Caio Fernando Abreu

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É difícil aprisionar os que têm asas.

Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos um ao outro, porque éramos tudo o que precisávamos, para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno.

Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas.

Deixa que a loucura escorra em tuas veias. E quando te ferirem, deixa que o sangue jorre enlouquecendo também os que te feriram.

Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.

Mas para mim não importava o que se fora. Queria o passo à frente.

Na vida, as coisas mais doces custam muito a amadurecer. Mas isso é pensamento de gente grande, deixa pra lá.

Para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias

Nota: Trecho de "Existe sempre alguma coisa ausente"

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Não lembro de ninguém assim tão à flor de si mesmo.

Tenho aprendido coisas com ele. Nada muito sensacional, coisas simples, pequenas alegrias.

Nunca esperei que um dia, numa tarde de sábado, você podia sair de dentro do meu rádio para dizer olhando para mim: I love you. Quando eu queria sair de Minas e não sabia como... Como se eu fosse uma estrela caindo do céu, longe. Então eu imaginava você vindo, como eu te imaginava.

Tenho achado viver tão bonito.

Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver.

Penso também outra coisa de gente grande: não adianta muito você se enfeitar todo pra uma pessoa gostar mais de você. Porque, se ela gostar, vai gostar de qualquer jeito, do jeito que você é mesmo, sem brilhos falsos.

Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar.

Peixes, logo vi, regente Netuno, ah Netuno, cuidado com as ilusões mocinha, profundas e enganosas como o mar que é teu elemento.

Um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem.

Caio Fernando Abreu

Nota: Trecho de um carta de Caio Fernando Abreu, escrita em 28 de dezembro de 1976.

Quando tudo, sem ele, é nada.

Não adianta, não sei explicar. As palavras traem o que a gente sente.

Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário.

Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz.

Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno

A alegria não é difícil. Fique atento no seu canto. Basta uma margarida na sua fossa.

Completamente insano, mas extremamente sábio.

Não se pode ser infeliz, não se pode morrer em vida, não se pode desistir de amar, de criar. Não se pode: é pecado, é proibido (...) Não é possível adiar a vida.