Autran Dourado
Às vezes vou escrevendo tão calmo e tão vagaroso, tão simples e silenciosamente, que penso atingir a morte, a nulificação, o Nirvana oriental.
Um autor só é autor no momento exato em que escreve. Depois, passa a ser um leitor a mais de sua própria obra.
Se, após a escrita, um autor diz alguma coisa sobre o que escreveu, nada mais está fazendo do que um novo escrever.
A única coisa que um autor tem de verdadeiramente próprio é o corpo; o seu texto talvez não passe de paródias entrelaçadas, acumuladas...
Em cada autor há uma série de pequenos autores. O produto final é uma incógnita - o próprio autor, a suma.
A obra é um mito, fio de meada em direção ao incógnito final. O autor nunca vê, senão como um sonho (mito de um mito), o panorama do que fez.
De antemão não sei escrever qualquer coisa, vou no vai-da-pena.
A minha máscara se colou tanto à minha pele que virou o meu outro eu visto de dentro. Vale a ambiguidade.