Beto Acioli
"A paixão nada mais é que um estado permissivo de dependência, seja ela em qualquer grau ou de qualquer gênero." "Por mais sábio ou rude, todo ser humano é provido de uma bússola que a chamamos de "tino" e nem sempre ela é precisa, nem no ser mais sábio, nem no ser mais rude, mas ela sempre aponta para um norte."
"Somos complexos e enigmáticos como o mar ao tempo que volúveis e frágeis como são as breves ondas, de aparência imponente..."
Minha única convicção é que posso mudar de opinião a qualquer momento, conforme as coisas mudem de forma e as verdades se apresentem.
A perfeição existe apenas dentro de compatibilidades; o que parece ser perfeito pra mim pode não ser para outrem...
Lapidar-me-ei nas quedas, nas quebras de egos & orgulhos, purgando de mim as inquietações dos eus que não me pertencem...
Deixe que dores a minha alma corte, preciso ser forte pra poder crescer; preciso aprender com cada ferida a não me enganar e a me ressaber...
Deixe-me que falhe em cada investida; que dê a minha cara a tapas; que viva agruras e toda agonia e prove erros e decepções ...
Deixe-me que caia a cada esquina e estabane-me por caminhos falsos pisando pedras e espinhos; que voe céus de ilusão por anversos de mentiras...
Criamos os nossos muros nas diferenças e distâncias, o ódio e a violência; e as pestes que a todos pune... nosso egoísmo é a bala que fere e mata inocentes...
Construindo castelos sem úteis significados
nutrimos a nossa ganância; pisando os mais fracos, criamos a fome, a sede e todas as mazelas que as acompanham...
Fazemos guerras sob a testemunha dos nossos próprios olhos, criando mundos onde só o ego alcança; criando deuses institucionalizados e os templos dissolutos com cercados de pavor... o amor doado ao amado é de um falso altruísmo; o olhar ao necessitado voa a jato e à superfície...
Conspirações
(É inútil toda peçonha porque o bem vem aos bons)
Inda que te finquem as garras
com todo ódio e furor
que te interrompam o labor
e que disto façam farra
que ostentem de toda marra
com ranços de dissabor
que exalem n'alma o fedor
d'egos sujos n'algazarra
que tentem meter-te amarras
d'infernos te interpor
e imputem a ti dor
de suas asserções bizarras
sairás por fim vencedor
inda que te finquem as garras
e mesmo com toda barra
só urdirão a teu favor...
O amor
O amor é indefinível,
tem nele todo indizível,
difícil de se entender...
Tudo que dele se diga,
é, certamente, plausível,
mas não passa de clichê...
O amor vem de alma pura,
não veste-se de fuga ou medo
é forte tal qual um rochedo
não é doença, ele é cura.
Perene, pra sempre dura,
não divide, multiplica;
não se traduz nem se explica,
em palavras, sua essência,
mas se expressa na evidência
dos gestos de quem o sente...
A cor dos olhos não mente
quando irradia o seu lume;
no amor não cabe o ciúme,
mas sim respeito e lealdade.
O amor traz felicidades,
não a dor nem o sofrimento,
insegurança e tormento,
sentimentos doentios...
Se é amor tem que ser sadio,
ser livre e sem vencimento...
Há dificuldades em se entender a liberdade quando a mesma é deturpada pelo direito institucionalizado. A verdadeira liberdade não se arrima em deveres ou leis, mas requer direitos.
Das consumições
No solo
à lágrima caída e fecunda
espinhos de um filho
em subversão
partir no desleixo
é que, à parte, sangra
esfarelam sonhos
e a alma parte
não é só no puxo de mãe
que se sente dor...
também por amor
sofre um viajor
em seus flutuantes dias
vão-se luas
vêm destempos
e à luz dos silêncios
desaparição...
na busca tardia
é que se torna fria
tal conexão
ao voo ingrato
desdéns, rebeldia
fenece-se às chamas
o que noutrora havia...
Das contrições
Entre o gostar e o querer
há um mal sofrível:
o se arrepender...
vem a tristezas atônita
e o peito vazio
vem sentimentos de noites
sem amanhecer
e as vísceras sangram, aflitas
à cruciação
não existe o que mais fazer...
toda dor traz suas sementes
nem todo céu é de encantos
nem todo rio é de encontros
nem todo verso quer rimas
nem todo chão dá poesia
nem há amor que se plante
em terreno baldio.
Alma forra
Antes da delicada frieza
era devotado
também de atitudes arrojadas
com a deia em forma de mulher
que me arrebatou...
me fez, do mundo, declinado
um servo, aos seus pés, inclinado
de raios desembestados
que por fim surtou...
fui amante fiel endiabrado
de corpo, dessossegado
fui o louco mais apaixonado
e cativo do amor...
mas hoje sou barco imbicado
dali fui desacorrentado
co'as fenestras do ceticismo
que me alforriou...
Avatar
Pesares e abstrações
nos sorrisos que se fecham
como flores que emurchecem
e que brota escuridão...
às horas
de carrascais, solidão
que medram qual mata anã
e espinham o ser tão sertão...
Hoje
se abriu uma nova sazão
e fustigou madrugadas
a dor fez-se em refração...
ao despertar nova aurora
trouxe alma e um novo albor
e à luz, ser que novo aflora
com faíscas de manhãs...
afora
o nevoeiro insepulto
veio cores pelo ar
flores e azuis quintais
e o vento sem mais tropeços
levou o singulto embora...
Coração de pedra
Pedras perpetuam-se
e, em sua passividade, rolam
transformam-se
mudam de histórias
mas nunca perdem sua essência...
e o homem
com seu coração de pedra
tem inversa sua trajetória
e de inglória em inglória
em sua mortal existência
transforma o mundo
promove guerras
vêm pestes, fome...
no escuro
de sua parca consciência
e em sua operosidade
desmata e mata a terra
e a si destrói...
Evos de solidão
És como águas mortas
de um bruto solipsismo...
que nasce do egocentrismo
nos teus diques e comportas
e impede-nos navegar
nos teus rasos oceanos...
reflui desse imo insano
ardis de cunho vulgar
e lastra em teu caminhar
vislumbres de escuridão
de juízos inumanos
porto que ninguém aporta...
dédalo de tantas portas
sendas a comuns engano
contemplações do ser ufano
sugerem indefinição...
viajor de histórias tortas
em teu destino há respostas
pros evos de solidão...
Se é pra fazer justiça não há de haver eternidade pois o existir é ilusão; o mundo é de todo mal e seus frutos são ruins...
Mergulho
Não conheci profundezas
sem que ousasse um mergulho
desvelei embrulhos
de alvas belezas...
vivi mil proezas
soçobrando orgulhos
britei pedregulhos
grilhões de avarezas
em simplicidades
busquei alegrias
de vida & entrevindas
renovei folhagem
desprezei bagagens
de vãs incertezas
no mais, em asperezas
não saí dos trilhos...
se em tudo há um brilho
a tristeza é linda
quando o seu traje
se faz de poesias.
Vinho
que venha
o sangue tinto das vinhas
num cálice de bom espírito
pra que dores sejam breves
pra que fardos sejam leves...
e a cada trago tomado
que nos traga cores
aromas, tatos, sabores...
sorrisos & brisas, calma
um afago
lá nos refolhos da alma
também para que nos leve
e nos retome de volta
à essência incorpórea
que faz-nos sentir-se ser...
e termos
vicissitude de amores
na sensatez de torpores
preamares de prazer...
Blandífluo
Como se fosse gotas de sorrisos
a garoar sobre os meus ramos secos
fez florescer poesias em meus becos
frutificar no peito regozijos...
fez dos abismos um lugar sereno
e dos venenos antídoto preciso
fez da loucura alicerces do siso
e dos meus gritos bulícios amenos
trouxe vigor ao que era sacrifício
deu mais valor aos encargos pequenos
menos assombros ao devir difícil
como um repuxo e de viço pleno
varri balouços encontrando o alívio
e pra tristura fiz somente um aceno.
Morre, em mim, você
se extingue em mim
o olhar sedento
entreguei aos ventos
todo o meu fervor
em mim morre o amor
histórias em destempo
decurso de tempo
que venceu o querer
morre em mim a dor
saudades, castigo
hoje estou comigo
morre, em mim, você...