Cacau Braga

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MAR DE ROSAS


Foi de súbito! De repente os sentimentos se viram quietos demais, parados no espaço como se estivessem num vácuo inesperado. Nada de intenso surgia pela mente que, como que em filmes de ficção, sentia-se sugada, oca. Só era possível captar paz. Os sorrisos, as cortesias, afagos, conquistas... tudo estava guardado na “meia-memória”. A lembrança tratou de jogar fora os maus bocados que pesavam inconscientemente. Tudo o que justificava a existência do rancor e dos males que o mundo trazia fora ignorado de uma hora para outra. Não como uma opção! Não! O corpo simplesmente resolveu tomar as suas providências, e os outros seres do mundo – todos eles!- fizeram o mesmo. Eu... Ah, eu... Que era dura feito uma rocha, azeda e inexorável, fiquei oca. Sim, oca! O conhecimento não encontrava uma forma de entrar em mim! Eu não precisava mais da educação que aprendi quando menina. Quem lembraria as minhas ofensas? As mentes livravam-se imediatamente das lembranças ruins, sem deixar tempo para tristezas, raiva ou revide. Então, como o previsto, era também o fim das reconciliações, desentendimentos, corações partidos, provas de amor... Aliás, o amor ficou seco, sem sentido. Se só existia amor, qual a importância que ele teria?

Então a vida virou um verdadeiro mar de rosas. Rosas penduradas num dos quadros da parede.

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JAVALI


Como quem lamenta muito ela me disse e eu imediatamente questionei:
- Um javali? Por que justo um javali?
Ela não tinha uma resposta, simplesmente deu de ombros e suspirou. Com tantos bichos no mundo ela queria justamente um javali?! Não fazia sentido algum para mim:
- Por que não um gato felpudo ou um cachorrinho pidão? Um coelho branquinho ou ainda uma chinchila?!
Ela jogou-me um silêncio que ecoou pela sala. Pensei que poderia dar-lhe mais opções:
- Tem gente que cria iguanas ou miquinhos. Já vi até cobra e aranha tratados a pão-de-ló!
Ela olhou-me fixamente:
- A escolha já está feita!
Eu dirigia e ela indicava o caminho. Faria a sua vontade, mas não teria como entender a estranha preferência. Pensava nos possíveis motivos... nada parecia razoável! Quem sabe não estava em busca de algum animal mais selvagem? Um tigre não seria melhor, nesse caso? Pelo menos seria extremante belo e com porte de felino, ao contrário de um porco desengonçado e peludo! Ela olhava através da janela ansiosa pela chegada, estava deveras decidida, mas eu ainda via um lamento naquele olhar:
- Tudo bem, nós vamos buscá-lo, eu respeito a sua decisão. Não precisa ficar assim...
- Você não entende... Eu quero muito esse javali, mas ele não me quer!
Pulou do carro nesse instante quase junto com a parada dos pneus! O lugar era aberto, um grande pasto. Ela andou devagar se aproximando de uma touceira e logo apareceram dois pequenos olhos no meio da vegetação. Eu não precisava de mais nada! Estava claro feito o sol... Cinco segundos olhando nos olhos do animal para entender o que ela sentia. Duas horas inteiras para concluir que eu também não saberia explicar!
Antes que se pudesse pensar, o javali sumiu por entre as árvores que rodeavam o pasto.

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A FALTA


Um vazio de palavras que não suporto! Os sentimentos por vezes são tantos que os pensamentos não acompanham de modo algum. Correm, mas não chegam! Indecifráveis verdades rondam meus dias... e as noites são absolutamente mudas. Dê-me ao menos notas ou sorrisos e lágrimas! Grite, mas esteja! Desvende meus olhos, oras! Mas, faça-me o favor: explique-me... se as palavras sumiram no exato momento da sua ausência, não acha que em algum bolso seu elas devem estar? Como então devo falar-te da falta que me faz se tudo o que me resta são letras esparsas? Complicado te encontrar... mais complicado ainda te deixar.

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Você

Com esses grandes olhos de jabuticaba

Grandes para mim...

Pretos como aquela noite

Quando o escuro aprendeu a ter luz, e ainda sim ser escuro...

Você

Que fala com as mãos, os pés, a nuca

Poupando a boca de muitas palavras

Esperando que os lábios só saibam beijar

Você

Um copo de vinho, um sofá e um filme

Tão previsível final

Inusitadas lágrimas

Você

E seus dedos encontrando as notas

Me procurando pela sala, talvez?

Você

Simplesmente comigo

Eu

Simplesmente com você

POUCO DE TUDO


Naquele momento a saudade esperava mais

Mais emoção

Mais vontade

E até mais agonia

A saudade achou que era muito grande

Mas o corpo reagiu de forma estranha,

Calmo demais

Ficou seco

Uma dorzinha contínua, mas fraca

A saudade não parou como deveria

Saudade estranha essa que fica mesmo quando não tem motivo de ser

Pois como sentir falta de alguém que está presente?

E como sentir tão pouco de tudo?

Vai ver não fazia tanto tempo...

Vai ver a importância era pequena...

Pode ser que até que nem merecesse emoção alguma

Mas, certamente, era saudade.

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COISA DE SEGUNDO


Passos lentos

Arrastados

Complicados

Confusos e silenciosos

Até o ar sai em silêncio

Como se precisasse se esconder

Como se fosse errado se mover

A boca nem se atreve a abrir

Mas também não consegue se manter serena

Fica tensa e mordisca os lábios

Enquanto os olhos acompanham tudo

Absolutamente tudo

Até o ar que não sai

Até a lembrança que não some

Até a água que deles não cai

E os passos...

Lentos...

Flutuam por falta de opção

Pelo menos até encontrarem outra vez

O chão.

Inserida por cacaubraga

No meio da noite
Sentada no banco
O banco que se esconde atrás do jardim
A madeira é aconchegante
Ela entende como a solidão é má
A madeira e a menina
A menina é má ou a menina entende?
Não importa
A lua não precisa de detalhes para consolar
A menina percebe que não está sozinha
Ela tem o gelo do banco e o rosto da lua
O rosto que a menina aprendeu a notar cedo
Via nele um rosto triste
Onde a mãe via um coelho

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Tinham cinco estrelas perto do chão, cada uma com um brilho diferente e o céu contemplava a luz que subia intensa!

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HAI KAI


O teto
Que vê tudo ao contrário
Entendeu você

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Esquecer, para mim, é tão natural que me espanta quando algo fica na minha cabeça! Se você é uma dassas pessoas das quais eu lembro sempre, pode se sentir um mistério!

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Tem muita gente tonta no mundo... Fazê o que, né? Se você não for tonto já está de bom tamanho!

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Legal é quando o que passou passa a ser só velho e o futuro passa a ser o presente!

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Se você não lutar pelas coisas que você quer e ficar esperando sempre o melhor momento pra tudo, vai acabar caindo no esquecimento. Enquanto você é dúvida, alguém é certeza. E é assim em todos os setores da vida.

Inserida por cacaubraga

Não existe nada mais sincero que um sonho.

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Artista não é aquele que consegue se imaginar num barco voando...é quem consegue fazer uma outra pessoa sentir que está dentro do barco também!

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Ele colocou as duas mãos na cabeça e sacudiu os cabelos. Ou seriam os pensamentos?

A noite começou a pesar nos olhos, mas os pensamentos não querem dormir...

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Cuidado: a vida não tem tempo pra quem não tem tempo pra vida!

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Se você fechar os olhos bem apertado, consegue ver a alma!

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Tem gente que antes de amadurecer, apodrece!

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Não adianta, não tem como ser indiferente à saudade...

Uma saudadezinha sem sentido algum...uma ponta de vontade de não sei o que...uma fome sentida pelos olhos ou pela pulsação...nada explicável, mas você entenderia se sentisse.

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A Cidade Cinza

Primeiro era um aperto. Ela descrevia como um enlace de duas mãos pressionando o coração, com uma delicadeza cruel e quase sádica. Sentia uma desorientação de sentidos, de pensamentos e buscava desesperadamente um abrigo num ponto qualquer onde o olhar pudesse sentir-se seguro. Era em momentos como aquele, distantes dela mesma, que a fraqueza de não se pertencer a vencia covardemente. Um dia, num desses perfeitos dias de sol talvez, ela levantará da cama, porá os pés na madeira agradável do chão do quarto e sentirá uma liberdade pura, a sensação de ser, de estar em si, de estar no mundo sem ser tomada por ele. Num domingo de sol... Num verão ou numa primavera... Num dia azul... E o aperto voltará? Ele virá com a chuva... Mas o sol sempre voltará a brilhar na grande cidade cinza.

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O criador de sonhos
Já era tarde da noite... A lua, que era sempre tão clichê, soava até original coberta pela neblina que entristecia o ambiente. Esse era o cenário que eu via pela fresta da janela. No outro ponto de luz fraca estava eu brigando com as pálpebras para manter-me acordado; sentado no chão, com as mãos em seus movimentos repetitivos emaranhadas nos finos fios de cabelo dela... Era do que ela gostava. Era o que a fazia dormir feliz. Eu não me importava com a constante batalha que eu travava contra o sono, nem com o frio do piso; eu queria estar lá quando o sono dela chegasse. E toda manhã, ela acordava, corria para o meu quarto como um gato e me surpreendia com um beijo. Assim aconteceu até o dia em que ela pacientemente esperou que meus olhos se abrissem sozinhos, e disse: “eu te amo”. Então eu soube que, enfim, a minha espera tinha valido a pena. Eu tinha entrado nos sonhos dela.

Inserida por cacaubraga

Hai Kai

O chorão
Condena à tristeza eterna
Todas as plantas da floresta

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