Camila Custodio
Aparece no meu sonho. Aparece no meu dia. E não consigo distinguir qual é mais real, nesta neblina espessa que aturde e confunde...
Tenho uma mania permissiva e lasciva de viver intensamente até mesmo na efemeridade e subjetividade do instante sutil.
Sou esperta em linhas retas. Em linhas tortas e no abstrato me abstraio, caio e calo. Mergulharei em Picasso, quem sabe não me acho.
O meu silêncio é o que dou: frio, distante e introspectivo. A verborragia caminha lado a lado com a convicção.
Trocou melodia pelo medo, trocou palavras pelo silêncio. Cavou resignada e achou poço fundo e fértil. Desde então sentiu sede e nada mais...
Há uma âncora...
Tão pesada, tão ferro, tão ferrugem corroendo minhas culpas, me impedindo de navegar. Quero partir, mas não sei como ir.
Ando mergulhada no aquário do silêncio. Não sobra nem falta; simplesmente o nada.
Estou nadando pra me encontrar, ou quem sabe, me perder de vez...
Na correria fugidia o desencontro...
Desencontrar-se?
Desencontros geram sempre saudades e saudades criam laços resistentes, elásticos, impermeáveis, duradouros.
E quando o encontro chega: tum tum tum...batem mais forte que o tunz, tunz, que um dia nos uniu...
E quando encontramos nosso próprio reflexo em outro olhar, dá vontade de ali ficar.
É perder-se e encontrar-se no outro. É resignificar-se.
É sentir-se com novos aromas e ver-se com novas cores, é reluzir novos brilhos. É reencontrar sentidos. É ser melhor, à partir do outro.
Não sinto meus passos, não sinto os pés no chão. Piso em nuvens de algodão, piso em flores, nas dores molhadas de chuva.
Carrego pó que recolho de metade histórias que vivo, espalho grãos no caminho de lembranças fugidias.
Sigo só e só me querendo em você...
Se tudo gira, rodopiando em repetidos erros, enjoo-me, enojo-me.
Vômito à tudo que perde sentido, que zune aos ouvidos, que amarga a boca.
Sigo inquieta, nunca aquieto-me.
Não, mentira, minha.
Quando há nosso enroscar de pensamentos e olhares, a calma transborda, o tempo pára...
A razão não pertence a mim ou a você. Está no meio, no epicentro.Deixe que o tempo e o vento mostrarão, deixe que o tempo e o vento curarão.
Tempo pra curar, vento pra levar...
Vento pra trazer, tempo pra esquecer...
Eu, que sempre tinha uma palavra pronta, morri no silêncio.
Sobrou profundo ressentimento, por jamais saber como seria...
Legal.
Brinquei de pega pega, quebra cabeça, gato e rato, detetive e ladrão, esconde esconde.
Tá na hora do jogo da verdade, né?
Pra longe vou, por os pés na terra, nutrir-me de minhas raízes, sentir cheiro de verde, me perder no silêncio das estrelas, silenciar...
Em noite de lua cheia a minha estrela relampejou e disse: -Não ofusque sua luz com meteoros. Se concentre na direção do sol!
Restos, raspas, cascas ficam soando como farsas em minha mente... Muita disposição mental para limpar tudo que não agrega.
Andei triste sem motivo. Mas os motivos ocultos são sombras que se escondem quando iluminamos com vela e reza a face da dor.