Bertrand Russell
Nenhuma opinião deveria ser defendida com fervor. Ninguém mantém fervorosamente que 7 X 8= 56, pois se pode mostrar que esse é o caso. O fervor apenas se faz necessário quando se trata de sustentar uma opinião que é duvidosa ou demonstravelmente falsa.
O universo é o que é, não o que eu escolher o que ele deve ser. Se é indiferente aos desejos humanos, como parece ser; se a vida humana é um episódio passageiro, quase imperceptível na imensidão de processos cósmicos; Se não há um propósito sobre-humano, e nenhuma esperança de salvação final, é melhor saber e reconhecer essa verdade do que se esforçar, na fútil auto-afirmação, em ordenar o universo a ser o que achamos confortável.
Se um homem pretende beber e ao mesmo tempo estar apto para o trabalho no dia seguinte. Julgamo-lo imoral se ele adota o rumo que lhe proporciona a menor satisfação do seu desejo (...) está claro que o código moral de qualquer comunidade não é definitivo nem auto-suficiente, mas deve ser examinado com vistas a descobrir-se se é tal qual o que a sabedoria e a benevolência teriam decretado. Nem sempre os códigos morais foram impecáveis (...) as normas morais não deveriam ser tais que tornassem impossível a felicidade instintiva.
Se eu sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada.
A felicidade não deixa de ser verdadeira porque deve necessariamente chegar a um fim; tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor por não serem eternos
Quando um homem age de maneiras que nos incomodam, desejamos considerá-lo mau. Nós nos refutamos a encarar o fato de que seu comportamento irritante é o resultado de causas antecedentes que, se você as seguir por tempo suficiente, o levará além do momento de seu nascimento e, portanto, a eventos pelos quais ele não pode ser responsabilizado por qualquer estiramento da imaginação. Quando um automóvel não liga, não atribuímos seu comportamento irritante ao pecado. Nós não dizemos, você é um carro perverso, e você não pode ter mais gasolina até que você vá.
Dos primórdios da civilização até quase os dias de hoje – e ainda hoje na China e no Japão – os pais têm sacrificado a felicidade de seus filhos no casamento ao decidir com quem se casarão, escolhendo quase sempre a noiva ou noivo mais rico disponível. No mundo ocidental (exceto em parte na França) as crianças libertaram-se dessa escravidão pela rebelião, mas os instintos dos pais não mudaram. Nem a felicidade nem a virtude, mas o sucesso material é o desejo de um pai médio para seus filhos. Ele quer que seja de tamanha relevância que ele possa se vangloriar dele para seus amigos, e esse desejo domina em grande parte seus esforços para educá-los.
O governo pode facilmente existir sem leis, mas as leis não podem existir sem governo.
Historicamente, a existência de Jesus é duvidosa, se ele realmente existiu, não sabemos quase nada sobre ele. Portanto, não me preocupo com o aspecto histórico.
"Devido à identificação da religião com a virtude, juntamente com o facto de a maioria dos homens religiosos não serem os mais inteligentes, uma educação religiosa encoraja os estúpidos a resistir à autoridade dos mais cultos, como aconteceu, por exemplo, quando o ensino da doutrina na evolução foi declarado ilegal. Até onde me lembro, não há em todos os evangelhos uma única palavra em louvor da inteligência; e, a este respeito, os ministros da religião seguem a autoridade evangélica muito mais rigorosamente que em muitos outros aspectos."
- Bertrand Russell: Educação e Sociedade (Lisboa: Livros Horizonte, 1982), pp. 68-77.
O medo coletivo estimula o instinto de rebanho e tende a gerar agressividade contra aqueles que não são considerados membros do rebanho.
A matemática é um estudo que, quando partimos de suas partes mais conhecidas, pode ser continuado em uma de duas direções opostas. A direção mais conhecida é construtiva, rumo a uma complexidade gradualmente crescente: de números inteiros para frações, números reais, números complexos; de adição e multiplicação para diferenciação e integração, e adiante, para a matemática superior. A outra direção, menos conhecida, procede, por análise, rumo à abstração e à simplicidade lógica cada vez maiores; em vez de perguntar o que pode ser definido e deduzido do que é inicialmente suposto, perguntamos que ideias e princípios mais gerais podem ser encontrados em termos dos quais o que foi nosso ponto de partida pode ser definido ou deduzido. É o fato de seguir essa direção oposta que caracteriza a filosofia matemática em contraposição à matemática comum.
Muito do que se passa como o idealismo é ódio disfarçado ou amor disfarçado de poder.
Eu tendo a me considerar um agnóstico; mas, para todos os propósitos práticos, sou um ateísta. Eu não vejo a existência do Deus cristão como sendo nem um pouco mais provável que a existência dos Deuses do Olimpo ou de Valhalla. Ilustrando de outra forma: ninguém pode provar que não existe, entre a Terra e Marte, um bule de porcelana girando em uma órbita elíptica, e no entanto ninguém vê este fato como provável o suficiente para ser levado em conta na prática. Eu vejo o Deus Cristão como igualmente improvável.
O problema do mundo é que tolos e fanáticos estão sempre cheios de convicção, enquanto os sábios estão sempre cheios de dúvidas.
Nota: Apesar de muitas vezes atribuída, de forma errônea, a Charles Bukowski, trata-se de uma paráfrase de Bertrand Russell.
...MaisO que o mundo precisa não é de dogma, mas de uma atitude de investigação científica, combinada à crença de que a tortura de milhões de pessoas não é desejável, seja ela infligida por Stalin ou por uma divindade imaginária à semelhança dos que acreditam.
"Homens cruéis acreditam em um deus cruel e usam sua crença para justificar sua crueldade. Somente homens bondosos acreditam em um deus bondoso, e eles seriam bondosos de qualquer maneira."
Ao observar o mundo, você percebe que cada pequeno avanço no sentimento humanitário, cada melhoria na legislação criminal, cada passo para a diminuição das guerras, cada passo para um melhor tratamento das raças não brancas, ou cada mitigação da escravidão, cada progresso moral que houve no mundo, foi consistentemente combatido pelas igrejas organizadas do mundo.