Cáh Morandi

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"Já não quero ser grande, forte, inatingível. Quero ser, por hora, de um tamanho que eu ainda me reconheça, que ainda saiba me encontrar no passado ou um dia no futuro. Quero ser humana, quero ser carne e osso, quero sentir, quero tocar... quero poder ser isso que sou na medida qualquer do tempo, estar sempre pronta a me recompor das tempestades. Não devo estar tão errada... Há tanta água no oceano que se deixa evaporar pelo único prazer de voltar a ser uma gota de chuva."

"Vontade de me apaixonar, de ser vencida por um olhar,
de ser roubada por uma mão que me pega na cintura,
de ver alguém me descobrindo com ar de surpresa,
de perder o raciocínio para o pensamento em alguém,
de não enxergar distância entre os dois lados da cidade,
de me arrumar por algum motivo a mais que o trabalho,
de ter disposição para encontrar músicas novas,
de ler uma poesia e saber que seria possível vivê-la,
de encontrar alguma graça em passar pelo domingo,
vontade de ser encontrada em uma multidão de vazios,
vontade de que fosse agora e para sempre.
Preciso te achar desesperadamente
e é tão pouco e quase próximo...
o que nos separa são os encontros."

Se eu não chegar a tempo
Se eu não resistir até o próximo dia
Se eu embarcar sem aviso
Se eu tomar chá de sumiço
Guarde esse pequeno escrito
Que pode até não ser bonito,
Mas que fiz pensando em você
Então, se eu desaparecer
Lembre de relê-lo sempre
Para não esquecer da gente
Para me manter viva em ti
Relembrar da forma que sorri
Enquanto te escrevia esse verso

"Guardo meu coração para depois, ainda não sei o que fazer com a parte que era tua."

Oração
Às vezes eu peço a Deus para te esquecer, mas lá no fundo, o que eu queria pedir mesmo, era que você desse um sinal, mesmo pequeno, de que poderíamos tentar fazer tudo diferente dessa vez. Sei que o sinal não virá, então conto com Deus para conseguir prosseguir, talvez nem tanto feliz, mas continuar em frente

Me enchi de uma coragem que até então eu desconhecia, a suportei, não tremi, não gelei, nada, absolutamente nada, nem minha voz, nem ela que é tão delicada e doce como se ainda fosse uma criança, desafinou ou tropeçou:
- Amor, tu me ama?
Ele demorou, talvez mais do que eu pudesse ter suportado, era tempo de eu ter vivido e renascido centenas de vezes. Então por um momento, algo gelou, algo deu de voar para longe, e esse algo era uma espécie de esperança e medo, ainda não respondidos:
- Te amo, mas enfim que já é tão tarde...
Depois eu fui desmoronando, até entender que o amor era algo diferente de mim. Que o amor não tem a mesma urgência, a mesma crença e gana que eu tenho de me sentir viva, ou de apenas sentir.

eu acredito
que Deus não acredita
mais em mim...
não, eu nunca menti,
mas é que ao orar
eu sempre ri
em vez de chorar...
ele pensa que sou forte,
ele pensa que tá tudo bem,
e na verdade está...
Ele me olha de lá,
eu o cumprimento daqui
e dia desses, depois de tudo cumprido,
a gente se fala, a gente se acerta
se Ele deixar a porta do céu aberta
para essa pagã entrar

Ando na fase dos nãos. Talvez eu não quisesse passar por isso, mas ainda não encontrei um atalho, um desvio qualquer que fosse, desse tal destino que nos é entregado sem qualquer opção de escolha. Odeio o destino, odeio não ter controle, odeio não poder escolher os dias sem compromisso, os encontros que poderiam esperar pelo momento certo. Acredito que Deus tenha feito um ótimo trabalho com o mundo, mas e eu? E o mundo com milhões de “eus” e “outros” que carrego dentro do corpo? E os dias em que chove e meu pneu fura a mais de 50km de casa? E os domingos tão pacatos em que não saio e nem ao menos consigo escrever? E os compromissos em que me atraso porque não consegui decidir por uma roupa? Eu penso sobre inúmeras coisas. Penso se da mesma forma que eu olho o céu procurando Deus, será que alguma vez Ele olhou para baixo me procurando? Será que Deus orou para seu Deus por mim? Que fé Deus tem em nós? Por que essa dolorosa fase dos nãos? Do meu não-sentir, não-pedir, não-ir, não-falar, não-acreditar, não-seguir, não-responder, não-suplicar. Não arrisco, porque eu não tenho mais nenhuma crença. Não duvido, porque até o perigoso pensar das dúvidas me incomoda. Não olhar, não retribuir um olhar que me fita com alguma esperança. Não ser recíproca, porque eu tenho tão pouca coisa para dar, para partilhar, embora que o outro tenha tanta miséria também, mas ter um monte de nãos na boca, nos gestos, no falar, não é ainda mais miserável do que qualquer outra coisa? Não ir, não estar pronta para os novos amores e amigos. Não cogitar uma mudança. Não dar a possibilidade de chegarem muito perto. Não dormir, ter medo do escuro. Não acordar, ter receio da luz que pode mostrar as marcas da minha face. Não responder, dizer uma besteira que me faça ainda menor, ainda mais negativa. Não mexer, não limpar, não se desfazer das cinzas que transbordam o cinzeiro, da poeira que se agarra com as unhas nos quadros da sala, da maresia que deixa o vidro da janela encoberto, das frutas que amanhecem por dias seguidos sobre a bacia na mesa, das manchas de café na camisola ou no chão do escritório. Não dizer não ao não. Me acomodar a essa vontade do não mudar, do não orar por qualquer salvação.

Sair da vida de alguém
não é um caminho que segue
e sim uma estrada de volta:
desmanchar só um lado da cama, um prato
sozinho sobre a mesa, nenhum recado
colado na geladeira, a casa intacta, a louça
se acumulando na pia, madrugadas mais
frias.


Voltar,
até as esperanças ficam
nos retratos que serão recolhidos.
Voltar,
ter a mala vazia e estranhamente
mais pesada.

Há tanta água no oceano que se deixa evaporar
pelo único prazer de voltar a ser uma gota de chuva

Não há por que ter medo, disse. As coisas são mais simples, a maneira de olhá-las e de levá-las é que complica. Ore, é importante ter fé. Mas não pense que são as orações que trazem a salvação, a cura, o amor: nossos sonhos serão realizados de qualquer forma. Milagres não pertencem ao impossível. Milagres acontecem a cada segundo, a cada coisa imperceptível aos nossos olhos. Queremos as coisas rápido demais, sem entender que a primavera se prepara debaixo do chão frio, repleto de flores secas. As flores nunca morrem, deitam sobre o chão, se afundam na terra, e depois renascem. E isso não é milagre? Não é milagre entre tantas pessoas eu encontrar você? Não é milagre eu poder te ver de tão perto? Não é milagre meus olhos gravarem as expressões do teu rosto para levar por todos os minutos que tenho antes de dormir? Não é milagre tua mão delicada beijando a minha? Não é milagre eu poder te dizer todas essas coisas? Eu também não acreditava em milagres. Mas eu te vi um dia em que eu não tinha fé em mais nada. Mas eu te vi. E agradeci aos céus. Você era o milagre mais lindo que Deus colocou no mundo. Você não acredita, mas seu sorriso abre chances de mais um milhão de milagres para mim. Você me salva de um mundo comum. Você me dá um novo mundo quando acorda de manhã. Você quando sai pela rua, parece que vai pintando tudo de azul, você traz o céu para as pessoas. Você parece que lê um poema de Neruda ao decifrar um cardápio num restaurante de esquina. Você é tão doce quando está no seu auge para ser amargo. Você bebe um café com tanto cuidado como se fosse o último café que tomasse. Você dá para todas as coisas a chance de serem mais serenas e intensas. Nada conseguirá ser menos radiante depois da tua presença. Por causa de você tudo que existe é um milagre. Você entende agora? Você entende por que eu acredito em milagres? Eu tenho você. Eu tenho o que há de mais milagroso sobre toda face do mundo.

eu sei, eu não sei amar
por isso te peço tempo
e uma noite para me ensinar
todos os segredos e manhas,
as diversas artimanhas
para nesse jogo entrar
vem, me ajuda a aprender
como faço para me render
da forma que te agrada
vem, me doma e afaga
acalma um pouco das garras
da selvagem que eu sou

era como ele me fazia rir
não o riso, mas era como
ele me afundava as mãos
e me torturava de cócegas
nunca foram as gargalhadas
era essa maneira única em
que ele me tirava todo ar
e me matava por um triz
era como me fazia tão feliz
antes e depois de um sorriso

Meu corpo não é o mesmo. Algo dentro e fora de mim tem mudado. Mudado de forma, teor, intensidade e lugar. Algo em mim é transitivo de um futuro que não é o mesmo, de um ficar que não ficou aonde deveria. O amor não é para agora e nem é para ontem. O amor sempre esteve, sempre estará. O meu amor não foi embora junto com um rosto e uma promessa desfeita. Ele permanece e perpetua desde aonde vim e é ele também que me levará. Lavará. A chuva não é a mesma. Não sou a mesma, meu amor. Agora resisto, fortifico e resplandeço. Teu toque não mais me derruba, teu olhar não mais me devasta. Sou minha antes de ser tua.

Meu amor ainda é de ontem
Um velho amor adormecido
Não criou modernidades ou expectativas
Ainda é inocente em face do desconhecido

Meu amor tem uma história
Tem um gesto e uma palavra
Não renasce e se abre de um novo beijo
Ainda é algum encontro no tempo

Meu amor não é de, nem para agora
Vem comigo e espera
Não tem a pressa dos anos ou da paixão
Ainda é jovem mesmo sendo tarde demais

Meu amor virá por todos os poros
Da alma e se sobreporá a tez
Não trará da espera seu sentido de razão
Ainda será livre mesmo na sua entrega

Passo o dia inteiro pensando em você
Te imaginando de todas as maneiras, em mil lugares
Em todas as saudades que morro de ter
Te tiro e coloco na minha vida sem pedir licença
Assim como você invade minha cabeça
Faz da minha mente uma presa da tua face
Do teu cheiro e mãos que não tenho,
Mas tenho tanto para dar
Não só o pensamento
Também amor no peito
Acontecendo antes de você chegar

"Quanto se pode amar?
Se for amor mesmo,
não cabe numa vida...
e nem na gente."

"Nunca disseram adeus, nem até mais, nem qualquer outra coisa que desse possibilidade de um fim ou de um próximo encontro; terminavam as conversas com beijos, quando mais frios, com abraços. Talvez ele a ame. Talvez ela quisesse saber disso. Por causa da mudez das emoções que sentiam, eles não sabiam que destino davam a si. O bonito deles é a coisa mais simples em suas histórias: de alguma forma silenciosa e cheia de esperança, eles esperavam um pelo outro, embora nenhum pedido tenha sido feito."

se a gente se distanciar
em que lugar vamos parar
para não nos perder?

se você me esquecer
onde colocar tudo
que ficou pra viver?

se eu te procurar
em que lado do abraço
da vida você estará?

juro, amor, não quero ser imortal
não combina comigo, não tem nada ver
essa vida louca já me marcou dia e hora...
e mesmo que insistam, só aceito
se você for comigo,
porque se não vai ser castigo
passar a eternidade sem você...
ah, bem melhor morrer
do que sofrer uma infinidade inteira

ninguém acredita da forma
que a gente se cola e gruda
uma pele na outra, nuas
a coisa vira tão única
que nessa loucura
um corpo no outro
a gente tatua;
o que irão dizer
todos os sábios
quando souberem
que em um abraço
a gente ocupa
o mesmo lugar
no espaço?

Estávamos nus um frente ao outro. Não nos sentíamos tímidos ou envergonhados. Estivemos assim, despidos, desde a primeira vez. Aonde nenhuma palavra poderia ser duvidosa, nenhum gesto incerto. Nós possuímos uma verdade absoluta: não queríamos mais nada além de uma possibilidade. De uma chance que nos trouxesse a vida novamente. É bom estar nu na frente de quem se ama, nenhuma máscara finge a feição da face, nenhum pano esconde o que o outro já conhece a dedos e bocas. O corpo tenta esconder a alma, mas a alma também está nua, e dançando, na retina dos olhos.

uma música nos guarda
nos conta, nos canta
nos dança

nos une
quando a gente se perde
nos lembra
quando a gente se esquece
que amou
nos traz um passado
como um presente

uma música
é um segredo revelado

ah, eu desconfiei
juro que não acreditei
que eu ia me apaixonar
assim de cara
pela tua cara
por isso tudo
que era você

quem ia dizer
da gente se encontrar
disso acontecer
você tinha que ver
a hora que me fitou
quando se apaixonou
quando a gente se fez

Eu não quero perder nada
dos meus erros e acertos
é com muito tropeços
que se aprende a ser grande;
que em muito há de ser tolerante
que a fé sozinha não é o bastante;
quero passa por tudo, em tudo
aprendendo de todos;
calando mais meus impulsos
escutando mais de meu Deus;
porque daí eu sei
que eu vou estar pronta
e que amadurecer não é somente
uma questão se ter sorte,
que embora assim pequena
eu vou ter aprendido a ser forte.