Arthur Lima
BURACO NEGRO
Dias de uma mente duvidosa, repleta de perguntas e aspirações.
Há muito o que fazer, mas sem o poder de realizar muito.
Como um buraco negro, entre horizontes de vento e perdição.
Ambos são necessários para o equilíbrio. E assim como no abismo, na escuridão da gravidade, estão minha mente e meu coração nos dias de graves dúvidas.
Como se estivesse em um buraco profundo, onde nem mesmo sei o que há lá.
E nesse buraco falta brilho e luz. Contudo, existe sim a luz que permite ver.
Persisto em olhar para a escuridão, sem ter visto antes o clarão dos eventos.
É renovação. Antes que tudo se destrua, há brilho, muito brilho, e tudo permanece em seu lugar.
Então, revivo e necessito apenas de ver isso.
Antes de cair no buraco e, como a luz, nunca mais voltar.
MATINAR
Sempre que há disposição, também vêm as coisas que não podem ser ignoradas.
Isso não se consegue deixar nem por um dia. Porque nas madrugadas, de um dia para o outro, surge um acúmulo de ideias. Isso se torna um desejo, algo habitual.
Sempre que vem a sensação de sossego, não é difícil também sentir alguns lapsos. Não nego que a concentração de tantas ideias traz também prejuízos. É imersivo. Nesse tempo chega a saudade, e não sei se sentir saudade é bom ou ruim, duvido que você saiba dizer.
Também lembro de tempos ruins que foram vencidos, enquanto imagino que estamos acordados em busca de novas ideias, o que pode facilitar a noção de ruim ou bom. Todo mundo foi essa pessoa que mudou de ideia exatamente por causa desse espaço de tempo.
Acho que isso não tem limite, idealizar tanto para que não se consiga mais.
Aí parece que o silêncio grita e diz que isso deve ser aproveitado enquanto ele continua gritando. Percebo que é possível dizer muitas coisas no silêncio, assim como ver outras no escuro.
Concluo que em momentos diferentes, isso não seria possível, mas só nas madrugadas.
Madrugadas habituais.
APERTO
Já seguro minha saudade por muito tempo.
Na verdade, eu não tenho muito o que fazer com ela.
Ela se dissipa um pouco quando o sol está bem forte.
Eu a carrego no peito, que chega a doer.
É como um peso que eu carrego; eu só não queria carregar aqui no coração.
É mais fácil carregá-la no braço, um auxilia o outro.
Infelizmente, quem auxilia meu coração é minha mente. Infelizmente.
Meu coração trabalha como nunca, num esforço tremendo.
Acho que nem ele passa bem; ele anda muito apertado.
Por vezes, sinto-me muito cansado.
Não sei dizer exatamente o que é.
Algo muito duro bate na parede do meu corpo, querendo sair.
Eu queria estar num lugar distante, eu queria pagar para beijar pessoas queridas.
Eu amo cada detalhe e cada rosto, e há um para mim que é mais do que inesquecível.
Muitas vezes, sinto-me preso, os meus pensamentos vão e vêm, batem-me como uma pedra na cabeça.
Procura-me na tua saudade, se eu estiver lá.
Já não estou lá, fui-me embora.
2/6/23
MEU AMIGO
Hora ou outra, não consigo dormir, não consigo dormir.
Mas ultimamente, o que mais sinto é sono.
Vontade de deitar sempre.
Meu sono, meu amigo.
Ele me leva pra longe, e às vezes pra onde eu quero ir.
Me tira da realidade, e bofeteia todos os demônios.
Ele me dá a mão e me ajuda.
Bem na inércia, vi tantas coisas.
Vi quem eu mais queria ver e então abri um sorriso.
Pena que quem me traz é ele, o sono que me guarda.
Eu fui dormir.
Talvez eu não esteja vivendo o melhor dos meus dias.
Nesse mundo caótico, nem sei como agir.
Acho que vou levando os dias como se leva os olhos.
Pra onde quer que o rosto aponte, é também pra onde meus olhos me levam.