Buda
Não se deixem levar pelos relatos, pelas tradições, pelos rumores, por aquilo que está nas escrituras, pela razão, pela inferência, pela analogia, pela competência (ou confiabilidade) de alguém, por respeito por alguém, ou pelo pensamento, "Este contemplativo é o nosso mestre". Quando vocês souberem por vocês mesmos que "Essas qualidades são inábeis; essas qualidades são culpáveis; essas qualidades são passíveis de crítica pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao mal e ao sofrimento" – então vocês devem abandoná-las.
Tendo atravessado todos os quadrantes com a mente,
ele não encontra em nenhum lugar alguém mais querido do que ele mesmo.
Do mesmo modo, toda pessoa considera a si mesma como a mais querida;
por conseguinte quem ama a si mesmo não deveria ferir os outros.
Aqueles que dão importância àquilo que não é importante e que não dão importância àquilo que é importante, sustentando pensamentos errôneos, eles nunca alcançarão aquilo que é importante.
Fáceis de serem vistos são os defeitos dos outros, difíceis mesmo de ver são os nossos. Os defeitos dos outros são revelados como no ato de separar a casca do grão. Mas os seus próprios defeitos você esconde como o trapaceiro esconde a jogada perdida.
As ações ruins são difíceis de conter. Não permita que a cobiça e a raiva o arrastem para o sofrimento prolongado.
Não pela eloquência ou pela bela aparência uma pessoa é bela, se ela for invejosa, egoísta, enganadora.
Não é através do silêncio que alguém tolo e confuso se torna um sábio. Aquele que é sábio, como se tivesse uma balança, pesa e adota apenas aquilo que é bom.
Ocioso sem se esforçar quando deve – embora jovem e vigoroso –, tomado pela preguiça e pensamentos inúteis, não encontrará o caminho para a sabedoria.
Seja o seu próprio protetor, seja o seu próprio refúgio. Assim controle a si mesmo tal como um mercador a sua preciosa montaria.
Melhor não praticar uma ação prejudicial, pois uma ação condenável atormentará mais tarde. Melhor praticar uma ação benéfica – que, praticada, não atormenta.
Quem possui fé e virtude, boa reputação e riqueza, onde quer que vá é sempre respeitado.
Se pela renúncia a uma felicidade inferior é possível alcançar uma felicidade superior, que o homem sábio abandone a inferior pela superior.
Tal como a ferrugem originada do ferro devora ela mesma o ferro, assim também as próprias ações conduzem a um destino ruim.
Nunca houve, nunca haverá, tampouco agora há alguém que seja sempre censurado, ou alguém que seja sempre elogiado.
Quem substitui as ações ruins por ações benéficas ilumina o mundo, como a lua liberta das nuvens.
Não negligencie o bem maior por conta de outrem, embora importante. Saiba bem o que lhe traz benefício e dedique-se a isso.
Abandone o passado, abandone o futuro, abandone o presente, cruze para a outra margem. Com a mente liberta de tudo, não regresse ao nascimento e decrepitude.
Não imagino uma única coisa que, quando desprotegida, cause um dano tão grande quanto a mente. A mente, quando desprotegida, causa grandes danos.
Todas as ações são comandadas pela mente. A mente é o senhor delas, a mente é quem as fabrica.
Onde houver uma imagem, haverá uma ilusão.
O Deva então faz sua última pergunta:
– O que é que o fogo não queima, nem a ferrugem consome, nem o vento abate e é capaz de reconstruir o mundo inteiro?
Buda respondeu:
– O benefício das boas ações.
Caso um buscador não encontre um companheiro melhor ou igual, que ele siga resolutamente um caminho solitário.