Bruno Guilherme Fonseca
Sou meus heterônimos, um amontoado de seres desprezíveis e belos. Sou a criança que sorri e o velho que rabuja. Algumas partes de mim são alcoolizadas, outras são bem sensatas. Algumas partes de mim não sou eu, são partes. Se tiver que falar de mim, então cite todas elas.
Quero o excesso, numa inevitável contradição evolutiva, ao invés da covardia das palavras entaladas... Ser calado é falta de ser!
Só peço sua certeza de hoje, ainda que mude amanhã. A dúvida é eterna, corrói a alma, empaca a vida e empata a foda. E o pior, me alucina!
Acho o silêncio estimulante! É tão mais fácil entender o que está acontecendo quando o olhar desvia, a testa enruga. Palavras em seguida, só para tirar prova do que o coração já sabe. Palavras só depois.
Hoje me sinto neutro nesta vida, intersecção de duas coisas que não deveriam se misturar. Neutro com o peso de estar entre.
Nós, homens, acabamos sucumbindo aos caprichos patriarcais, nos privando de uma choradeira feminina e torrencial, que muito poderia aliviar os ânimos.
Não sou um apaixonado nem de primeira viagem, nem de segunda viagem. Na verdade é isso: sou um apaixonado assustado de trinta turbulentas viagens. Hoje perdi a direção, remo espalhafatoso e desengonçado num mar de querer.
Às vezes, na paixão, a porta de saída é menor que a de entrada.
Às vezes não tem porta, tem muro. E o muro para pular é maior na hora de sair.
Nada mais é a paixão do que um lugar imaginário que você está, depois sai. Que você se coloca por diversas e absurdas razões.
Que eu te esqueça na velocidade que comecei a lembrar. E que você lembre com a rapidez que esqueceu. E, no meio tempo, que a gente se encontre novamente e tente outra vez.