve descida, subimos a ladeira novamente.
Se teve pancada, tratamos sem deixar marcas, (só as ruins...) rs
Se teve tristeza, foi para um dia a alegria chegar com gradeza.
Isso chama-se vida, que só quem vive são os ávidos de alma, de coração.
Assim como o ar...
Na aldeia dos nossos sentimentos, todos podem te amar e venerar. Mas se tem um, somente um, cujo o "amor" que queremos e veneramos não nos é dado, dói, dói tanto, que às vezes é inútil tanto amor ao nosso redor, se na verdade necessitamos é de um só.
Assim como o ar que respiramos.
Do que adianta procurar saída para a solidão
Se muitas das vezes, sou eu, o x da questão.
Do que adianta bater a porta na cara do não
Se ele uma hora vai chegar na minha direção.
Do que adianta, não querer passar na curva estreita que tenho que passar...
Se a rua reta que curto trafegar, pode um dia desses paralisar.
Do que adianta ter medo de ser ridícula e mal interpretada...
Se muitos dos grandes nomes foram, e hoje, são referência para nosso suspiro.
O assobio do vento sussurrou baixo no pé do meu ouvido
Dizendo: não se assuste com o mar de surpresas que chegará com força em sua tenda.
Aquilo me causou arrepios.
Fiquei pensativa tentando decifrar o que poderia ser a surpresa.
Nasceu o dia, findou-se a noite e assim durante seis dias...
No sétimo dia, o vento espalhou aos quatro cantos da terra.
– Que, para a alegria só é preciso fé e ousadia.
Aí então eu entendi, foram justamente as duas coisas que eu mais me revesti.
Lágrimas escorrem pelas curvas do meu rosto.
Seguro na mão, a rosa vermelha que um dia eu fui.
E luto, luto todos os dias para continuar sendo...
Mesmo não suportando o cotidiano, pois sou mulher de Áries!
Eu busco, eu tento, persisto e invento.
Pois sou o licor degustado com ardor.
Anel dourado no dedo e cheio de experiência.
Não todas, mas o suficiente para saber...
Que amar dói...
Mas também constrói.
Que amar alimenta...
Mas também pode matar.
Matar os sonhos...
Mas pode também ressuscitar, e dar um novo verso ao papel,
Que um dia foi escrito com muito amor e mel.
Corpo que se entrega e vive de teimosa a se entregar.
Que não se cansa de lutar.
E de intensa que é, busca ser imensa do tamanho do mar.
Sem obscuros a rodear...
Liberta e livre como o rouxinol.
Andando por becos,
Pontes,
Marginais,
Temporais,
E com alegria, roseirais...
“Querendo vida sem ferida
Querendo vitória sem ironia
Querendo poesia sem agonia...”
Quero me alimentar com os grãos da minha vida vivida...
Com as areias das minhas ilhas...
Lutando sempre pelos meus anseios.
Podem não ser os mais indicados, mas são meus...
Então, não interrompam, muito obrigado!
Você é dos meus.
Sorriso entre o pai e a filha
Abraços entre amigos e irmãos
Paisagens de união no verão
Do mundo e seus encontros profundos...
Do beijo molhado, do abraço suado
Do olhar de uma mãe para um filho...
Do vento no rosto.
Da formatura esperada e venerada
Da corrida...
Da chegada de uma vida para esta vida...
Das esquinas
Da neblina
E até da partida, que pensa que terá outro encontro...
na verdade era só despedida.
Os momentos correm como o vento
E o tempo escorre por entre o vão da porta...
Mas tem uma máquina, a máquina do tempo que para qualquer
doce
amargo
lento
forte momento...
Fotografa, retratando o retrato da vida de todos...
Deixando transparecer até sentimentos...
Assim é a fotografia, como a poesia...
Eterna, eterna...
O sorriso que ilumina a paz...
Que também diz que é audaz...
O sorriso...
Que tanta inglória traz...
Mas busca ser nobre demais...
Reluz sobre o cobre, o ouro que é.
O olhar sempre em busca da chama...
Que inflama...
Que proclama.
A atitude sempre em busca de cartazes...
Querendo parir...
Parir as glórias da vida e assim reluzir...
Trazendo a importância da magnitude que é a democracia...
Sem hipocrisia...
Sem desarmonia...
Sem covardia...
Mas com muita fé, coragem e ousadia...
Trazendo na bagagem toda a história das feridas...
Com muitas lutas vencidas.
Muros pintados de cores fortes...
Unidas contra a morte...
A morte dos sonhos...
A morte da vida...
A morte da terra e suas avenidas.
O fim da tortura e do sangue...
Sangue de vítimas inocentes...
Que só queriam igualdade com muita dignidade.
Eram os sofredores...
Hoje são os vencedores.
Eram os escravos...
Hoje são os escritores.
Que escrevem suas vidas...
Trilhando a terra prometida...
De cada sonho...
Escrevem seus roteiros sem dor...
Sem cor...
Com muito louvor.
Roupas brancas e adornadas
Com seus guias...
Com suas crenças e suas diferenças.
Olhar esperançoso e sedento...
Sem querer se quer, o lamento...
Mas retidão.
Mas provisão.
Almejando a pluralidade dessa terra colorida.
Tem a cara do Brasil...
Tem os cantos de abril.
O negro...
O íntegro negro.
Cuja correntes arrebentaram...
E um novo destino, traçaram.
Anseia sociedade absoluta
Com sua conduta na luta...
Sempre na labuta de verem as coisas evoluírem...
De verem as coisas progredirem.
Nossa cultura vem do negro meu irmão...
Nossa terra é herança do negro meu irmão...
Foram eles que nos motivaram...
A terem força...
A terem garra...
A terem esperança...
Em dias de guerra...
Em dias lança.
“... A nobreza de verdade vem do pó, pó da terra, que foi erguido o castelo, castelo de guerra, guerra contra o preconceito e suas raízes obscuras...”