Bibiana Benites
Ele, que me possibilitou experimentar a alegria que é ser amada. E como eu fui. E como eu sorri, gritei, amei, dancei, corri, brinquei na praia e na chuva. Doei-me. Doeu.
Se até hoje eu te lembro, te falo, e te sinto, confesso: eu ainda te encontro em algumas canções, em algumas fotos. É fato. Eu fiquei com um pedaço da parte tua, por que foi minha um dia a parte inteira. Nada mais justo. Eu ainda me vejo naquele filme, correndo, brincando, sorrindo e sendo feliz na praia, na areia, no mar, mas a imensidão que se tornou essa distância, não há tempo que possa resgatar. Agora. Aqui. Não mais. Hoje, meu tempo é outro.
Minhas amigas tiveram mais que uma parcela, elas integraram pedaço pós-pedaço. Elas foram às palavras que eu precisava ouvir, elas foram os abraços que eu precisava sentir, elas foram as músicas que eu precisava me permitir ouvir sem me doer. Elas foram meu silêncio, minhas fossas, minhas crises, meu isolamento, por vezes ininterrupto. Elas foram a melhor compreensão que eu poderia descrever.
Elas ainda são tudo o que tenho. Tudo o que eu sempre quero ter.
Arriscamos o abandono do nosso jardim de certezas, jardim de risadas, de mimos. Tão nossos. Sim, eu e aquele moço tivemos muitos. De todos os timbres. De todos os jeitos. Caras e bocas. Éramos festa. Fazíamos uma, juntos.
Caio Fernando Abreu nos diria: 'Desapegue. Pessoas gostam do que não tem!'.
Em outras palavras: Se você estiver sempre disponível, ele não vai te querer. É isso.
Se quer vir que seja para transbordar, colorir, perfumar. Mas nem chegue se for pra deixar o gosto ácido de saudade na boca depois.
Era só daquele abraço e daquela mão, entrelaçada na minha, que eu precisava. Era de você, moço. Era daquele sorriso, tão largo e tão teu, vindo de encontro ao meu. Lindo sorriso.
Bem que eu queria que tivesse sido só uma brincadeira. Assim a gente se poupava de sofrer tanto no fim. Mas não. Foi mais. Foi amor.
E eu te quis por perto. Eu te quis. E isso tocou diferente de todos os meus quereres anteriores. Você tocou. Você, moço, veio com a intenção de ficar. E ficou.
E foi quando eu descobri que já te conhecia. Mesmo antes de te conhecer. E já te amava. E já te queria perto. Porque era você. Era nós.
Não é birra, teimosia ou autossuficiência. É que eu apenas não te quero mais. Eu não quero mais você esparramado nos meus discos. No meu quarto. Entre os meus livros. Na minha vida.
Moço, obrigada por entender que aquele dia, o meu silêncio só precisava 'conversar', de rosto colado, com o teu.
Quando eu olhei pra ele, pensei baixinho: - Era daquele abraço que eu estava precisando. E dele. Dos dois. E só.
Sentimental é pouco pra mim. Eu sinto tanto pelo outro. Pela dor dele. Pela perda dele. Pela solidão dele. E sofro tanto com isso, também. Por ser assim: extremamente exagerada no quesito sentir.
Existia um transe tão bacana entre a gente. Existia sintonia. Existia uma 'coisa' que pouco a pouco ganhava movimento. Existia eu e você. Existia Poesia, moço. Existia uma vontade, tão bonita, de que desse certo.
Que eu nunca perca essa mania de desenferrujar sorrisos por aí. Que eu continue colhendo. Acreditando. Sonhado. Que pessoa alguma me faça amarrar a tristeza dentro. Porque de agora em diante, eu quero mais. Gente que me acrescenta. E menos. Bem menos sentimentos e/ou pessoas, que me diminuem.