Beto Acioli
É salutar que se saiba aonde se quer chegar; viver sem pestanejar a história que n'alma caiba... há mal que nos descalabra de futuros infecundos, que traz por sopés profundos presentes vis, de bolores... mas com harmonia e cores desejo pintar meu mundo.
Que bom que há versos nobres de um latim esmerado e que no casebre ao lado residam os verbos pobres...
Se um ao outro descobre qual parentesco de rimas, os dois vivem o mesmo clima com liames e convergências...
Curvar-se é uma reverência e não uma subestima...
Deixe que alguém bata à porta
só pra dizer que chegou
ou que alguém lhe incomode
dizendo que vai embora...
abrace, se há o tempo pro abraço
aqui não há vida eterna
e a morte não marca as horas...
dê boas-vindas a quem chega
alente aos que vão embora,
partidas são mais doridas
quando não há despedidas...
o mundo muda seus ritos
e a vida vira também ...
primaveras sempre vêm,
mas nem sempre trazem flores...
Sejamos de intensos átimos, de fardos de pecados, ínfimos; multifacetados, lúcidos, cheios de planos e ladeiras...
..Sejamos de ações ou de ócios, de óxidos, dulçores e ácidos, de renúncias, de entregas e de voluntários vícios...
De mim sempre peregrino,
na busca de me encontrar,
teimando em perambular
sem nem saber qual destino...
com todo fervor me afino
à ideia de me entender
a assim me ver florescer
à luz que, a viver, me incita
c'o menino qu'inda habita
todo meu jeito de ser...
Sou fiel à minha essência,
quem lê-me, vê o meu reverso,
e que há verdade em meus versos,
que imersos em incontinências
revelam inobediências,
mas sem ninguém contender...
e sem dar o braço a torcer,
verso só o que a vida dita
c'o menino qu'inda habita
todo meu jeito de ser
Meu coração pulsa firme
transbordante de alegria
com essa pueril euforia
de sentimentos sublimes
não existe pecado ou crime
se, no imo, deixar morrer
o que nos faz adoecer
e ter uma vida bendita
c'o menino que inda habita
todo meu jeito de ser
De tanto exalar malícia
nas fendas do mundo-cão,
por falta de compaixão
o homem é só imundícia,
mas quem guarda em si primícias
faz todo mal dissolver...
pretenso a melhor viver
e de esperançoso grita
o menino que ainda habita
todo meu jeito de ser...
O menino que ainda habita
todo meu jeito de ser
e faz-me n'alma crescer
e a me afastar de desditas...
garimpo nele pepitas
de gemas raras e puras
é assim qu'ele me depura
e me purga d'arrelias...
que seja arma a poesia
pra vencer guerras futuras...
... nas saudades que me enfusca disfarço e o falso invento; sorrio sem brio, sem tento embora a minh'alma moa...
...tu'ausência me atordoa mas não me deixa vazio; sou como as águas de um rio que para o teu mar escoa...
Ando de pés descalço sob a loucura que me rege e em minhas juras de herege me oponho a ter pontos fracos...
Caça e caçador
O veneno destilado
dos deuses enfurecidos
me instiga a delirar
entre copos de torpor...
me faz ser o viajor
no que se diz ser pecado;
ser cordeiro desgarrado
e ser, só de mim, senhor...
de meus rincões, o estridor
sem o tino, ensandecido,
não dá, às razões, ouvidos,
me abre ao prazer e a dor...
sou o caçador sendo a caça;
vencido sou o vencedor ...
A saudade vem como as ondas do mar nas inquietantes idas e vindas; vem como a chuva que cai, engrossa, estia, mas noutras horas volta; vem como o vento que sopra e põe as coisas em desordem...
Diante o caos
Diante o caos vítimas e culpados se confundem; caminham lado a lado para a mesma vala; produzem e comungam sempre as mesmas pragas; ingerem e regurgitam do mesmo veneno... no ar, o oxigênio camuflado de fuligens tragam; a esmo, buscam noutras plagas, deuses obscenos... e nesse drama todo, toda droga deles nunca dragam.