Beto Acioli
Pelas madrugadas
Em madrugadas outonais,
regidos pela escuridão,
voam pássaros,
livres como os meus delírios...
Sob as penumbras do Eu
a voz do silêncio me diz tantas coisas...
ouço o que as vozes falam,
sem me importar em enxergar,
sem nem desejar saber
do dia que se aproxima...
no açoite do limiar
sinto destroçado tudo o que passou,
mas inda sigo seguro
pra prosseguir em meus passos
noutras madrugadas,
sem ter grilhões de impérios...
pra nutrir os meus delírios
e os libertar,
deixar que eles tomem asas
como os bacuraus
contemplando a noite e os seus mistérios...
Pensamentos meus
Passam-se os dias em correnteza,
e o silêncio testemunha
tudo o que morre em nós...
entre sombras e luzes,
o represado desejo de seguir,
na cruciante rotina de redescobrir caminhos,
nas tentativas de retomada dos passos estacionados...
Pode sim, ainda, haver forças,
das lutas enfraquecidas,
pode haver o perdão a todo o crucifixado,
moderações do egoísmo,
decoro às próprias vontades,
estiagem pra todo pranto...
Não é possível deter a correnteza
nem mesmo se desfazer
dos sentimentos retidos;
dos dias que foram apagados
nem dos silêncios contidos...
Não é impossível seguir
na luz de fluir desejos;
de ser inteiro e metade,
de não seguir paradigmas,
de acatar diferenças,
de triunfar em liberdades...
Outono
Pendurei roupas sujas no varal do tempo;
lavei a alma por esquecer por quanto o relógio girou...
A vida veio em tantas estações que já nem me lembro,
mas quando me dei conta
o calendário mudou,
meu olhos já viam
o que, no mundo, ocorria...
daí pude perceber
que o tempo pertence ao tempo...
os ventos varriam as folhas do chão...
traziam esperanças,
com novas cores, novos aromas...
como num leve sonho lembrei do varal,
porém, as roupas não existiam...
mas minhas lembranças do ontem
faziam crer na mudança;
foi assim o outono em mim...
Entregues à sorte os nortes são sempre incertos; destinos são inconsequentes; abismos , decerto, perto e a morte sempre iminente"
O maior castigo que se pode atribuir ao homem é o de se autocondenar por algo que fez em sã consciência.
Tão lastimável quanto o autoabandono é o ofuscante esplendor de mundos que giram, apenas, em torno de si.
...se os olhos de alagadiços espelham o que agora é fel, extirpo, da alma, o véu e fugo pro meu acouto... Sou barco em mar revolto e o meu porto é o papel.
Serve-me apenas um suspiro, um alento, para que haja o hoje, o sol; ao menos, um outro sonho, uma nova chance, um outro sopro de vida ou simplesmente um sorriso.
Acima das comunhões a vida é necessária... compartilhar de meu copo não me exclui do direito de beber de outras águas...
Recolho-me às minhas ideias, pois nelas cabe minha estância; tampo os ouvidos às sandices... bem preferia a burrice, pra que não sofresse aos tantos trambolhos da ignorância.