Blaise Pascal
Não podendo fazer que se fosse obrigado a obedecer à justiça, fizeram que fosse justo obedecer à força.
O aumento do conhecimento é como uma esfera dilatando-se no espaço: quanto maior a nossa compreensão, maior o nosso contato com o desconhecido.
Quando penso na pequena duração da minha vida, absorvida na eternidade anterior, no pequeno espaço que ocupa, fundido na imensidade dos espaços que ignora e que me ignoram, aterro-me e me assombro de ver-me aqui e não alhures, pois não há razão alguma para que esteja aqui e não alhures, agora e não em outro qualquer momento. Quem me colocou nessas condições? Por ordem e obra e necessidade de quem me foram designados esse lugar e esse momento? Memoria hospitis unius diei praetereuntis. (A lembrança de hóspede de um dia que passa. Sabedoria, V, 15.)
Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. E maravilho-me de que não se desespere alguém ante tão miserável estado. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e me respondem pela negativa; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.
O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora. Quantos reinos nos ignoram!
Por que são limitados meu conhecimento, minha estatura, a duração de minha vida a cem anos e não a mil? Que motivos levaram a natureza a fazer-me assim, a escolher esse número em lugar de outro qualquer, desde que na infinidade dos números não há razões para tal preferência, nem nada que seja preferível a nada?
Quase que invariavelmente as pessoas formam suas crenças não baseadas nas provas, mas naquilo que elas acham.
Temos uma impotência de provar, invencível a todo o dogmatismo; temos uma idéia da verdade, invencível a todo o pirronismo.
Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno.
Com o tempo lembranças da nossa amizade serão apagadas das nossas memórias , mas lembranças da nossa felicidade sempre ficarão na história O passado e o presente são apenas meios , para nós , nosso fim é sempre o futuro. Por isso , nunca vivemos de verdade apenas esperamos viver...
E assim é o ser humano: tão vazio que se preenche com qualquer coisa, por mais insignificante que seja.
Nós somos tão necessariamente loucos que seria estar louco por uma outra espécie de loucura, não estar louco.
Não é no espaço que devo procurar minha dignidade humana, mas na organização do meu pensamento. Não me fará bem possuir terras. Pelo espaço o Universo me agarra e me engole como uma partícula; pelo pensamento sou eu que o agarro.