o eco
do sonho
soa
no oco
da sanha.
sei
por que
escrevo:
escrevo
porque
não sei.
quero escrever o verso que ainda não me passou pela cabeça. o lugar da poesia é esse, onde ela sobra antes que aconteça.
Se a poesia só existe quando alguém a lê, quem é, de fato, o poeta: eu ou você?
Envelhecer é uma caminhada vespertina.
... e quem, enxergando, não anda amargo?
o que nos sobra na palavra sem
nos falta na palavra com.
poeta: ele é de poema; ame-o, pede ele
o irreal é veraz:
na distopia de hoje,
nem com foto o fato apraz.
o fato em sinuca:
o boato envelhece,
mas não caduca.
vivo cada ano inteiro
como quem espera uma porta
entre dezembro e janeiro.
vírgula:
contenção da saudade,
gagueja o agora com serenidade.
a saudade não tarda, mas entardece.
quando a vida diz não, percebemos que, fora da nossa ilusão, quem fomos já não seremos.
No triste cenário do nosso tempo, ao homem, do ódio em que decai só resta o ópio.
sem saber
aonde ir ou
o que ser, fui.
temo:
quem muito high
muito cai.
verão, outono,
à poesia
qualquer dono.
o tempo rabisca
ele mesmo
em meu corpo
e é fácil ver
em meu rosto
o seu autorretrato.
ninguém crê num poeta
menos que o próprio em si.
minhas dicas de leitura
num mundo pelo contrário:
decoro, razão e piedade
(os verbetes do dicionário).
como ter sido quem fui sem ter ido?
como ter ido onde fui sem ter sido?
ao ódio sustenido contraponho amores bemóis.
o sorriso é um idioma sem pátria.